O sétimo dia do Tour 2021 é algo pra ser guardado com carinho. Em uma etapa que tinha toda cara de uma clássica Monumento (talvez uma mistura de Milan-Sanremo com subidas como as da Liege-Bastogne-Liege), foram diversas histórias e acontecimentos inacreditáveis para destacar. A primeira, claro, é do vencedor. Matej Mohoric (Bahrain Victorious), outro Esloveno (o terceiro a vencer no Tour), foi o vencedor em uma etapa em que faltou fôlego até pra quem assistia. 249 km e cinco subidas categorizadas. A primeira metade era majoritariamente plana e o final, uma montanha russa até chegar em Le Creusot. Uma guerra física e mental pela vitória na etapa, pelas camisas de líderes e na Classificação Geral. Em dias como hoje, é possível ver nitidamente como o ciclismo é um xadrez sobre rodas, cujo tabuleiro se estende por dezenas de quilômetros.

A Batalha pela fuga

Como era de se imaginar, os favoritos a Classificação Geral não tinham interesse na etapa de hoje, o que daria maiores chances para a fuga. Porém, isso não significa que largar o pelotão é tarefa fácil. Diversos ciclistas tentaram e a largada da prova já foi como uma guerra, que se estendeu por longos quilômetros até que um grupo enorme conseguiu descolar do pelotão. Entre os cerca de 30 atletas, nomes importantes como Wout Van Aert (Jumbo-Visma), o líder Mathieu Van der Poel (Alpecin-Fenix), Matej Mohoric (Bahrain Victorious), Philippe Gilbert (Lotto-Soudal), Mark Cavendish e Kasper Asgreen (Deceuninck-Quickstep), Vincenzo Nibali (Trek Segafredo) e Brent Van Moer (Lotto-Soudal), que também participou da fuga na Etapa 4, capturado nos últimos 200m.

A briga foi tão intensa que nas duas primeiras horas, os ciclistas cobriram mais de 100 quilômetros. Uma velocidade média de mais de 50km/h. O pelotão não conseguia reduzir a vantagem, que estabilizou entre 6 e 7 minutos entre os grupos. Cavendish, o líder da Camisa Verde, aproveitou e passou em primeiro no sprint intermediário, somando o máximo de pontos e ficando ainda mais isolado na liderança. Dever cumprido, Cav retornou ao fundo do grupo pra ganhar o máximo de tempo possível e terminar a etapa tranquila. Mais uma mostra de como a estratégia é essencial nos diversos campeonatos dentro do Tour.

A segunda metade da infernal etapa 7

As montanhas se aproximavam e o grupo continuava acelerado. 150 quilômetros percorridos em 3 horas. Um rolo compressor no coração da França, rumo ao leste. Faltando 87 Km, Brent Van Moer atacou e Matej Mohoric seguiu. O Belga da Lotto-Soudal sabia que precisava passar nas montanhas com vantagem pra não ser largado pelos rivais e Mohoric viu a possibilidade de ter um grande motor ajudando a revezar na fuga.

Mathieu Van der Poel tentou puxar no grupo para alcançá-los mas não foi o suficiente. Mohoric passou em primeiro no topo de Glux-en-Glenne, somando pontos na competição pela Camisa de Bolinhas. Enquanto os dois revezavam na frente, o grupo se despedaçava atrás. Cavendish foi uma das vítimas do alto ritmo nas subidas, em meio a ataques de Patrick Konrad (Bora-hansgrohe) e também de Nibali.

Campenaerts e Stuyven conseguiram alcançar os dois líderes enquanto que atletas eram largados pra trás no grupo do Camisa Amarela. Nas subidas seguintes, Mohoric seguiu somando o máximo de pontos e assumiu a liderança pela Camisa de Montanha. Victor Campenaerts (Qhubeka NextHash) não aguentou o ritmo e ficou pra trás. No grupo do líder, alguns ciclistas tentavam atacar, enquanto outros sobravam, mas uma coisa permanecia estável: Van der Poel e Van Aert marcavam um ao outro.

O campeão Belga era então, o ciclista mais próximo da Camisa Amarela e quer também ter o prazer de vesti-la. Ainda melhor se for para roubá-la do arqui-rival. Mas Van Der Poel descobriu seu amor pela Camisa Amarela e não vai entregá-la assim tão fácil.
Após um ataque de Wout Van Aert, Van der Poel o seguiu e os dois ficaram sozinhos entre o grupo da frente e o pelotão que vinha atrás, com o Camisa Branca Tadej Pogačar (UAE). Uma cena histórica: 7 títulos mundiais de ciclocross lado a lado. 4 de Mathieu Van der Poel que levava, orgulhosamente a Camisa Amarela e 3 de Van Aert que ostentava a tricolor de campeão Belga. Líder e vice-líder do Tour de France.

Na frente, Mohoric se livrou de Van Moer e Jasper Stuyven (Trek-Segafredo) e rodou solo pra cruzar a linha em lágrimas, numa vitória espetacular. O ciclista da Bahrain-Victorious, que teve que abandonar o Giro d’Italia após uma queda assustadora, conquistou a maior vitória da carreira menos de 2 meses após quase perder a vida. Coisas do ciclismo.

No grupo do Camisa Branca e dos favoritos à Classificação Geral, enquanto Primoz Roglic (Jumbo Visma) sofria e ficava para trás, Richard Carapaz (Ineos Grenadiers) atacou na subida mais dura do dia e rodou solo.

O colega de equipe Dylan Van Baarle, que estava na fuga, ainda tentou ajudar, mas Carapaz estava mais rápido sozinho e seguiu para a linha de meta com a cara no vento. O pelotão, com a ajuda da Movistar (que ainda guarda mágoas do Equatoriano pela saída da equipe), alcançou Richie na chegada, neutralizando o ataque do líder da Ineos Grenadiers.

Roglic foi o grande perdedor do dia, cruzando a chegada 3 minutos depois do grupo de favoritos e praticamente dando adeus à esperança de vencer o Tour. Ainda líder e com mais vantagem do que nunca, Mathieu Van der Poel agora é seguido de perto pelo rival Van Aert, que deve ter melhor resultado nas montanhas, mas nunca se sabe. Certo é que destes dois, nada podemos duvidar.

Pogačar segue tranquilo na pole position para defender o seu título do Tour. Os rivais vão caindo um por um antes mesmo das etapas de alta montanha e não há muitos que possam fazer frente ao atual campeão quando o tema é escalada. Entretanto, precisará de seu time para se defender e hoje, tivemos prova que esta é sem dúvida, a sua maior fraqueza. Talvez, a única.

Amanhã, uma etapa explosiva e que passa pelo Col de la Colombière antes da descida final. Que venham as montanhas!

(Fotos: A.S.O)

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