Mathieu Van der Poel (Alpecin-Fenix) e Biniam Girmay (Intermarché) podem ser as sensações do atual pelotão no Giro d’Italia, mas hoje foram doutrinados por um velho mestre: Thomas De Gendt (Lotto-Soudal). No duro circuito de Napoli, disputado como se fosse uma Clássica pelos ciclistas, o Belga da Lotto conseguiu encaixar-se na fuga, esperar o movimento certo ,enquanto os rivais lançavam ataques e contra-ataques e depois, manteve a distância para chegar e vencer ao sprint em um grupo reduzido. Uma aula-mestre de como vencer em uma grande volta. Coisa que ele sabe fazer muito bem.
Vitória de Thomas de Gendt @DeGendtThomas (@Lotto_Soudal) na Etapa 8 do #Giro #Giro105 https://t.co/CUrkJDNJXn
— BikeBlz (@BikeBlz) May 14, 2022
Lição 01: Nunca desistir
Apesar de ser um ciclista especialista em fugas e um dos nomes mais fortes do pelotão, a lenda de Thomas De Gendt tornou-se tão grande, que o pelotão dificilmente dá chances a ele de ir em uma escapada. Mesmo aos 35 anos e dez anos após a última vitória no Giro d’Italia, foi só nesta 8ª etapa que ele conseguiu descolar-se do grupo principal, depois de tentar nas etapas 4 e 7, também, sem sucesso. Foi necessária uma prova extremamente dura e agitada desde a largada para que ele fizesse parte de um grupo de 21 atletas, entre eles Guillaume Martin (Cofidis), Van der Poel, Girmay, Wout Poels (Bahrain), entre outros. Para vencer, tinha de ir ao ataque, estar na frente. Depois das acelerações de Van der Poel, o pelotão se quebrou completamente e a forte seleção se formou. A primeira parte estava concluída para De Gendt. Ele finalmente estava em uma fuga outra vez.
Lição 02: Esperar o momento certo
A corrida seguia rápida e nervosa, com subidas e descidas estreitas enquanto os quilômetros restantes diminuíam em ritmo alto. Nos últimos 40 quilômetros, uma chuva de ataques e respostas ainda mais intensos começaram. Van der Poel, Girmay, Mauro Schmid (Quickstep) e Wout Poels (Bahrain) principalmente, ameaçavam os rivais da escapada. Mas após algumas acelerações de Van der Poel e Cia, Davide Gabburo (Bardiani) atacou e pressentindo o bom momento, Harm Vanhoucke (Lotto-Soudal), Jorge Arcas (Movistar) e De Gendt juntaram-se a ele e começaram a abrir tempo do grupo seguinte. Enquanto os favoritos se entre-olhavam para decidir quem faria o contra ataque, a nova frente da prova se distanciava e dificultava a vida de quem tentasse buscá-los.
É a segunda vitória de etapa no Giro d’Italia para Thomas De Gendt, que também já venceu no Tour de France e na Vuelta a España. Sua primeira vitória no Corsa Rosa foi no topo do Stelvio em 26 de maio de 2012. De Gendt, com 35 anos, é o segundo mais velho vencedor de uma etapa do Giro, depois de Lucien van Impe, que tinha 36 anos quando venceu em Pietrasanta em 1983.
Lição 03: defender a vantagem e finalizar com força
Enquanto Van der Poel hesitava em buscar a tope para não dar carona aos rivais, na frente, De Gendt sabia que caberia a ele como principal nome, a tarefa de defender e manter a vantagem conquistada e evitar que os dois rivais que ele tinha no momento (Arcas e Gabburo) virassem muitos mais. Os últimos 20 quilômetros foram um cabo de guerra entre o grupo 01, quase sempre liderado pelo experiente Belga da Lotto e grupo 02, de onde Van der Poel tentava saltar para a frente da prova, sem sucesso.
Era um grande grupo na frente com ciclistas da qualidade de Mathieu van der Poel e Biniam Grmay. Sabíamos que tínhamos que olhar para eles e seria difícil vencê-los. Conseguimos uma pequena vantagem e eu estava trabalhando para o Harm (Vanhoucke) para que ele pudesse atacar na subida, mas, no final, ele disse que deveríamos trocar de papéis. Eu tinha certeza de que ganharia o sprint dos quatro pilotos. Algum tempo atrás, eu não achava que ganharia uma etapa do Grand Tour novamente, mas aqui estamos”. – Thomas de Gendt
O quarteto da dianteira chegou junto e no sprint não teve chances a ninguém. Thomas de Gendt arrancou e em poucos metros abriu uma vantagem desmoralizante de quase quatro bicicletas de diferença. Ele deixou claro: era indiscutivelmente o dono da etapa de hoje, ninguém o venceria. Mais uma vitória daquelas de colocar na prateleira com um peso diferenciado. O tipo de história que só se percebe quando se conta. O tamanho deste ciclista é muito maior do que as estatísticas mostram e de valor intangível para o esporte. Deixando a lição de que dá pra vencer, mesmo sendo um homem marcado. Você só precisa de coragem, senso tático e muita, muita força bruta. Isso provavelmente não vai te render muitas vitórias, mas uma legião de fãs, com certeza. Que sirva de escola para os novos talentos. Chapeau e grazie, De Gendt. O Giro merece um vencedor como você.
Ganhei corridas em anos anteriores, mas senti que se tornou cada vez mais difícil estar em uma boa fuga. Só consegui fazê-lo pela terceira vez este ano. Há sempre bons ciclistas lá em cima. Hoje, novamente, foi o caso de Mathieu van der Poel e Biniam Grmay. Também sabíamos que todos iriam olhar para eles; normalmente todo mundo olha para mim. Aproveitamos isso. Eu tive azar e má forma nos últimos dois anos. Hoje provei que ainda sou capaz de vencer corridas. Foi um circuito muito bom hoje – algo como um campeonato, mas só posso falar do Campeonato Belga porque nunca ganhei o Europeu ou o Mundial. Acho legal fazer isso em um Grand Tour. Parecia uma Clássica hoje. Fez uma corrida atraente, não exatamente o que as pessoas esperavam.” – Thomas De Gendt
“Ganhei muitos céticos este ano. Pessoas que duvidavam da minha capacidade de ainda ganhar corridas, mas hoje eu silenciei meu maior ‘duvidador’. Eu mesmo. Eu não acreditava que ainda tinha isso nas minhas pernas, mas hoje eu provei que estava errado.” Thomas De Gendt 👊🏽 https://t.co/t1lHTEiQf9
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Fotos: Alpozzi/D’Alberto/
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