Como se organiza o ciclismo português? Como explicar o sucesso do João Almeida no ciclismo mundial? Porquê Portugal revela tantos ciclistas?
João é fruto de muito trabalho e outros como ele, podem surgir no ciclismo português a qualquer momento. Explico toda essa história abaixo. Vem comigo!
História
Para começar Portugal sempre teve grandes nomes no ciclismo e com capacidade para chegar ao mais alto nível. Ao longo das décadas nem todos conseguiram sair de Portugal, mas os que saíram acabaram nas melhores equipes. Ajudaram os melhores do mundo e nem todos tinham assim chances de liderar e de se mostrar como líderes. A história começa com José Bento Pessoa que foi participar e venceu o 1º Campeonato Nacional da Espanha em 1897.
Bento Pessoa foi o primeiro grande nome do ciclismo português, competia na pista e na estrada e cedo foi contratado por uma equipe para correr no estrangeiro, no caso uma equipe francesa. Sempre que corria vencia, foi um fenômeno sobre as duas rodas e o primeiro grande ídolo do ciclismo nacional e um nome incontornável no ciclismo europeu. Bento Pessoa era de Figueira da Foz, terra de Alves Barbosa, outro nome gigante do ciclismo por ter sido o primeiro português a ficar entre os 10 melhores no Tour de France em 1956. Além de Ribeiro da Silva que em 1957 correu o Tour de France e era visto como uma das maiores promessas do ciclismo mundial, o ‘Português Voador’ como ficou conhecido no L’Equipe, acabou morrendo no ano seguinte, aos 23 anos sob os olhos do mundo do ciclismo em cima dele.
Os grandes nomes
Mas muitos nomes se seguiram no ciclismo português, como Alfredo Trindade, José Maria Nicolau, Antonio Augusto Carvalho, Jose Albuquerque, mais tarde nomes como Joaquim Agostinho, Marco Chagas, José Martins, Fernando Mendes, Acácio da Silva, Orlando Rodrigues, Acácio da Silva ou José Azevedo. Todos estes nomes contribuíram para o crescimento do ciclismo português e em alguns casos para que certas regiões surgissem como regiões que hoje são históricas no ciclismo português e onde se trabalha e se desenvolve muito do ciclismo e dos jovens ciclistas da terrinha.
Sem dinheiro, porque as condições financeiras são bem inferiores se comparado a outros países, Portugal em termos de organização no trabalho dos mais jovens faz um trabalho exemplar.
O problema surge na chegada aos Juniores e a passagem para Sub-23, onde faltam corridas no curto calendário nacional para que eles consigam crescer, por isso é fundamental que eles saiam do país se quiserem traçar novos voos. Esse foi o caminho traçado por João Almeida, quando saiu para a Unieuro Trevigiani-Hemus, ou quando outros ciclistas foram para equipes como a Axeon. É fundamental que isso aconteça, principalmente para que tenham corridas para evoluir.
A base em Portugal é feito através de clubes de ciclismo
Falando na questão do ciclismo de base, não dá para falar de todas as regiões, ou de todas as escolas e academias, mas vou tentar destacar algumas que dá para se perceber como são importantes em algumas zonas.
Aqui na minha região de Santarém, chegou ao fim a academia mais conhecida, a Academia José Maria Nicolau, que foi fundamental na região do Ribatejo e na Zona Central, mas que acabou por perder espaço, dado que o dinheiro que era cada vez menor, mas existem muitas outras escolas na zona Central e o grande destaque é o Clube de Ciclismo da Bairrada que é presidido pelo ciclista português Nelson Oliveira, que está na Movistar. É um projeto de formação, projeto consolidado, que neste momento é o maior da região, que conta ainda com a Academia Joaquim Agostinho e juntas formam centenas de ciclistas na região.
No norte do país existe a União de Ciclismo da Maia que já foi uma equipe Continental e vencedora da Volta a Portugal, mas continua a ser um dos melhores projetos de formação em Portugal, contando com todas as categorias para os mais novos, o projeto que consegue detectar e potenciar os ciclistas desde tenra idade. Sem dúvida um projeto exemplar em que os jovens ciclistas se beneficiam de antigos ciclistas como professores e de tantos outros que com conhecimento os ajudam muito a progredirem.
No sul tivemos o Clube de Ciclismo de Tavira, mas entre vários outros projetos, vou destacar aquele que surgiu por último e que tem ganho cada vez mais espaço no ciclismo de base em Portugal: o Clube Ciclismo Amaro Antunes. É um projeto bem estruturado, que chegou com tudo e que vem progredindo de ano-a-ano e ocupou o lugar deixado por outras equipes e outros clubes que deixaram de ter equipes para os mais novos.
Fazendo muito com pouco
Existem várias associações, muitos projetos e mesmo que com muito pouco dinheiro, quase todas os pequenos lugares tem uma equipe de ciclismo, com poucos ou mais garotos, mas sempre existe uma equipe, uma associação, um projeto que organiza corridas, que cria eventos, que ajuda os mais novos a ganharem o amor pelas bicicletas.
Por vezes é um ciclista amador que dá a vida pelo projeto, em alguns casos está ligado a um ex-ciclista, ou a uma equipe maior, mas a verdade é que o ciclismo de base em Portugal tem muito, mesmo com pouco.
Ciclismo nas escolas
Os jovens não tem falta de projetos, existe uma equipe em cada “canto”, o problema acontece a partir dos Juniores e daí em diante quando começa a faltar apoios, projetos mais sustentados e profissionais, e principalmente corridas para que os jovens se desenvolvam, para quem busca uma carreira profissional. Se isso fosse um pouco diferente, o ciclismo português poderia crescer ainda mais, porque existe talento, base e capacidade humana para isso. Existe, história, talentos e existem equipes para passar a paixão pelo ciclismo.
A meu ver o que falta mesmo é a Federação mudar algumas coisas para que eles consigam dar o salto para o Profissional. A aposta no desporto escolar também é muito importante, os jovens usam materiais das escolas, podem fazer algumas corridas na “brincadeira” e são assim iniciados no ciclismo.
Outros Joões estão por vir
Além disso existe muitos eventos, chamados de “festas do ciclismo” para os mais novos e para toda a família, tudo isto é fundamental para que a paixão cresça, para que os jovens comecem no ciclismo e para que assim a modalidade nunca morra.
João Almeida não é um caso único, não é fruto da sorte, é fruto de uma base muito forte e competente que desenvolve talentos como poucos. Existem outros Joões que têm tanto ou mais talento, falta melhorar para que mais ciclistas assim possam aparecer.
Por este mês é tudo, por favor se protejam, se cuidem e espero que tenham gostado destes bocadinhos sobre a história do ciclismo português. Muito obrigado e até ao próximo mês para mais ciclismo e algo mais.
José Andrade é português de Santarém e torcedor do Sporting CP. Amante dos mais diversos e esquisitos esportes.