Talvez a gente esteja exagerando, é verdade, mas é evidente perceber o poder que cyclocross tem para chamar a atenção e prender o espectador nas suas provas. Ao criar um ambiente dinâmico, inesperado e muito diferente das outras modalidades do ciclismo, ele começa a chamar atenção para além do público tradicional do esporte. Para começar não existe nenhuma ‘Etapa de Transição’. A corrida é quente do início ao fim e o limite de 1h de prova a torna perfeita para a manter a atenção dos fãs. E se a lama estiver alta então, é diversão na certa!

História

Engana-se quem pensa que o esporte é novo. O primeiro campeonato nacional de cyclocross aconteceu na França em 1902 e foi inventado por um soldado! Seu nome: Daniel Gousseau. A curiosa ‘gincana’ logo se espalhou por outros países como Bélgica, Luxemburgo, Espanha e Itália. Originalmente chamada de “Steeple Chasing”, algo como “Desafio do Campanário”, que é como são chamadas as torres dos sinos das igrejas e que muito provavelmente serviram de destino como um marco local para indicar o fim da corrida. O típico: ‘ganha quem chegar primeiro na igreja lá em cima!’, mesmo que isso significasse escalar cercas e cruzar rios.

Claro que isso ia dar certo, mas apenas em 1950, a UCI sancionou o seu primeiro Campeonato Mundial de Cyclocross, já 48 anos após o primeiro Campeonato Francês. Mas hoje pode-se dizer que o esporte vem apresentando um crescimento muito rápido e atraindo a atenção cada vez maior de novos espectadores e praticantes. O cyclocross tem paralelos com as corridas de mountain bike, cross-country e criterium, tanto que o cruzamento de atletas de outras categorias, tem trazido ainda mais popularidade para a modalidade.

A maior rivalidade do esporte: Mathieu van der Poel x Wout van Aert (Foto Nachrichten)

As bikes

As bikes de Cyclocross são semelhantes as bicicletas de estrada: leves, com pneus estreitos (33mm) e guidon tradicional das bikes de speed. Suas diferenças estão na sua maior folga dos pneus, para passar a lama, marchas menores, quadros mais fortes e posição mais vertical. Elas também compartilham características com as bicicletas de MTB no sentido de que usam pneus biscoitos para melhor tração e claro, freios a disco.

Canyon Inflite CF SLX de Mathieu van der Poel

Além disso, as bikes também precisam ser leves porque os competidores precisam carregar suas bicicletas para superar barreiras, encostas íngremes e até escadaria para avançar na corrida. A visão de competidores lutando para subir uma encosta lamacenta com bicicletas nos ombros é a imagem clássica do esporte, embora as seções que não podem ser pedaladas sejam geralmente uma fração muito pequena do percurso.

O ciclista portanto precisa ter uma aptidão e uma técnica mista, precisando ser forte na pedalada, mas também saber correr por estes trechos onde não é possível pedalar, de maneira eficiente e ainda ser rápido para montar e desmontar da bicicleta.

Prontos para o Mundial?

No próximo final de semana (30-31 Jan) acontece em Oostend na Bélgica, uma cidade costeira, conhecida por sua longa praia e que inclusive fará parte do circuito, o Mundial da categoria que definirá quem veste a camisa arco-íris durante o restante do ano. A prova feminina acontece no sábado (30) e a masculina no domingo (31).

As disputas prometem ser eletrizantes com foco principalmente na rivalidade entre Ceylin del Carmen Alvarado, atual campeã e Lucinda Brand, no feminino e Mathieu van der Poel, também atual campeão e Wout van Aert, no masculino.

Wout e Alvarado terminaram como campeões na geral da Copa do Mundo, encerrada no último final de semana em Overijse na Holanda, mas é difícil apontar um favorito em ambas as disputas. No masculino, cada um possuí 3 títulos mundiais e no feminino, Lucinda Brand, nunca vestiu a camisa arco-íris, enquanto Alvarado briga para usá-la pela segunda vez consecutiva. Mas se tratando de lama e areia de praia, tudo pode acontecer.

Lucinda Brand brigará por sua primeira camisa arco-íris

Participarão ainda da disputa, o ciclista tcheco Zdeněk Štybar (capa), vindo do ciclismo de estrada e pioneiro nessa transição entre a lama e o asfalto, mas pouco provável que brigue na ponta que deve trazer para a disputa do terceiro lugar, o inglês Thomas Pidcock ou os belgas Toon Aerts, Michael Vanthourenhout ou Eli Iserbyt. Digo terceiro, pois é quase impossível tirar o título das mãos de MVDP ou WAA por tudo o que eles mostraram até aqui nas provas da Copa do Mundo. Mas tudo pode acontecer e eles terão todas as chances para brigar pela arco-íris se nada der certo para a dupla favorita, mas será uma grande zebra.

Já no feminino, as holandesas Manon Bakker, Marianne Vos e Denise Betsema, além da americana Clara Honsinger devem incomodar e tentar ficar na briga particular entre Alvarado e Brand. O certo é que se eu fosse você não perderia nenhuma destas provas. Como disse, o cyclocross vai dominar o mundo!

O percurso

O percurso terá 2.900 metros, dividido em 8 setores e acontece em Oostend na Bélgica e foi desenhando usando uma parte da área externa e interna do Jóquei Club da cidade, além de uma parte da praia do Mar do Norte e do seu calçadão. Os setores estão compostos da seguinte forma:

Grama = 1.326 m
Cascalho = 404 m
Areia = 565 m
Pontes = 400 m
Pavimentação de asfalto/concreto = 205 m

Detalhes do percurso

Ponte com 134 metros de comprimento no total. Sobe 39,5 metros e desce 52 metros. A diferença está no fato de a praia ser mais baixa. A inclinação é sempre de 21 %. (Fotos: Nico Dick/Wielerflits)

Onde Assistir

Por conta da pandemia não haverá disputa na categoria de Juniores, apenas da Sub-23 e da categoria Elite. As provas terão transmissão ao vivo no site da UCI, com sinal aberto para países sem transmissão oficial (caso do Brasil) e também no serviço pago GCN Race Pass (é preciso instalar um VPN para ver no Brasil) ou pirata no Tiz Cycling. Se você mora em outro país, confira aqui a lista dos canais que transmitirão as provas.

Sábado (30/01)
SUB-23 MASCULINA
13h30 (horário local)/9:30h (horário Brasília)

ELITE FEMININA
15:10h (horário local)/11:10h (horário Brasília)

Domingo (11/01)
SUB-23 FEMININA
13h30 (horário local)/9:30h (horário Brasília)

ELITE MASCULINA
15:10h (horário local)/11:10h (horário Brasília)


Foto de capa: Be Celt

 

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