Em um dia que começou muito cedo, eu nunca poderia imaginar tudo o que viria… Porque embora eu já estivesse feliz em saber que um dia antes, um Colombiano do estado de Boyacá (meu estado) havia vencido, os outros eventos que aconteceriam comigo, neste dia no deserto de Dubai, não passavam pela minha mente e o que a sorte havia prepado pra mim…

A manhã não poderia começar melhor, pois tive o prazer de cumprimentar e abraçar Einer Rubio (UAE), vencedor do dia anterior, dando-lhe os merecidos parabéns pela vitória e pelo seu aniversário, além de conhecer quase todos os Colombianos na prova (Gaviria, Tejada e Camargo) e com Tico Andrey Amador, que por muitos anos foi o gregário do maior ciclista da nossa história. E claro que estou falando de Nairo Quintana.  Ah, e também pude conhecer Joxean Matxin, que já é uma estrela do rock entre os gerentes do pelotão.

Com Fernando Gavíria

Normalmente o público não têm acesso a caravana ciclística, no entanto, neste país onde quase tudo é muito diferente do que estamos habituados, isso também o foi. Assim que cheguei ao local, as surpresas começaram.

Quando perguntei a logística do evento e onde começava a prova, me apontaram o local onde estavam todos os veículos, ciclistas, bicicletas e funcionários das equipes. Primeiro momento de êxtase! Senti-me como uma criança numa loja de brinquedos vendo à minha frente e ao meu alcance, tudo o que do canto do mundo onde cresci, só podia se ver pela televisão. Junimba vai gostar disso, pensei…porque já tínhamos ficado um pouco frustrados quando ele pediu minha credencial para cobrir a corrida aqui pelo BikeBlz, mas a organização nunca respondeu…

Então, sem outras ferramentas além do meu celular e com vontade de me divertir, tirei muitas fotos, fiz vídeos e um pouco de tudo para tentar transmitir de alguma forma, o que estava acontecendo ao meu redor. Já no ponto da largada, consegui fazer mais alguns vídeos, apesar de a maioria das equipes já ter feito a sua apresentação, pois me perdia entre ciclistas, bicicletas e staff atrás do palco.

Os contratempos não faltaram. Quando a corrida estava prestes a começar, eu estava tentando gravar a largada, mas o estrondo de um canhão que eles tinham ali, me assustou de tal forma, que o começo do vídeo estragou e tive que começar a gravar novamente. Agora é engraçado, mas naquele momento eu quase morri.

A corrida começou para os ciclistas e também para mim, que precisei tomar o transporte público da cidade para tentar chegar à linha de chegada antes deles. Enquanto eles iam e voltavam do deserto, eu procurava um ponto estratégico onde pudesse presenciar o final da etapa. Depois de pouco mais de uma hora de espera, chegou o momento. Ao longe, viam-se os ciclistas que chegavam rápido como um bando de gazelas na planície do deserto e como um raio, eles cruzaram a linha final. Que maravilha! Mas quem ganhou? Mesmo do lado da linha, onde eu estava, era impossível saber.

Fotos com os feras

Na televisão gritaram o nome de Gaviria e meu coração começou a bater mais forte, ao mesmo tempo que o meu celular tremia em minhas mãos. Todo o pelotão passou, mas ninguém comemorou. Foi um sprint apertado. Eu sabia que não era o Gaviria, porque o vi passar um pouco atrás dos líderes. Um pouco desconcertado, olhei em volta em busca de respostas, mas não havia novidades, então sem saber ainda quem tinha ganho, fui até onde estavam os ciclistas com a ideia de resgatar uma caramanhola, aquele precioso troféu que nós torcedores prezamos.

Enquanto recebia alguns, meu coração explodiu: Molano! Legal! Legal! Eu gritei…sim, Sebastián Molano (UAE) apareceu na tela sendo anunciado como o vencedor da etapa; um Colombiano havia vencido no mesmo dia em que participei pela primeira vez do Tour dos Emirados Árabes Unidos. Você se lembra Junimba? Você se lembra dele em Saint Laury Soulan, quando estivemos no Tour de France? Com emoção, me aproximei do pódio, esperando o momento em que o ciclista da UAE Team entraria em cena.

Enquanto eu caminhava no meio da multidão, o Cavendish apareceu na minha frente. Por que não aproveitar para pedir uma foto pra ele? Eu pensei… Já localizado na ala pública, esperei pacientemente até que anunciassem o vencedor no pódio, e como nas arquibancadas de um estádio de futebol enlouqueci gritando seu nome assim que ele apareceu no palco.

E enquanto passava a hora da premiação do Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) e dos outros líderes da corrida, eu ainda tinha um objetivo a cumprir. Como pude, desapareci no meio da plateia e fui procurar meu conterrâneo, o ganhador da prova, atrás do palco, na enfermaria ou onde fosse possível até encontrá-lo…

E lá estava ele respondendo a perguntas da imprensa. Assim que ele terminou, chamei-o, fiz um gesto para ele e quando se aproximou, eu disse: “Parabéns irmão, também sou de Boyacá, sou do norte, perto de Nevado e me sinto orgulhoso de ver você vencer aqui hoje!”, ao que ele respondeu com um sorriso largo: “Nossa, que legal irmão!” e então nos desmanchamos em um abraço que por sorte ficou registrado; Tiramos uma foto, enquanto do nada apareciam algumas pessoas, a maioria Colombianos (que nunca podem faltar em uma prova de ciclismo de estrada) para cumprimentá-lo e pedir a foto respeitosamente.

Foi um dia pra sempre.

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