Testemunha de Cyclocross. Foi assim que um nobre colega me chamou essa semana, depois de algumas tentativas de converter os incautos no Twitter a acompanharem as Copas do Mundo de Cyclocross (CX). E talvez seja uma boa definição. Quem melhor que alguém que sempre torceu o nariz pra modalidade até descobrir valor nela, para defender de quem ainda a esnoba?

Confesso que, nas primeiras vezes, não me agradou ver ciclistas em circuito e, por vezes, correndo com a bike nas costas e/ou subindo escadas. Simplesmente não fazia sentido. Por quê usar bikes em um contexto que não é apropriado para elas? Por que esse é o coração do CX. Essas bikes não deveriam ultrapassar esses obstáculos, mas irão.

Um esporte diferente e centenário

Não é Mountain bike nem Ciclismo de estrada.  A história do Cyclocross remete ao início do século 20. Mais de cem anos! As versões oficiais trazem o ano de 1902 como marco histórico, quando um soldado francês de nome Daniel Gosseau recebe os créditos por ser o organizador do Campeonato Francês de Cyclocross. O esporte já era realizado antes mesmo disso e era basicamente uma corrida até um ponto de referência.

A chegada podia ser uma estátua, um ponto turístico, uma igreja ou qualquer outra coisa. Em comum, os pontos de partida e chegada. O caminho poderia ser o que cada um quisesse, mesmo que isso significasse pular cercas, subir escadas, atravessar rios…até mesmo se fosse com a bike no ombro. Daí vem a natureza dos obstáculos nas pistas, simular condições adversas e terrenos inapropriados como nas origens do esporte.

Faz parte do Cyclocross essa simbiose entre homem e bicicleta, utilizando o meio que for necessário para cruzar mais rápido o percurso. Os trechos de escada, areia, lama e outros, obrigam os atletas a frear completamente e ter que re-acelerar do zero, o que gera um desgaste físico absurdo. É uma atividade que demanda habilidade, explosão e e resistência. Não à toa, cada vez mais atletas de outras disciplinas participam do Cyclocross no inverno para desenvolver a habilidade e as capacidades físicas.

Mathieu van der Poel (Facebook UCI)

Armas diferentes, os suspeitos de sempre

Mesmas caras, outras bikes. Outro motivo para seguir o CX é o fato de vermos atletas que têm agitado as corridas na estrada, alguns no MTB, os grandes fenômenos do esporte e as futuras estrelas: Wout Van Aert, Mathieu Van der Poel, Tom Pidcock, Kata Blanka Vas, Puck Pieterse, Fem Van Empel, Lucinda Brand, Marianne Vos e muitos outros.

Marianne Vos (Facebook UCI)

Van Aert e Van der Poel são já lendas pelo lado masculino. Centenas de vitórias entre os dois, 7 títulos Mundiais (4 do Holandês e 3 do Belga), algumas Copas do Mundo e revezando a dominância da disciplina desde as categorias de base. Rivalidade histórica que foi para a estrada e já disputou Mundiais, Flanders, Paris-Roubaix e até a liderança do Tour de France. Tom Pidcock é a estrela em ascensão que vem de dominância nas categorias de base e começa a brilhar na elite. Com vitórias na estrada, um título olímpico de Mountain Bike e vitórias na Copa do Mundo da categoria, foi o primeiro britânico a conquistar uma etapa de Copa do Mundo de Cyclocross, em Rucphen. Outros nomes vem brigando por espaço como Eli Iserbyt (atual líder da Copa do Mundo), Toon Aerts e Michael Vanthorenhout.

Lucinda Brand (Facebook UCI)

Entre as mulheres, a lenda máxima é Marianne Vos. Sozinha, tem 7 títulos Mundiais, quase 100 vitórias e segue somando conquistas. Lucinda Brand é a atual Campeã Mundial e a grande rival. Com 10 vitórias em 18 corridas na temporada, é uma força a ser reconhecida e vai lutar pelo Bicampeonato do Mundo. Ciclistas experientes como Annemarie Worst e Denise Betsema buscam a glória e vem lutando por vitórias, enquanto que a nova geração representada por Kata Blanka Vas, Puck Pieterse, Fem Van Empel, Shirin van Anrooij e outras vem pedindo passagem, disputando pódios e conquistando até vitórias como em Val Di Sole. O feminino é sem dúvida o mais difícil de dominar com várias ciclistas somando vitórias e a disputa pela Classificação Geral da Copa do Mundo ainda indefinida.

Fem Van Empel, Kata Blanka Vas e Lucinda Brand no pódio (Facebook UCI)

Quais as principais competições e onde assistir?

Existem 4 principais ligas no CX e claro, o título máximo que é o Mundial da categoria. Estas ligas são: Copa do Mundo de CX, Telenet Superprestige, Ethias Cross e X20 Badkammers. A Copa do Mundo é o evento com mais prestígio, funcionando como um campeonato, onde quem acumula mais pontos veste a Camisa de Líder. A transmissão é feita via YouTube no Brasil.

A Telenet Superprestige segue o mesmo esquema de pontos e é a segunda mais importante. A X20 Badkammers segue um sistema de classificação por tempo somado, simulando as provas de etapas do Ciclismo de Estrada e a Ethias Cross não tem uma Classificação Geral, premiando apenas os vencedores de cada corrida individualmente. Os três eventos tem transmissão no Brasil via GCN+.

Wout van Aert (Facebook UCI)

Com o fim das temporadas de Estrada, Mountain Bike e até da nova Liga dos Campeões de Pista, o CX toma conta dos assuntos no mundo da bike até pelo menos 30 de janeiro, quando acontecerá o Mundial em Fayetteville, EUA. Será apenas a segunda vez na história que o Mundial acontece fora da Europa e o circuito é bem veloz, como visto na 2ª Rodada da Copa do Mundo desta temporada.

A metade final desta temporada promete e trará batalhas épicas. A começar pela Copa do Mundo de Dendermonde, no fim de semana do Natal, Domingo dia 26. Quer saber mais? Acompanhe com a gente no Twitter e para esta prova vamos inaugurar a nossa transmissão ao vivo do Bike Blz no YouTube. Fique ligado, ative o lembrete e não perca!

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