Por iniciativa da Aliança Bike e apoio da Bike Zona Sul, Bike é Legal, da Federação Paulista de Ciclismo, da Federação Paulista de Triathlon, além de diversas assessorias esportivas da cidade, o Seminário Online “Ciclismo de Estrada na Grande São Paulo aconteceu hoje (11) para o lançamento de um Manifesto pela ampliação urgente de espaços públicos para a prática do ciclismo de estrada e principalmente, para apresentar os resultados da pesquisa realizada pela Aliança Bike sobre o perfil, hábitos e percepções de ciclistas praticantes do ciclismo de estrada na Grande São Paulo.

Quem é o ciclista de estrada de São Paulo?

Esta pesquisa inédita e exploratória, foi planejada para iluminar algumas destas questões à luz da experiência e das práticas dos atuais ciclistas desta modalidade em São Paulo. (Fonte: Ciclismo de Estrada na Grande São Paulo)

GÊNERO

Os resultados da pesquisa, realizada online, mostram dados interessantes para se entender melhor sobre o público paulista que pratica o ciclismo de estrada. No total, 3.107 ciclistas responderam o questionário e destas, 2.650 pessoas o responderam até o final. Como já era de se esperar, a divisão de gênero desta pesquisa se deu entre 81,7% de autodeclarados homens e 17,85% de auto declaradas mulheres.

COR

Diferentemente do observado em pesquisas de perfil de ciclistas que usam a bicicletas como meio de transporte, a presença de pessoas autodeclaradas brancas é preponderante no ciclismo de estrada. Um fato curioso, mas não necessariamente surpreendente, dado as características do esporte no Brasil, especialmente em São Paulo.

FAIXA ETÁRIA

O pico da pirâmide etária dos respondentes da pesquisa se dá entre 40 e 44 anos. Ciclistas acima de 40 anos de idade representam pouco mais de 60% de toda a amostra. A média de idade entre os(as) ciclistas respondentes foi de 42 anos.

HÁ QUANTO TEMPO PRATICA O CICLISMO DE ESTRADA

Outro gráfico interessante de analisar é quanto ao número de ciclistas que treinam de acordo com o tempo que pratica o esporte. Há no máximo 1 ano foi de 11,50%. Se considerarmos até 5 anos, alcançamos quase metade (49,4%) de todos(as) respondentes. Este resultado pode indicar um fluxo mais intenso de novos ciclistas nos últimos anos, mas especialmente a partir da pandemia. Ainda, o fato de que 26,27% dos(as) ciclistas treina há mais de 10 anos revela a longevidade e resiliência dessa prática esportiva.

PRINCIPAIS DIFICULDADES PARA TREINAR EM SP

Dentre as principais dificuldades para realizar treinos na Grande São Paulo, a ausência de mais locais é a principal dificuldade apontada por mais de 60% dos ciclistas. A falta de segurança pública (56,2%) e o desrespeito de motoristas (55,8%) vêm logo na sequência.

Mais dados, gráficos e conclusões da pesquisa podem ser acessados neste link.

Ciclovia da Marginal Pinheiros

Sobre o Seminário

Com inscrições gratuitas, o evento virtual reuniu mais de 200 pessoas na plataforma online Zoom e contou com a mediação da jornalista Renata Falzoni (no momento vereadora suplente em exercício pelo PV*), do Diretor Executivo da Aliança Bike, Daniel Guth, do empresário Michel Farah da Farah Service, gestora da ciclovia da Marginal Pinheiros, Rychard Hryniewicz Jr da Federação Paulista de Triathlon, Vera Lang da Federação Paulista de Ciclismo, Raphael Pazos, fundador da Comissão de Segurança do Ciclismo no Rio e principal responsável pela zeladoria voluntária das APCC (Áreas de Proteção ao Ciclismo de Competição) do Rio de Janeiro, Weriston Baldini de Souza Secretário de Esportes de Caieiras, cidade da região metropolitana de São Paulo, que possuí um velódromo municipal há pouco mais de 38 km da capital paulista, Ronaldo Fratello, Secretário de Esportes de Guarulhos e Roberval Matheus, representando o Secretário de Esportes de São Paulo. Além das assessorias esportivas Lulu5 Team, Power Girls/Pedal Power, Race Consultoria Esportiva, Rachão do Milão e a Velozes e Furiosas, representadas respectivamente por Gisele Gasparotto, Carol Rombauer, Ricardo Arap, Roberto Zanata e Kelly Romero.

O Seminário foi permeado com algumas declarações curiosas anotadas por este blog como: “Vivemos num momento de desrespeito de todos com todos”, proferida por Michel Farah ou ainda que “o ciclismo sofre um envelhecimento”, dita por Rychard Hryniewicz Jr, da Federação Paulista de Triathlon, ao comentar sobre a falta de jovens na modalidade e também sobre a ‘guerra’ entre o carro x bicicleta.

O exemplo das APCCs no Rio de Janeiro

Raphael Pazos, fundador da Comissão de Segurança do Ciclismo no Rio e principal responsável pela zeladoria voluntária das APCCs (Áreas de Proteção ao Ciclismo de Competição) do Rio de Janeiro, com um sotaque carioca afiado, disse que criar uma APCC é só 20% do trabalho. Os outros 80% é feito pelo dia-a-dia da administração da área. Aproveitou para anunciar que a cidade está para inaugurar a sua 5ª APCC, com a criação da APCC Parque Deodoro, área militar na Zona Norte da cidade, onde foram realizadas as provas de BMX e canoagem nas Olimpíadas Rio 2016. A novidade, segundo ele é o horário de funcionamento noturno, horário mais adequado e utilizado pelos praticantes da região.

APCC Porto Maravilha – Circuito Marcos Hama


O Rio conta ainda conta as APCCs da Reserva na Barra, do Aterro do Flamengo, na Zona Sul, do Porto Maravilha, na região portuária e também a do Parque Madureira, na Zona Oeste. Pazos defendeu ainda que a bicicleta movimenta a economia, traz empregos dizendo que ‘na APCC do Porto agora tem uma galera vendendo água, Gatorade…’ (sic!), mas que traz também do desenvolvimento da região, como surgimento de novos empreendimentos e pontos de encontros. Uma nova forma de ocupação urbana: a ocupação esportiva. Trazendo bem estar para milhões e em total segurança viária. Segundo Pazos, as APCCs do Rio reúnem mais 400 ciclistas em dois dias na semana e a cidade apresenta um aumento considerável da prática do esporte em toda a cidade.

Profissional do ramo da hotelaria, ele criou a ideia das áreas para treinamento de ciclismo de estrada e conseguiu legalizá-las junto ao poder público, como parte da operação matinal da CET-Rio, Guarda Municipal e Polícia Militar, em uma ação 100% implementada por estes orgãos públicos, com o apoio da Prefeitura, para o fechando e sinalização com cones e bloqueios, das áreas reservadas. Pazos, como bom Carioca, enfatizou: “Não sei como é a Ciclovia da Marginal.”

Quantas vidas não foram salvas nesses 8 anos em que existem as APCCs no Rio?

Não por acaso, estas áreas protegidas para a prática do ciclismo, levam o nome de praticantes do esporte que morreram ou se acidentaram gravemente enquanto pedalavam, como é o caso do triatleta Marcos Hama que batiza o Circuito da Região Portuária, atropelado na rodovia Rio-Magé que lhe deixou tetraplégico em 2011. A APCC Parque Madureira, recebe o nome de Circuito Danilo Diver, uma homenagem a José Danilo da Silva, um dos maiores defensores da luta pela proteção aos ciclistas e que morreu em maio do ano passado, vítima da Covid-19 e o Circuito Pedro Nicolay, que envolve o Aterro do Flamengo e a Praia da Reserva. Outra vítima fatal, atropelado por um ônibus quando acabava seu treino em Ipanema em 2013.

Em 8 anos de trabalho, Pazos diz ser importante saber quem vai ficar a frente da operação e conta com a ajuda de grupos de WhatsApp para falar com grupos de ciclistas, parceiros, agentes públicos e outros voluntários, que também o ajudam nesta gestão voluntária. Ele diz que é preciso disposição. Quando acontecem acidentes, alguns infelizmente fatais, muitas das vezes é ele que centraliza as informações e compartilha informações sobre as APCC que vão de horários, queda de árvores, jacas e até tachinhas na pista. A gestão por mais que voluntária se dá de maneira organizada e também orgânica. Muitos comércios como padarias, bikes shops, lojas de conveniência e até postos de gasolina só têm a ganhar com mais ciclistas pedalando.

Enquanto isso, no Seminário online, o Secretário de Esportes de São Paulo, Aildo Ferreira, enviou um representante, o Sr. Roberval Matheus disse sem constrangimento algum, que não sabia de nada do calendário de eventos de ciclismo da cidade e se disse surpreso com a quantidade de pessoas na videoconferência. Disse que segue o “Plano São Paulo” (Plano do Governo de São Paulo para retomar com segurança a economia do estado durante a pandemia do coronavírus) e que “está aberto para receber projetos para a coisa ser feita.”.

Novo Rio Pinheiros

Constituído pelo grupo empresarial Amarílis, Farah Service, Jardiplan e Metalu Brasil, ficará encarregado de investir R$ 30 milhões na revitalização do primeiro trecho do parque (8 quilômetros), pelos próximos 30 meses (podendo ser estendido por mais 60 meses) e que já é a empresa concessionária responsável pela manutenção, limpeza e jardinagem da ciclovia, que deverá ser fiscalizada pela CPTM. A empresa investirá em pista de caminhada, ciclovia, cafés e banheiros, além de construir acessos para a entrada do público ao local.

Um novo “chamamento público” foi lançado em Abril 2021 para o Trecho 2, entre a Ponte Cidade Jardim e a Estrutura de Retiro localizada próxima à ponte da CPTM  – Linhas 8 e 9, com aproximadamente outros 8.900 m de extensão. Como contrapartida, a empresa poderá divulgar o seu apoio ao Parque Linear em placas instaladas ao longo da margem oeste da Marginal Pinheiros. A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente abre o prazo até 20/05/2021 para apresentação de manifestações de interesse público, mas hoje no Seminário, Michel Farah falou em 21 Km de extensão, dando a entender que esta é extensão do empreendimento e da concessão, mas o blog não achou informações correspondentes.

As assessorias esportivas

Gisele Gasparotto da Lulu5 Team, comentou que “nós ciclistas estamos sempre ocupando espaços que não são nossos”, dando o exemplo da ‘bolinha’ da USP, que já figurou como o segmento mais utilizado por ciclistas no mundo no Strava e que hoje os ciclistas são proibidos de frequentar.  

Ricardo Anap da Race Consultoria Esportiva disse que a cidade conta hoje com mais de 70 assessorias esportivas e defendeu uma ação forte e neutra do Estado, com “mais secretários e mais Michel Farahs” (sic!). Carol Rombauer da Power Girls/Pedal Power, disse que sempre pedalou na rua, apesar de nunca saber se vai ter ou não o respeito do motorista. No primeiro grande pelotão feminino organizado por ela, 53 mulheres pedalaram pela cidade com batedores. Roberto Zanata, organizador do Rachão do Milão, falou de dentro de um carro da sua oficina mecânica e contou um pouco mais sobre a corrida que organiza e que reúne centenas de ciclistas em uma competição “sem alvarás”, nem sempre vista com bons olhos pelas autoridades do Estado, assim como também dirigia seu carro enquanto acontecia o Seminário. Vera Lang da Federação Paulista de Ciclismo, diz estar trabalhando para o incentivo do ciclismo na região de Barueri com distruibuição de cartilhas. (sic!)

* Renata Falzoni na Câmara Municipal de São Paulo

A jornalista Renata Falzoni, no momento é a segunda suplente pelo Partido Verde, na Câmara Municipal de São Paulo, ocupando a vaga do vereador Roberto Tripoli (PV) que estará licenciado pelo período de um mês. Renata Falzoni foi candidata a Vereadora pela cidade nas última eleições, mas não conseguiu ser eleita apesar dos 26.078 votos. Aqui ela deixa uma mensagem para o blog Vai de Bike, gravada no dia da sua posse.

Opinião do BikeBlz

O espaço de lazer é essencial, chamar o “Novo Rio Pinheiros” é próprio de nossa política. O Rio sempre esteve aí, a cidade que nunca cuidou dele e não deve ficar restrito a maquiagem do local. É preciso pensar nos parques e integrá-los aos demais corredores modais de transportes, principalmente ao sistema de ciclovias da cidade se quisermos ter um impacto social no modo de viver de milhões de pessoas. Construir a longo prazo, uma cidade pensada para prover bem estar social a todas as pessoas e não apenas para homens brancos de meia-idade de alto poder aquisitivo. Um clássico da política social brasileira. É melhor que nada? Sem dúvida, mas precisamos ser inclusivos.

Parabéns a todas as pessoas, entidades e grupos que participaram desse Seminário. O BikeBlz vai estar sempre interessado em assuntos relacionados a bicicleta, urbanismo, transportes urbanos e políticas públicas em prol do bem estar social. E estamos muito, mas muito longe do que seria o mínimo. No final do Seminário, um comentário no chat ilustrou bem em que pé estamos:

“Diadema não tem nem ciclovia!”

Chat durante Seminário Online
Ciclismo de Estrada na Grande São Paulo


O exemplo da subida da Vista Chinesa

A famosa e dura subida da Rua Dona Castorina, no Horto do Jardim Botânico, reúne há muitos anos, todos os dias, centenas de ciclistas subindo e descendo naturalmente e em perfeita harmonia entre carros e ciclistas. Um dos motivos além da vista exuberante e da natureza do local, perfeitos para a prática do ciclismo de montanha, está a qualidade e manutenção do asfalto, realizado para as Olimpíadas Rio 2016, assim como a manutenção e limpeza do local, realizada pela Comlurb, empresa pública de gestão do lixo da cidade, por conta da região de mata. A subida, antigamente temida por falta de segurança e casos de violência, virou um parque de diversões para os amantes da bike, simplesmente porquê ocupamos.   

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