Como Diretor da Dutch Cycling Embassy, o Dr. Lucas Harms é responsável pelo desenvolvimento estratégico da parceria público-privada, bem como pelas atividades operacionais e financeiras da organização. Formado em geografia urbana e mais de 15 anos de pesquisa, com foco em planejamento urbano e transporte urbano sustentável. Foi afiliado ao Instituto de Ciclismo Urbano da Universidade de Amsterdã e trabalhou no Instituto Holandês de Análise de Políticas de Transporte e na Agência de Avaliação Ambiental da Holanda.

No evento Velo Berlin, tivemos a oportunidade de assistir a sua apresentação e depois conversamos para saber como é o trabalho realizado pela organização e se é possível aplicar as práticas utilizadas para o ciclismo na Holanda para a realidade latino-americana. Confira essa entrevista exclusiva aqui no BikeBlz.

Eu gostaria de saber como a Dutch Cycling Embassy trabalha? E o que ela oferece a todo o mundo?

O Dutch Cycling Embassy é uma fundação da rede pública-privada e basicamente trabalhamos juntos com o governo holandês e 100 organizações para trazer experiência, conhecimento e produtos da Holanda para cidades e países ao redor do mundo. Fazemos isso hospedando delegações, então diversas delegações vêm para a Holanda. E nós mostramos a eles, deixamos que eles experimentem literalmente, pedalando na bike a experimentar as ruas da Holanda. Também organizamos os chamados ‘tailor made think bike workshop’…

Fizemos isso no passado também no Brasil, mas também na América Latina e em muitas cidades ao redor do mundo em que trazemos o expertise holandês para estas cidades e trabalhamos juntos em projetos ou um problema e necessidades que eles encontraram. E não é copiar e colar soluções holandesas ou melhores práticas holandesas. É realmente trabalhar em conjunto com o conhecimento local, para torná-lo o mais adequado possível e de acordo com o possível para o local, pro social, pras condições geográficas e culturais.

E acontece alguns choques culturais neste trabalho em conjunto?

Sim, às vezes acaba sendo assim…mas também há batida de carro ou uma guerra contra os carros. Mas é muito importante perceber que pelo fato que andar de bicicleta é tão popular na Holanda, que para aqueles que realmente precisam usar um carro na Holanda, ainda há espaço suficiente para você usar o carro. Então, para as pessoas que precisam, é na verdade uma maneira relativamente muito fácil com destinos fáceis de usar seu carro. Então a análise não é apenas um país muito amigo do ciclismo, mas é também e é quase um paradoxo para muitos…A Holanda também é um país muito amigo do carro!

Em sua apresentação, isso chamou minha atenção. Para planejar a ciclovia e ciclofaixas…você também tem que pensar no carro! É uma combinação, certo? Não é apenas pensar nas bicicletas e dane-se os carros.

Com certeza! O melhor plano de bike também precisa, ou geralmente precisa, de um plano para os carros então não é só fazer o andar de bicicleta mais atraente, mas também fazer que o uso do carro seja também um pouco menos atraente. Então, empurrando as pessoas para fora dos carros e agrupar as pessoas para o ciclismo. É meio que uma dança. Você tem que fazer isso junto. E você tem que trabalhar por fases. Você pensa em zonas de circulação de tráfego que foram implementados em muitas cidades holandesas onde é relativamente desconfortável para ir de um lado para o outro lado da cidade de carro. Você realmente tem que dirigir ao redor. Mas ainda é possível. Então se você quiser, se você realmente precisa de um carro, ainda está sendo possível para ir ao seu destino. Mas pedalando é muito mais fácil, pelo fato de os ciclistas, poderem ir de um lado para outro da cidade em linha reta. De carro você tem que dar uma volta maior, o que se traduz em uma cidade muito mais habitável e um lugar muito atraente para se viver. Uma cidade mais orientada para as pessoas do que voltada para carros, por exemplo.

Vi também que você falou sobre o investimento. São 3€ per capita de investimento na Holanda?

Então, sim! É muito importante também investir corretamente…na melhoria das condições de ciclismo. E na Holanda, andar de bicicleta tem que ser uma parte muito importante, um ingrediente muito importante das políticas nacionais e de mobilidade urbana. E cerca de 30€ por pessoa por ano está sendo investido na melhoria das condições de ciclismo. Então é realmente muito importante ser uma pedra nacional angular e políticas de mobilidade urbana onde o dinheiro está sendo reservado para melhorar as condições de ciclismo para fazer ano a ano.

Eu não sabia sobre essa criança nos anos 70. Era a filha de um jornalista, certo? E isso começou a onda?

Sim, absolutamente. Uma criança pequena, uma criança de seis anos infelizmente foi morta por um carro no início dos anos setenta na Holanda. E aquela criança vinha a ser a filha de um famoso jornalista. E ele estava, é claro, furioso e enfurecido com isso. E ele escreveu um artigo muito emocionante em um jornal diário. E esse tipo de coisa disparou um enorme protesto e uma enorme manifestação de massas, Que se chamava: ‘Movimento Pare de Assassinar as Crianças’ na Holanda. Com muita gente protestando, tomando e bloqueando as ruas exigindo mais espaço para ciclistas e pedestres, para exigir um espaço urbano mais orientado para as pessoas em vez de um orientado para o carro.

É possível transformar uma cidade latino-americana como São Paulo ou Cidade do México em uma cidade amiga da bike?

Absolutamente! É absolutamente possível mudar as cidades e as lindas cidades na América Latina que vocês têm. É absolutamente possível mudar as mentes e corações das pessoas lá também. E o que vimos recentemente, temos trabalhado juntos com um projeto em Lima, no Peru. Há muita mudança e muito dinheiro está sendo investido na melhoria das condições de ciclismo lá também. E as ruas estão realmente mudando para melhor. Outro belo exemplo é Buenos Aires na Argentina. Isso está mudando também! Agora nos últimos dois anos foram alterados muito rapidamente. E, claro, um exemplo de longa data foi Bogotá, Colômbia, onde isso foi feito com as ‘ciclovias’ que têm sido um exemplo para muitas cidades ao redor do mundo também.”

Talvez na Colômbia eles tenham o mesmo amor por bikes quanto na Holanda, eu acho…

Sim, acho que sim. Eles adoram andar de bicicleta também. É o mesmo que na Holanda. Sim, absolutamente.

Muito obrigado! Um obrigado do BikeBlz e foi ótimo poder falar com você e ver a sua palestra.

Imagens: Dutch Cycling Embassy

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