“Quem tem um amigo, tem tudo” diz o refrão da canção do Emicida e Zeca Pagodinho. O que dizer então de quem tem um Wout Van Aert (Jumbo-Visma) ao seu lado? Ninguém melhor que Roglic e a Jumbo-Visma para responder. Enquanto o Esloveno segue dominando corridas por etapas e finalmente quebrando o tabu de vencer na França (onde esteve perto de vencer e perdeu, nas últimas etapas, Paris-Nice, Dauphiné e o próprio Tour de France), o Belga é um escudeiro fiel. Além de buscar as próprias vitórias, ajuda o líder a vencer e a defender sua camisa como foram especialmente na primeira e na última etapa, quando Roglic demonstrou uma inesperada situação de dificuldade. Algo semelhante ao que aconteceu com Egan Bernal em Sega di Ala, quando a ajuda de Dani Martinez (ambos Ineos-Grenadiers) salvou a liderança e a vitória no Giro d’Italia 2021. Outro atleta que esteve naquela etapa de Sega di Ala, foi Simon Yates (Bike-Exchange) que junto a Martínez pressionaram Primoz Roglic no dia derradeiro desta “Corrida para o Sol”. Mas antes, vamos comentar das etapas anteriores, o caminho até Nice e a importância de Wout Van Aert para desequilibrar a disputa em favor da Jumbo-Visma.
Aqui o ataque de Simon Yates que ameaçou a liderança de Roglic e por pouco não chega a ser virtualmente o líder. Mas quem tem Wout van Aert de gregário tem tudo. O Belga trouxe o Esloveno na roda e conseguiu garantir a vitória de Roglic na #ParisNice https://t.co/4elvWdmnWL
— BikeBlz (@BikeBlz) March 13, 2022
Demonstração vulgar de poder
A etapa inicial foi uma completa loucura. Quando tudo se encaminhava para um fim em sprint, o trio Laporte, Roglic e Van Aert aceleraram na subida final e simplesmente quebraram o pelotão, formando uma fuga com os três atletas da mesma equipe, que desceram e revezaram para abrir tempo dos rivais. Laporte recebeu sinal verde para vencer a etapa (sua primeira vitória no World Tour) seguido pelos colegas de equipe, que completaram o pódio, tal qual a UAE fez no Trofeo Laigueglia, aqui porém, de uma maneira ainda mais dominante.
Aqui o ataque 'termonuclear' da Jumbo Visma na última subida da #ParisNice que fulminou o pelotão! https://t.co/j6QsOymDdn
— BikeBlz (@BikeBlz) March 6, 2022
O segundo dia foi um caos em meio ao vento cruzado, que partiu o pelotão em diversos pequenos grupos. A Jumbo mais uma vez esteve bem atenta e carregou seus principais atletas no grupo da frente. A Quickstep perdeu o bonde mas depois reconectou com o grupo e a vitória do dia foi disputada em um sprint vencido por Fabio Jakobsen (Quickstep).
Vitória de Fábio Jakobsen @FabioJakobsen (@qst_alphavinyl) surgindo do nada para vencer o sprint da Etapa 2 na #ParisNice https://t.co/SfeYrDQtbt
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Mais uma vitória do Holandês sensação e Van Aert foi o segundo mais rápido, terminando novamente no top 3. A terceira etapa tinha uma chegada em ascensão leve e Van Aert mais uma vez estava entre os favoritos, o líder Laporte caiu nos quilômetros finais e não pode fazer a embalada, enquanto que a Trek trabalhou perfeitamente para um fortíssimo Mads Pedersen conquistar a etapa, à frente de Bryan Coquard (Cofidis), repetindo o que aconteceu na Etoile de Besseges, entretanto com um novo terceiro lugar, que era o Belga da Jumbo.
Mads Pedersen @Mads__Pedersen (@TrekSegafredo) vence a Etapa 3 da #ParisNice https://t.co/pvScPIXsls
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A etapa 4 era uma crono de 13,4 quilômetros com percurso ondulado e uma subida íngreme no fim. O Australiano Rohan Dennis (Jumbo-Visma) estabeleceu o tempo mais rápido entre os que largaram primeiro e durou por um bom tempo. Até que seus colegas de equipe completassem a prova. Primoz Roglic fez o segundo melhor tempo e finalmente, Wout Van Aert pôde comemorar uma vitória e com ela, assumir a liderança da competição à frente de Roglic. Novamente um top 3 todo de atletas da Jumbo, com Wout, Primoz e Dennis. Mais uma demonstração de força da equipe, enquanto que alguns rivais diretos pela Classificação Geral obtiveram bons resultados. Simon Yates (Bike Exchange) e Dani Martinez (Ineos) terminaram o dia a 39s e 56s de Roglic na Classificação Geral. Nada mal, tendo em vista as duas primeiras etapas.
Wout van Aert @WoutvanAert (@JumboVismaRoad) vence o contrarrelógio na Etapa 4 da #ParisNice e mais uma vez, a @JumboVismaRoad conquista todos os degraus do pódio. Roglic fez 2º e Dennis Rohan ficou em 3º lugar. https://t.co/m1iHRpA9jf
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Montanhas à vista e abandonos em massa
Na quinta etapa, Wout finalmente abriu mão de seguir a frente de prova. Sem ele, Roglic ficou isolado frente aos rivais mas defendeu-se bem. Quem venceu a etapa foi Brandon McNulty (UAE Team) depois de atacar a fuga e largar Matteo Jorgensen (Movistar) e Franck Bonnamour (B&B Hotels) para vencer com quase 2 minutos de vantagem. Um resultado maiúsculo para o Americano que perdeu a chance de brigar pela Classificação Geral depois de cair na etapa 2 e perder tempo com os cortes de vento.
Primeira vitória de etapa no WT para Brandon McNulty #ParisNice https://t.co/PGGurcVsQq
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A cada etapa, diversos atletas abandonavam a Paris-Nice. Uma virose se espalhou pelo pelotão e diversos times ficavam desfalcados, numa quantidade avassaladora. Já no sexto dia, um grupo reduzido chegou aos quilômetros finais preparando-se para um sprint , mas Mathieu Burgadeau (Total Energies) tinha outros planos e atacou solo, utilizando-se das curvas e trechos de descida para segurar a vitória até o último centímetro de prova, com o pelotão chegando quase ao mesmo tempo que ele, onde Mads Pedersen bateu o sprint pelo segundo lugar. Essa é uma daquelas vitórias para guardar com carinho. Coisa de cinema, que faz a gente amar esse esporte ainda mais. Se eu já não tivesse vestido o bretelle pra gritar da janela “ISSO É CICLISMO DE ESTRADA” na etapa 1, faria certamente na sexta-feira, ao assistir Burgadeau vencer contra todas as probabilidades.
Vitória da fuga! E que vitória de Mathieu Burgaudeau @mat_burgaudeau (@TeamTotalEnrg) na Etapa 6 da #ParisNice https://t.co/A1N6helPPi
— BikeBlz (@BikeBlz) March 11, 2022
Os dois últimos dias foram como deveriam ser: nas montanhas. No sábado, uma chegada ao alto no duríssimo Col de Turini. A Jumbo controlou como esperado e no fim, restaram só os líderes: Simon Yates, Martínez, Roglic e Nairo Quintana (Arkea-Samsic). Yates e Martinez revezavam acelerações no Turini e Roglic apenas marcava, enquanto que Quintana, apesar das boas aparições nas etapas iniciais e de estar atento no dia dos cortes no vento cruzado, perdeu mais de um minuto na crono e ficou como iô-iô no fundo do grupo mas não perdeu muito tempo nesta subida. No fim, Roglic acelerou e venceu o sprint no topo da montanha enquanto Yates e Martinez seguiam de perto.
Vitória de Primoz Roglic @rogla (@JumboVismaRoad) na etapa rainha da #ParisNice. Primeira vitória dele na temporada. https://t.co/lFzSirD6hD
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A etapa derradeira foi uma guerra digna de terceira semana em Grande Volta, 60 quilômetros antes do final, o grupo estava todo quebrado com os líderes à frente. Na penúltima subida do dia, o Côte de Peille, a frente da prova tinha Van Aert, Roglic, Simon Yates, Martinez e Nairo Quintana. Yates e Martinez atacaram enquanto Roglic e Quintana tentavam seguir. O Esloveno demonstrava certa dificuldade e o Colombiano não ia muito melhor. Van Aert manteve um passo constante e alcançou o grupo, que se juntou no topo de Peille e desceu junto para encarar o Col d’Eze. Martinez no entanto, teve um azar imenso entre as duas montanhas: um furo de pneu o tirou da briga pela etapa e a presença de Nairo Quintana no grupo da frente, ameaçava seu lugar no pódio.
O Colombiano da Ineos tentou seguir o grupo da frente, mas a equipe mandou esperar o grupo de perseguidores que vinha atrás e carregava o colega de equipe Adam Yates. Na subida final, Van Aert teve dificuldade de manter-se com os escaladores e ficou para trás, Simon Yates percebeu e atacou, abrindo uma boa vantagem em pouco espaço de subida. Roglic tentava seguir junto com Quintana, mas Van Aert foi capaz de alcançar o colega de equipe e manter um passo constante para reduzir a diferença de tempo. Quintana ficou para trás enquanto a dupla de líderes da Jumbo trabalhava em busca do Britânico. A descida e o plano foram extremamente favoráveis a Van Aert e Roglic e os dois chegaram apenas 8 segundos atrás do vencedor da etapa, Simon Yates que terminou em segundo na Classificação Geral. Martinez permaneceu no grupo junto com Adam Yates e assegurou o terceiro lugar na corrida.
Último KM para Simon Yates @SimonYatess #ParisNice https://t.co/mzOWilISjX
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Após a prova, o campeão ainda declarou:
Eu sempre venço com um pouco de drama, não é? Foi super difícil, tenho que admitir. Mas muito mais fácil que no ano passado e estou mais que feliz! Um enorme obrigado a todo meu time, especialmente a Wout (Van Aert) no fim. Ele é meio humano, meio motor. O cara pode fazer tudo.”
Um belo lampejo de forma do ciclista da Bike Exchange e uma rara demonstração de dificuldade do Tricampeão da Vuelta, Primoz Roglic. Mas para provar que mesmo os melhores precisam de apoio, Van Aert esteve lá para socorrer seu líder. Mudando a letra de Emicida, a Jumbo pode cantar, tranquila: “Quem tem um Van Aert, tem tudo”.
Foto: ASO/Alex Broadway