Que bela semana de corridas tivemos. Preciso confessar: depois de uma longa temporada de cyclocross, finalmente me senti de volta ao ritmo do ciclismo de estrada. E foi uma jornada intensa. QUATRO corridas por etapas sobrepondo-se durante a semana que viraram CINCO no domingo, quando largou o UAE Tour, mas esta última fica para a resenha da semana que vem.

Aqui, vamos falar de como Nairo Quintana (Arkea-Samsic) deixou Tim Wellens (Lotto-Soudal) e Thibaut Pinot (FDJ) na saudade, Remco Evenepoel (Quickstep) tomou o Algarve de assalto com um contrarrelógio assombroso, Wout Poels (Bahrain Victorious) se impôs na Andaluzia e fez lembrar a época em que foi campeão da Liége-Bastogne-Liége. Também falaremos, obviamente, da Setmana Valenciana e carteiradas no pelotão feminino com vitórias das Campeãs, Mundial e Européia, Elisa Balsamo e Ellen Van Dijk (ambas da Trek-Segafredo) e a melhor corredora de etapas da atualidade, Annemiek Van Vleuten (Movistar). Como sempre, vamos por partes. Ou melhor, por etapas.

Reizinho do Algarve

Há aqui uma necessidade latente de elogio: a Volta ao Algarve foi um dos melhores eventos destas primeiras semanas de corrida. Talvez o melhor de todos. E os melhores nesta Volta, obviamente foram os ‘lobos’ de Lefevere.  A Quickstep-Alphavynil levou um esquadrão de respeito para Portugal e venceram 3 das 5 etapas. Fabio Jakobsen não teve rivais à altura nos sprints e venceu as duas provas do tipo. Evenepoel  não venceu na Fóia e nem no Alto do Malhão, mas foi soberano no longo contrarrelógio vencendo com vantagem de 1 minuto (!) para um dos homens mais fortes da disciplina e Campeão Europeu de Crono, Stefan Küng (FDJ).

Na etapa de crono, Evenepoel  mostrou que não teria rivais na briga pela Classificação Geral, mesmo que não vencesse as chegadas ao alto, como no Malhão, onde o vencedor foi Sergio Higuita (Bora-Hansgrohe), que venceu um sprint reduzido, mostrando-se o mais forte nesse caso, coisa que também pareceu no Alto da Fóia, mas lá, quem venceu foi David Gaudu (FDJ), logo após Higuita  se envolver em um tombo com Tobias Foss (Jumbo-Visma). Outros dois nomes que merecem destaque, apesar de não vencerem etapas, foram Brandon McNulty (UAE) e Dani Martinez (Ineos-Grenadiers). O Americano da UAE escalou muito bem e esteve em disputa nas duas chegadas ao alto. O Colombiano da Ineos merece destaque pelo bom contrarrelógio que fez, perdendo apenas 32 segundos para Stefan Küng em 30 quilômetros. Ambos terminaram no pódio da Classificação Geral, o que também é louvável. Outro bom resultado foi de Ethan Hayter (Ineos) que esteve sempre próximo aos melhores, mas ainda precisa melhorar nas escaladas longas.

Todos a bordo do expresso Quintana

Se você acompanhava ciclismo nos anos 2010, é muito difícil não se empolgar ao ver Nairo Quintana (Arkea-Samsic) em alto nível. O Colombiano que marcou toda uma geração de fãs ao ser o primeiro sul-americano a vencer o Giro d’Italia e brigar pelo título do Tour de France com reais chances de vitória. Como amor e ódio são faces da mesma moeda, toda essa adoração virou ceticismo e chacota quando os grandes resultados diminuíram de frequência e as tentativas frustradas nunca se converteram em êxito na grande volta Francesa. Alguns sugeriram até a aposentadoria, mas Quintana diz que está longe disso e que pode voltar às vitórias. E tem voltado, de fato. Depois de vencer o Tour de la Provence, nesta semana esteve impossível no Tour dos Alpes Marítimos e do Var. A etapa 1 foi um sprint vencido por Caleb Ewan (Lotto-Soudal). A etapa 2 era um percurso variado com subidas e descidas. Quintana atacou a 13 quilômetros do fim, seguido por Guillaume Martin (Cofidis). O Colombiano largou Martin  para trás, mas foi alcançado por Tim Wellens (Lotto-Soudal) nos 3 quilômetros finais. Os dois rodaram juntos até a meta e na chegada, deu a lógica: Wellens venceu a disputa entre os dois pela etapa.

Na etapa final,  Quintana atacou a 35 quilômetros da meta, Thibaut Pinot (FDJ) até o acompanhou mas ficou para trás nas descidas. Solitário e como nos áureos tempos, Nairo levou a etapa 03 e a Classificação Geral. Uma pode ser acaso, duas, não. Quintana está em bom nível e pretende buscar resultados no Tour de France. Se conseguirá ou não, o tempo dirá, mas há razão para os fãs ficarem otimistas.

Astana ajuda e Wout Poels conquista a Andaluzia

Miguel Angel Lopez (Astana-Qazaqstan) parece ter carregado a sina do tempo em que esteve na Movistar. Se na equipe Espanhola, o Colombiano reclamou de ser preterido durante a disputa da Vuelta a Espanha 2021, na Astana, viu o seu colega de equipe Alexey Lutsenko, trabalhar com o rival na briga, Wout Poels (Bahrain-Victorious) na etapa 4, pela GC. E além de vencer a disputa contra Lutsenko pela etapa, Poels vestiu a Camisa de Líder para não perder mais. Nas etapas anteriores, vitória da fuga no dia inicial, tendo Rune Herregodts (Sport Vlandereen-Baloise) como primeiro líder. Alessandro Covi (UAE) que já vinha de vitória na Vuelta a Murcia, atacou na Etapa 1 para escapar do pelotão, mas já não podia vencer a etapa. No dia 2, no entanto, nas rampas finais de paralelos, lançou um ataque poderoso e conquistou a vitória e liderança da corrida, à frente de Miguel Angel Lopez Ivan Ramiro Sosa (Movistar). Magnus Sheffield (Ineos) estragou a festa dos sprinters e voltistas na terceira etapa com uma fuga tardia e a etapa final também foi vencida no ataque, mas desta vez por Lennard Kämna (Bora-Hansgrohe).  Bons dias de corrida na Andaluzia.

Setmana Valenciana Feminina ou um resumo da temporada 2021

A primeira corrida por etapas do pelotão feminino em 2022 foi basicamente um “Como visto anteriormente”  e apresentou um belo resumo do que vimos na temporada anterior. A primeira etapa foi vencida pela Campeã Mundial Elisa Balsamo (Trek-Segafredo) em um sprint massivo, tal qual a vitória dela em Flanders. A seguinte, foi vencida por Ellen Van Dijk (Trek-Segafredo) escapada, da mesma maneira que ela conquistou a camisa de Campeã Européia que ostenta agora no pelotão.

O dia três foi uma carnificina. Três montanhas de categoria 1 com duas em sequência no fim. Você já sabe o que aconteceu. A melhor voltista do pelotão, Annemiek Van Vleuten (Movistar) venceu como gosta e como fez na etapa 3 da Ceratizit Challenge 2021: escapou de longe e cruzou a meta com mais de um minuto de vantagem para as rivais. Van Vleuten  que recuperava-se da queda na Paris-Roubaix, já está a todo vapor em menos de 5 meses. Uma mulher quase biônica. A última etapa foi também para o sprint, com a vitória de outra ciclista experiente: Marta Bastianelli (UAE Team). A Campeã Mundial de 2007 impôs-se às rivais e conquistou a segunda vitória para a UAE Team, que inicia em alta, depois da mesma Bastianelli vencer na Vuelta CV Feminina no começo do mês. Se seguir a forma, deve ir bem nas Clássicas que começam neste final de semana.

Finalmente a Primavera!

Acabou o inverno Europeu e a temporada engata de vez. A chegada da Primavera traz também as Clássicas da Primavera, que começam no Sábado, 26.02 com a Omloop Het Niewsblad e no Domingo, 27.02 com a Kuurne-Brussel-Kuurne. As duas corridas contarão com a participação do Brasileiro Vinicius Rangel (Movistar)! Então prepare-se! Esta é uma época de corridas duras e em sequência que culminam no Grand Finale, durante a Semana Santa que tem Tour de Flanders em um Domingo e Paris-Roubaix, no seguinte. Nós, obviamente vamos cobrir tudo e comentar sobre as corridas no Taco Papo do próximo domingo, 27/02 às 18h (Brasília)/21h (Lisboa) em todas as nossas redes sociais. Perdeu os anteriores? Não tem problema, pode ouvir no nosso Spotify.

Não se esqueça também de nos seguir no Twitter, Instagram, Facebook e Twitch. Sempre tem conteúdo recente e original sobre provas e ciclismo em geral. Até breve!


Capa: Divulgação FB Volta do Algarve

Instagram