Já virou chavão dizer que a semana foi de boas corridas. Toda semana temos eventos incríveis e um pelotão que faz bonito em vários terrenos. Talvez a corneta fique para o UAE Tour. Nem pela vitória do Pogacar (UAE Team), que foi soberano, mas pelas quatro etapas totalmente planas que foram apenas cicloturismo no deserto. A corrida árabe empalidece ainda mais quando comparamos com a estreante Gran Camiño que trouxe um belo percurso e uma excelente disputa na Galícia. O que dizer então, das Clássicas Omloop Het Niewsblad, Omloop Van Het Hageland, Kuurne-Brussels-Kuurne, Drôme Classic e  Faun Ardeche? Ciclismo da melhor safra, aroma de ataques com notas de entretenimento máximo e sabor de sofrimento. O que nos desperta profunda admiração, enquanto sacia nosso leve sadismo de ver o sofrimento de nossos heróis. Por falar em heróis, vou começar pelos meus.

Van Aert e Van Vleuten dão show na Omloop

Essa frase talvez não seja tão impactante. Não é um resultado anormal dos dois melhores ciclistas da atualidade vencerem uma Clássica como a Omloop. Porém, como diz o ditado popular, mais importante que o destino é a viagem e esses dois fizeram isso de forma espetacular.

No feminino, Van Vleuten (Movistar) já era uma das principais favoritas, até por vir de vitória na Setmana Valenciana, mas sempre há a SD Worx e sua legião de ciclistas fenomenais para fazer frente e vencer com a força em números. Ainda distante da chegada, um grupo se juntou à frente com Marlen Reusser (SD Worx), Ellen Van Dijk (Trek-Segafredo), Liane Lippert (Team DSM) e Anna Henderson (Jumbo-Visma). O pelotão não se organizava para buscá-las e então Van Vleuten atacou e Demi Vollering (SD Worx) a seguiu e ambas se juntaram ao grupo que liderava a prova. Na última subida dura da prova, o Bosberg, Annemiek atacou novamente e somente Vollering a seguiu, outra vez. Chegando nos quilômetros finais, a ciclista da Movistar começou a reclamar com a rival e uma breve discussão aconteceu.

Vollering em condições normais seria a favorita em um sprint, por isso ficar apenas de roda e disputar a chegada mais “descansada” era facilitar ainda mais. No fim, Van Vleuten se antecipou ao sprint e sustentou por mais tempo. Vollering chegou a botar de lado mas não resistiu sustentar a potência por tanto tempo e foi derrotada. Um final eletrizante e com suspense até a linha de chegada, mas o resultado comum: Annemiek campeã, outra vez.

Entre os homens, diversos tombos aconteceram, mas o pior deles foi a 40 quilômetros do fim, quando Fernando Gaviria (UAE Team) fraturou a clavícula em uma queda. Má sorte para o ciclista Colombiano que recuperava-se de contrair Covid pela 3ª vez.

Na frente, um grupo com 6 ciclistas seguia com 1 minuto de vantagem, entre eles estavam Florian Vermeesch (Lotto-Soudal), vice campeão da Paris-Roubaix 2021, e Stefan Küng (FDJ). A Jumbo-Visma acelerou com Tiesj Benoot  e a Ineos-Grenadiers respondeu com Narvaez e Pidcock.  Sonny Colbrelli (Bahrain-Victorious) viu que um grupo forte escapava com Wout Van Aert (Jumbo) e seguiu. Logo, a perseguição se formou com Wout (Jumbo-Visma), Benoot (Jumbo-Visma), Colbrelli (Bahrain – Victorious), Pidcock e Narváez (Ineos-Grenadiers)Pouco tempo após, os dois grupos se juntaram à frente. A 20 quilômetros do fim, Tiesj Benoot atacou solo e Narvaez teve que trabalhar sozinho para buscá-lo na grupo perseguidor, mas sem sucesso. O pelotão alcançou o grupo com Pidcock e Van Aert  e só com o trabalho de todo o pelotão, buscaram Benoot pouco antes do Bosberg, que foi justamente onde Wout Van Aert atacou. O ataque quebrou todo o pelotão que vinha atrás e a vantagem de Van Aert começou a aumentar.

A Quickstep tentava buscar o Belga da Jumbo-Visma, sem sucesso. Wout ligou o modo contrarrelógio e cruzou a chegada sozinho, com tempo pra comemorar. O pelotão veio atrás para um sprint  pelo segundo lugar que foi vencido por Colbrelli à frente de Van Avermaet (AG2R Citröen). Além da vitória, Van Aert entrou para uma estatística curiosa: é apenas o terceiro ciclista desde 1982 a vencer a Omloop sem ter corrido antes na temporada. Ou seja, estreou na Omloop e já venceu no primeiro dia de competições no ano. Dizer que esses caras são impressionantes já virou lugar comum.

Pogacar vence a UAE com tranquilidade e Philipsen se confirma

Nos Emirados Árabes Unidos, foram quatro dias de plano, uma pequena crono e duas chegadas ao alto.
Nas chegadas ao alto, Tadej Pogacar (UAE Team) venceu com facilidade, apenas Adam Yates (Ineos-Grenadiers) foi sombra de oposição ao Esloveno, mas sem jamais realmente ser uma ameaça. Nos sprints Jasper Philipsen (Alpecin-Fenix) venceu duas à frente de Mark Cavendish (Quickstep) e outros nomes como Dylan Groenewegen (Bike-Exchange). O ciclista da Alpecin conquistou a camisa de pontos e mostrou estar um nível acima da concorrência.

Quem apareceu bem nos sprints também foi Olav Kooij (Jumbo-Visma) de apenas 20 anos. Olho nele! Cavendish venceu uma etapa plana e a outra ficou para Mathias Vacek (Gazprom) em um dia que o pelotão dormiu e deixou a fuga vencer. Na crono uma “surpresa” com Filippo Ganna (Ineos) perdendo pela primeira vez em 2022 um ITT. Não foi para qualquer um, obviamente. Stefan Bissegger (EF-Easypost) é um especialista nesse tipo de prova. Das quatro vitórias na carreira, três foram em cronos curtas/prólogo. Foi também a primeira vez que ambos se encontraram nesse tipo de prova, pois das outras vezes foram cronos de média distância. O Suíço venceu esta, mas por uma margem pequena. Valeu a disputa.

Valverde vence na Galícia, Woods faz bonito e Padun brilha na crono

A outra prova por etapas da semana foi a Gran Camiño, uma versão atualizada da Volta a Galícia, encerrada em 2000. O vovô Alejandro Valverde (Movistar) venceu aos 41 anos, a terceira etapa e a Classificação Geral. Foi uma bela disputa com Michael Woods (Israel-Premier Tech) dia a dia, com o Canadense vencendo a etapa 2 com chegada ao Mirador de Ézaro e Valverde conquistando a terceira, em sprint a dois. Mas a crono final fez a diferença e o Murciano levou a Classificação Geral. A última etapa inclusive, foi vencida pelo Ucraniano Mark Padun (EF-Easypost) que deu mostras outra vez, daquele corredor que venceu duas etapas na Criterium du Dauphiné 2021. A EF inclusive, saiu com 2 vitórias de etapa, a crono final com `Padun e a primeira com Magnus Cort Nielsen. Belo resultado da equipe de Jonathan Vaughters.

Clássicas por todo lado

Estamos na melhor parte da temporada. Corridas de um dia em sequência em vários lugares com disputas a todo vapor. Na França, Brandon McNulty (UAE Team) venceu a  Faun-Ardeche e Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) conquistou a Drôme Classic.

Na Bélgica, Fabio Jakobsen (Quickstep-Alphavynil) venceu uma eletrizante Kuurne-Brussels-Kuurne que esteve indefinida entre a fuga e pelotão até os últimos metros. O trio Laporte (Jumbo-Visma), Narváez (Ineos-Grenadiers) e Taco Van der Hoorn (Intermarché) se segurou à frente do pelotão pelos últimos quilômetros como se suas vidas dependessem disso. Se a prova tivesse talvez 50m a menos, ficariam com a vitória. A Quickstep no entanto, após ter ficado de fora dos movimentos decisivos da Omloop, fez um trabalho perfeito para Jakobsen finalizar e conquistar a sua quinta vitória dele na temporada.

Marta Bastianelli (UAE Team) venceu mais uma vez na Omloop van het Hageland, batendo Emma Nosgaard (Movistar) e Floortje Mackaij (Team DSM) no sprint. É a terceira vitória do ano para a Italiana e para o time, estreante no WWT.

Emma Nosgaard no entanto, conquistou a vitória da Le Samyn des Dames em cima de duas Italianas: Chiara Consonni (Valcar) e Vittoria Guazzini (FDJ Nouvelle), também no sprint. A Dinamarquesa de 22 anos foi responsável pela quarta vitória da Movistar Team no WWT esse ano, a equipe mais vencedora até aqui.

Por falar em Le Samyn, entre os homens, tivemos a vitória de Matteo Trentin (UAE) que bateu o sprint do grupo escapado que se segurou segundos à frente do pelotão e conquistou mais uma vitória para o time de Tadej Pogacar.  A UAE, que aliás deu uma aula tática e demonstração de força no Trofeo Laigueglia, semi-clássica Italiana, que viu a equipe vencer e dominar o pódio com três atletas: Jan Polanc venceu, Juan Ayuso, a grande promessa Espanhola, chegou em segundo e Alessandro Covi, que já conquistou duas vitórias na temporada, completou o pódio. Total dominação da equipe que além do melhor ciclista do mundo, já soma 11 vitórias em 2022. Os novos donos do pelotão? O tempo dirá.

E aproveitando que estamos em terras Italianas, sábado teremos Strade Bianche, para homens e mulheres e é sem d´´uvida, um dos melhores eventos do ano. E para melhorar, com previsão de chuva congelante, talvez até neve. Simplesmente IMPERDÍVEL. No mesmo dia, teremos a final da EasyToys Fryslan Tour, uma prova feminina por etapas na Holanda e no Domingo, a primeira etapa da Paris-Nice. Habemus temporada, habemus Clássicas e não pára mais. Ainda bem!

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