A Vuelta a Espanha 2021 chegou ao fim e apesar de inúmeros acontecimentos, seu patrão segue o mesmo desde 2019: Primoz Roglič (Jumbo-Visma). O Esloveno se junta a Tony Rominger e Alberto Contador no clube de tricampeões da Grande Volta Espanhola e é apenas a 3ª vez na história que o tricampeonato seguido acontece. Os anteriores foram Rominger (1992 a 1994) e Roberto Heras (2003 a 2005). Heras, inclusive, é o maior vencedor da história, com 4 vitórias, número que pode ser alcançado por Primoz no ano que vem.

Ou seja, é fato que Roglič é um dos maiores nomes da história desta corrida, sem discussão. E com potencial para mais. Roglič é um gigante.Quando ele venceu o título Olímpico de contrarrelógio, comparei-o a Rocky Balboa, por sua natureza resiliente. Por saber bater, mas também resistir às pancadas e decepções que o esporte traz.  O ciclista da Jumbo pode ser um ex-esquiador, mas tem alma de lutador.

Roglic é tricampoeão da Vuelta a España (Luis Angel Gomez / Photogomezspo)

Não à toa, ao pensar nos momentos em que ele decidiu a terceira vitória nesta Vuelta, me veio à mente outra comparação com lutas. O lema de Kobra Kai. Kobra Kai era o dojô do rival de Daniel San nos filmes de Karatê Kid. O estilo de Karatê deles era agressivo, oposto ao tradicional Karatê defensivo  praticado no Japão. Seu lema era:

Strike First, Strike Hard, No Mercy!”

“Ataque primeiro, ataque com força, sem misericórdia”, em tradução direta. E foi justamente assim que Primoz conduziu esta corrida.

Strike first – Ataque primeiro

A Vuelta começou com um prólogo na cidade de Burgos e já no primeiro dia, Roglič começou a impor sua superioridade. Recém-coroado Campeão Olímpico, ele decolou no trajeto para vencer a etapa e acumular vantagem contra todos os rivais diretos na Classificação Geral. À época, Egan Bernal e Richard Carapaz (Ineos-Grenadiers) eram vistos como as principais ameaças e já perderam preciosos segundos para o líder. Enric Mas e Miguel Ángel López (Movistar) tiveram um desempenho dentro do esperado e também perderam tempo. Ou seja, todos os principais rivais souberam que ele estava forte e viria pra vencer. Um golpe não só na disputa de tempo, mas também na parte mental. A imagem de Roglič ao vestir vermelho logo no primeiro dia, deixava claro: este aqui é o dono da corrida.

Roglic vestiu a Camisa Vermelha já no contrarrelógio da Etapa 1 (Luis Angel Gomez / Photogomezspo)

Ainda na primeira semana, o campeão nunca demonstrou qualquer fraqueza e seguia somando mais vantagem à medida que as etapas se acumulavam como em Balcón de Alicante e Alto de Velefique, onde Mikel Landa (Bahrain-Victorious), Bernal, López e outros perderam tempo. Os rivais começavam a cair enquanto ele permanecia à frente.

Strike hard – Ataque com força

Se existe algo que Roglič teve de aprender com a derrota no Giro 2019 para Richard Carapaz é que o fator surpresa pode desestabilizar uma corrida e os adversários. Por isso, todo o pelotão ficou boquiaberto quando na etapa 10, apesar de a equipe ter dado margem para ciclistas da fuga tomarem a Camisa Vermelha temporariamente, Roglič atacou na subida final e desceu em disparada rumo a Rincón de la Vitória. Os rivais, desprevinidos, tiveram que perseguir. Enric Mas, Jack Haig e Angel Lopez conseguiram alcançá-lo por que o Esloveno errou uma curva e caiu, mas ainda assim, chegaram com cerca de 1 minuto de vantagem para Egan Bernal e os outros rivais. Cada vez menos adversários à vista. No dia seguinte, outra mostra de força, quando o Esloveno venceu em Valdepeñas de Jaén. Uma subida curta e duríssima, que ficou marcada pela cena de Magnus Cort Nielsen (EF-Nippo), um dos homens mais fortes do pelotão, fazendo cobrinha na subida e sendo alcançado nos metros finais. Talvez essa superioridade do ciclista da Jumbo-Visma tenha sido o fator para desencorajar os rivais, que nos dois dias de montanha ao fim da segunda semana, não tentaram movimentações agressivas. No máximo, Miguel Ángel López lançou um ataque, mas para ganhar não mais do que poucos segundos.

Enric Mas não teve muito o que fazer com a performance imbatível de Primoz Roglic (Luis Angel Gomez / Photogomezspo)

No mercy – Sem misericórdia

A lição desta vez, veio do Tour 2020. O já lendário primeiro título de Tadej Pogačar na volta francesa, onde o compatriota da UAE Emirates deixou o mundo boquiaberto e tomou a Camisa Amarela e o título das mãos de Roglič no último dia antes de Paris. Talvez com esse trauma em mente, Primoz chegou à terceira semana com fogo nos olhos e pernas de diamantes (expressão usada por ciclistas quando se sentem demasiadamente fortes). Se em outras corridas surgiu o mito de que ele sofre um pouco na terceira semana ou que não consegue manter o mesmo nível, ele tratou de afastar todas as dúvidas já na etapa 17. Quando Egan Bernal (Ineos-Grenadiers) lançou um ataque a 60 kms da meta, ele foi o único a seguir. Ambos destroçaram o grupo de favoritos e começaram a subir a mítica Lagos de Covadonga sozinhos e com boa vantagem. O Colombiano, Campeão do Giro, não aguentou o ritmo e Roglič subiu triunfante para retomar a Camisa Vermelha de vez, conquistar a terceira vitória em etapa na Vuelta 2021 e garantir a terceira vitória na Classificação Geral. Os rivais sabiam a esta altura: a única disputa em aberto é entre quem ficaria atrás dele. À frente, ninguém.

Já com a vitória garantida, ele ainda chegou em segundo na duríssima e incontrolável etapa 20, onde Superman López abandonou, Bernal deu adeus à Camisa Branca e Clement Champoussin venceu o dia. E guardou um último espetáculo para o dia final. No contrarrelógio em Santiago de Compostela, o surpreendente Magnus Cort Nielsen fez um excelente tempo e liderava a prova, até o Camisa Vermelha e campeão cruzar a linha. O Campeão Olímpico de Contrarrelógio também venceu a 21ª etapa, selando uma corrida quase perfeita. 3° título em sequência e 4 vitórias de etapa. Sem misericórdia com os rivais. Sem dar chance ao azar.

Roglic trajado de peregrino do Caminho de Santiago de Compostela, no pódio final da Vuelta (Luis Angel Gomez / Photogomezspo)

Roglič é um atleta ímpar, sem dúvidas. Um ciclista que chegou tarde ao esporte e que tem uma capacidade de superação incrível. Um processo de perde-aprende-supera repetidas vezes. Quanto mais batem, mais forte ele volta. Só resta torcer para que isso se mantenha por muito tempo, para continuar nos divertindo e fazendo história. Em Compostela, ele já mostrou que está preparado para mais. Que venha!

Obrigado a todo mundo que acompanhou o ReviraVuelta

Qria deixar o MUITO OBRIGADO a todo mundo que ouviu, participou e se divertiu com a gente nestes 21 dias no #ReviraVuelta. Em especial aos meus companheiros nessa jornada. Sem vcs, nada disso seria possível!  @AllanAlmeiida, @DavideGomes17, @Rallo_Makuin, @dricanogueira e também ao nosso ouvinte mais participativo pelo alto astral, o grande @bismarkazevedo. Simboooora!!!

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