O Giro d’Italia é muito mais do que apenas uma prova de ciclismo. É a paixão e o amor de um povo pelo seu País e pelos seus heróis. E que é transmitida para o mundo numa corrida centenária, que já faz parte da cultura local e é incontornável. Mauro Vegni tendo isso em consideração, decidiu que o melhor era começar a 105ª edição do Giro, na Hungria de Viktor Orban.
O que será do Giro, quando o genial senhor V€gni se aposentar?

Mas tudo a seu tempo. Por enquanto, contentem-se com a minha estrondosa e maravilhosa análise desta edição do Giro.

Jai Hindley, o assassino silencioso

Tem cara de menino, coração de gelo e nervos de aço. O único momento de fraqueza foi no Blockhaus e aí teve a sorte de ter à disposição o melhor reboque do pelotão, que o fez colar nos da frente. Esta foi uma oportunidade única. O percurso deste Giro o beneficiava: muita montanha e pouco contrarrelógio.

Tinha contas pendentes no Giro, saldou-as, agora é hora de ganhar coragem e enfrentar os Eslovenos. Tudo que seja ficar a menos de 5 minutos de Pogacar será uma vitória.

Jai Hindley, o campeão do Giro d’Italia 2022

Pódio e Top 10

LOCOMOTIVA

Olhando pelo lado positivo, Richard Carapaz (Ineos), pelo menos desta vez, não ficou a 7 minutos do vencedor. O lado negativo é que chegou como claro favorito e sai sem o troféu Senza Fine nas mãos.
A sua atitude desiludiu. Tirando a etapa de Turim, foi pouco ofensivo e a sua equipe também pouco fez para que ele abrisse tempo nos rivais. A equipe britânica e o seu trem com a locomotiva descarrilaram com estrondo na Marmolada.

Richard Carapaz ficou em segundo lugar no Giro d’Italia 2022

LANDISMO É ETERNO?

Landismo sai deste Giro bastante ferido. O Deus desta religião foi pouco audaz e rebelde. As loucuras que definiram o Landismo durante anos, desapareceram e até os seus súditos parecem resignados. O resultado desiludiu, o Landismo não admite pódios ou vitórias. Abandonos trágicos e lugares fora do pódio, depois de ataques desvairados, são a essência do Landismo.

Devolvam o velho Landismo!

Landa acabou em terceiro lugar no pódio do Giro

LAST DANCE DO TUBARÃO

Este Giro para o Vincenzo Nibali (Astana) foi um pouco a imagem da sua carreira. Muito vudu e ataques nas descidas. Só faltou agarrar-se ao carro.
Um dos melhores ciclistas italianos da história despediu-se do Giro de maneira digna. Quem é que apostava que ele acabaria em 4º lugar?

Nibali se despediu do Giro com um honroso 4º lugar na Geral

PEIO BILBAO, O OUTRO BASCO

Sinceramente esteve lá, mas pouco se viu. E mesmo como gregário, tirando a etapa de Turim, não foi nada demais. Wout Poels e Santiago Buitrago (Bahrain) brilharam mais nessa função. Fez Top 5 ao melhor estilo de Haimar Zubeldia. É um dos melhores a descer e nem um ataque fez nesse terreno. Oportunidades não lhe faltaram.

JAN HIRTO

Ganhou uma etapa e aguentou-se pelo Top 10. Jan Hirt (Intermarché-Wanty) esteve hirto como uma barra de ferro. Notável o Giro da  Intermarché-Wanty! Colocou dois ciclistas nos 10 primeiros, além de duas vitórias de etapa.

Jan Hirt venceu a Etapa 16 e garantiu a segunda vitória da Intermarché

BOOKMAN

Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe) um gregário decente, não brilhou em mais nada. Como outros, fez Top 10 porque metade dos pré-favoritos abandonaram.

A PULGA

O Giro da pulga de Policoro foi o retrato da sua carreira: duas semanas brutais a subir com os melhores e a última semana a arrastar-se. De qualquer forma, com 39 anos, desempregado no inicio do ano, chega ao Giro e termina no Top 10. Domenico Pozzovivo (Intermarché-Wanty) está de parabéns!

MISTER 3ª SEMANA

Foi o oposto da pulga! Hugh Carthy (EF) foi small nas duas primeiras semanas e huge na última, que lhe permitiu ascender ao Top 10. O azar dele é que não há quarta semana.

JUANPE

Juanpe Lopez (Trek-Seagfredo) chegou à rosa e para defendê-la fez de tudo! Desde agredir o Sam Oomen (Jumbo-Visma) com um bidon no Blockhaus até tentar a ‘tática da banana no Mario Kart’, durante a etapa de Turim, quando atirou o seu musette para o chão com o objetivo de eliminar rivais. Naturalmente acabou por perder a rosa, mas aguentou-se no Top 10 e com o abandono de João Almeida (UAE), venceu a juventude.

Juan Pedro López vestiu a Maglia Rosa por 9 dias e fechou o Top10

Gregários

‘IL TRENO’ DA GROUPAMA

Foi uma edição muito pobre em relação a gregários, ao contrário de 2021. O trem da Groupama-FDJ brilhou e por isso merece uma menção. Jacobo Guarnieri (Groupama-FDJ) liderou uma equipe que conseguiu colocar Arnaud Démare (Groupama-FDJ) na cara do gol.

LENNY KAMNA

Bastaram 5 minutos na Marmolada para o colocar aqui. Na realidade, durante 19 dias foi um péssimo gregário, a maioria dos dias em fuga e sem qualquer utilidade para Hindley, mas aquele rush final na Marmolada foi decisivo e definiu este Giro.

Hindley e Kamna no ataque que decidiu o Giro

Volata

NONO

Sobre o Giro de Arnaud Démare (Groupama-FDJ) não há muito por onde pegar, 3 vitórias ao sprint! nNs últimas duas edições que participou, ganhou 7 etapas e venceu 2 vezes a Ciclamino.
É uma pena não estar no Tour, com a atual forma era um bom candidato a lutar pelo 2º lugar nos sprints.

Arnaud Demare conquistou a Maglia Ciclamino pela segunda vez no Giro

MATHI€U

Excelente prova de Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix), 21 dias a pedalar pela Itália, uma vitória de etapa, vestiu a Maglia Rosa, ganhou a combatividade e a conta bancária cresceu consideravelmente. Por estas coisas é que ele é o melhor de todos os tempos.

Mathieu van der Poel ganhou o prêmio de Mais Combativo do Giro 2022

Enquanto isso, o segundo melhor de todos os tempos anda a gravar promoções sem interesse nenhum, por essas coisas é que nunca chegará aos calcanhares do melhor de sempre.

BINI, O ROLHAS

O grande momento de Biniam Girmay (Intermarché-Wanty) neste Giro foi quando agrediu barbaramente uma rolha em pleno pódio. Um momento trágico-cómico que marcou profundamente esta edição, também demonstra o quão interessante a prova foi. Ah! E venceu uma etapa! Gianni Moscon (Astana) desde esse dia não dá notícias.

O estouro da rolha que tirou Biniam Girmay do Giro

IL PRINCIPE ALBERTO

Alberto Dainese (DSM), o canhão italiano nunca esteve perto de ganhar um sprint, mas na 11ª etapa tudo lhe saiu na perfeição e surpreendeu meio mundo, com os 50 metros mais potentes de toda a prova.

Fuga

Lennard Kamna (Bora-Hansgrohe), 2x Koen Bouwman (Jumbo-Visma), Thomas de Gendt (Lotto-Soudal), Stefano Oldani (Alpecin-Fenix), Giulio Ciccone (Trek-Segafredo), Jan Hirt (Intermarché-Wanty), Santiago Buitrago (Bahrain), Dries de Bondt (Alpecin-Fenix), Alessandro Covi (UAE) foram estes os vencedores de etapa saídos de fugas.

Ou seja, em 19 etapas (2 cronos não contam), 10 delas foram ganhas pela fuga! Isso dá uma taxa de sucesso de 52,6%! Exatamente a mesma percentagem da edição 2021.

Destaque também para o rei das fugas, Mattia Bais (Drone Hopper – Androni Giocattoli), que completou 629 Km em fuga, isso significa que andou fugitivo 18% do percurso deste Giro.

Dizem que é uma transmissão TV

Mudou o produtor (era RAI, agora é EMG) mas o miserabilismo segue! A transmissão continua a ser um exemplo daquilo que não deve ser. Pequeno resumo:

– Passaram metade das etapas a mostrar grupos aleatórios;
– Era preciso pedir por favor para termos imagens do pelotão principal;
– A cada 10 minutos tínhamos o oráculo com os batimentos cardíacos de van der Poel e Hugh Carthy;
– O realizador deve ter um fetiche por nuvens e pelo Valverde! A cada vez que o homem apeava ficava uma moto com ele;
– Perdemos vários momentos importantes. Por exemplo, quando Carapaz ficou para trás na Marmolada, só o vemos a 10 metros dos Bora e perdemos o exato momento que descolou;
Hindley acabava de ganhar o Giro, estava a ser entrevistado e em vez de vermos o ciclista, tivemos direito a imagens dos bairros perdidos de Verona;

O grande campeão, o Australiano Jai Hindley

Fiquem bem.
Ciao.

Fotos: Alpozzi/D’Alberto/Ferrari/Paolone/ LaPresse


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