Nunca gostei da Ineos, desde quando se chamava Sky. Pode ser só porque sobrei da roda do Brailsford na Liège-Bastogne-Liège de amadores, ou porque ele tinha o carro da Sky pra pegar água e eu não. Ou pode ser porque nunca engoli a história do Froome, quando ataquei depois da bifurcação que vai do Prefeito pra Mesa e ele me alcançou, e chegou primeiro. Mesmo que ele não tenha ganho as Olimpíadas dois dias depois, eu fiquei chateado.

Sempre gostei do Giro. Pode ser porque nunca pedalei na Itália ou só porque gosto de pizza. Ou pode ser porque foi o Giro a primeira grande volta do Nairo em 2014, e também o último melhor resultado, sofrido, em 2017. Pode ser porque é o primeiro do ano, ou só porque é rosa. Porque tem o troféu mais bonito, ou porque é o mais gostoso de ouvir ‘Peter Sagana, Egana Bernala!’

Esse ano, tive que escolher: ou não gostava mais do Giro ou era hora de me resolver com a Ineos. Pra ficar só no último sábado, e só na última subida, Bernal, Martinez e Castroviejo. Depois de esperar Martinez alcançar o grupo no fim da descida, Castroviejo carregou os dois até o começo da subida, e mais um pouco, e soltou as bestas. Martinez estava encapetado, mordeu o dente e subiu mais rápido que desceu. As pedaladas pareciam desproporcionais, desmedidas, com mais força do que precisava, esbanjando pra mostrar e assustar. Parece que rosnava a cada pedalada. Foram caindo no grito, um a um, Carthy, Vlasov, Yates, João. Quando todos ficaram, ele ainda continuou. Parou quando a vantagem era grande e Bernal estava em casa.

Martinez estava feroz. Pensei que ia buscar Caruso e morder a canela, desembestado, sem freio. Mas Caruso chegou antes. E que chegada! Quando o gregário parou exausto, Caruso deu um tapinha nas costas do Bilbao. Reconhecimento de quem se viu no outro, onde sempre esteve. O ciclismo tem muitas horas, e por isso poucos minutos pra se lembrar, mas esse vai ser difícil esquecer. Gregário por gregários, unidos pra ganhar a etapa e conquistar o segundo lugar.

A chegada de sábado sacramentou o domingo de sol. Bernal já era o campeão mas ainda tinha que pedalar. Uma curva mal feita, um pneu furado mal trocado, um tombo mal caído. Só tudo que pode acontecer em 30km de ciclismo a 50km/h podia atrapalhar Bernal. Tudo aconteceu, mas nada com Bernal. E nada atrapalhou. Ganna furou, mas trocou mais rápido que pit stop. Cavagna caiu, mas não machucou. Ineos levou.

Tudo deu certo e mais uma vez um colombiano ganhou o Giro. E ainda no começo do Giro, Bernal não deixou de mandar sua força aos colombianos, pedalando e falando. Torci mais pro Nairo, mas comemorei com o Bernal e Martinez “con grinta y berraquera fino alla fine”. Nunca vou gostar da Ineos, mas sempre vou torcer pelos colombianos no Giro.


Kleto Zan é engenheiro de software, ciclista e detesta fotografia, mas escreve como ninguém.

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