O L’etape Brasil confirmou essa semana a inclusão da categoria e-bikes na prova que acontece de 4 a 6 de dezembro em Campos do Jordão (SP). Quase que na mesma hora, uma onda de comentários polemizando a decisão se espalhou pelas redes sociais. A prova que acontece pelo 6º ano consecutivo no Brasil, inclui pela primeira vez a categoria E-BIKE EXPERIENCE. A chamada da prova não deixa dúvida: ‘Agora você pode viver a experiência do L’Etape com sua bike assistida’.

E esclarece: ‘Essa nova categoria é exclusiva para quem quer viver a experiência L’Étape Brasil by Tour de France sem se preocupar com performance. A modalidade é exclusiva para bikes elétricas e não há premiação por categoria de idade, por gênero masculino ou feminino, assim como não terá direito a concorrer ao Prêmio de Rei e Rainha da Montanha.’

Foto: Instagram @letapebrasil

A categoria e-bike é a primeira iniciativa em competições deste porte no país e fará parte do percurso de 66 quilômetros de distância. A largada da categoria será junto ao segundo pelotão do percurso curto.

Teve gente que ‘teve nervo’ só de pensar no assunto. ‘E o mundo perde a graça…’, comentou outro mais desiludido. Teve até quem defendesse o ‘Libera logo o doping’. E gente dizendo que isso vai ‘mudar totalmente a essência do esporte.’ Muitos defendiam o uso das e-bikes para deslocamentos e para inclusão de outras pessoas no pedal, mas achava ‘bizarro colocar categoria numa prova competitiva.’

Ampliar o debate para além dos 140 caracteres é um dos objetivos aqui do BikeBlz e parto de um dos comentários que me fez ‘Rir alto’: ‘Poderia ter uma categoria só pra quem não usa freio a disco também.’

Serão as e-bikes os ‘novos’ freios a disco?

A comparação aqui é válida. A UCI fez três anos de testes com os freios a disco e sob algumas controvérsias, acabou liberando o seu uso em competições de ciclismo de estrada e MTB a partir de Julho 2018.

Durante esse período, algumas alterações como testes com capas protetoras foram sugeridas mas logo descartadas e o arredondamento das bordas do disco de freio foram um dos avanços desenvolvidos a partir principalmente do acidente com o ciclista Francisco Ventoso que durante a Paris-Roubaix teria cortando a canela no disco de freio. Em 2017, Marcel Kittel já havia feito história ao ganhar uma etapa do Tour de France (2ª) com uma bike de freios a disco pela primeira vez.

Kittel e sua bike com freios a disco
Marcel Kittel beija sua S-Works Tarmac com freios a disco. Foto:Divulgação/ASO

Hoje ninguém discute mais a esse respeito. Todo o pelotão profissional usa discos como padrão e eles nem chamam mais tanta atenção.

Assim como os ‘antigos’ freios a disco, a chegada das e-bikes traz de volta a polêmica entre os tradicionalistas e os ‘early adopters’ pro embate. Não há dúvida que as e-bikes vieram pra ficar. A própria UCI em agosto 2019 realizou pela primeira vez o Campeonato Mundial de e-MTB, junto as categorias de cross-Country Olímpico (XCO) e de Downhill (DHI) em Mont-Saint-Anne, no Canadá. E chegou a enfrentar uma esdrúxula polêmica com a Federação Internacional de Motociclismo, que de olho no novo mercado, queria ser dona das competições de bikes elétricas.

O próximo Mundial de MTB está previsto para acontecer ainda este ano de 5 a 11 de Outubro com as categorias XCO, XCR, DHI e E-MTB em Leogang, na Áustria e tem o patrocínio master olha só…da Mercedes Benz.

O crescimento das e-bikes nos EUA

Foto: Victor Xok | Unsplash

Existe um interesse crescente por e-bikes verificado em todo o mundo, potencializado agora pela crise do COVID-19, especialmente entre os mais velhos. Segundo a revista americana Fast Company, ‘as bicicletas elétricas estão capturando especialmente o mercado antigo, muitos dos quais descobriram que as bicicletas elétricas lhes permitem andar muito mais tarde na vida do que imaginavam anteriormente.’ e afirma: ‘As bicicletas elétricas estão ajudando a manter os idosos jovens e, em alguns casos, até aliviando os sintomas da doença de Alzheimer e da doença de Parkinson.’

Foto: Junimba Simões

O crescimento das e-bikes na Europa

As vendas de bicicletas elétricas sofreram um boom a partir do super verão Europeu, quente e sem chuvas, de 2018. Na Suécia, esse mercado recebeu um impulso extra do governo, que oferece um subsídio de até mil euros na compra de uma bicicleta elétrica. Na Dinamarca, as bicicletas elétricas estão se tornando uma força de mercado significativa. Isso é evidenciado por uma importação quadruplicada nos últimos cinco anos e uma participação de mercado que se aproxima de dez por cento, com vendas totais de cerca de 40.000 unidades em 2018. (Fonte: E-Bike Sales Skyrockets around Europe)

A Alemanha domina o mercado europeu com quase 38% de participação de mercado em 2019. É seguida pela Holanda e pela França, com ambas capturando mais de 11% de participação cada, no mercado europeu total. O mercado alemão de bicicletas elétricas deverá atingir US$ 5,84 bilhões até 2025, segundo o relatório Europe E-Bike Market – Crescimento, Tendências e Previsão (2020-2025).

Modelo Bianchi Aria E-road. Foto: Divulgação Bianchi

Um total de 4,31 milhões de bicicletas foram vendidas na Alemanha em 2019, dos quais quase 31,5% eram elétricas (ou seja, 1,36 milhão de e-bikes). Esse foi um aumento acentuado em comparação as cerca de 980.000 bicicletas de 2018. As bicicletas E-City/Urban, e-Trekking e E-MTB foram as categorias preferidas, ocupando quase 94% de todas as vendas de e-bike no país.

Ok, me convenci, mas competir não!

Um dos primeiros grandes espetáculos para as massas, ocorreu durante o Império Romano em arenas lotadas do Coliseum de Roma e também na Arena de Verona, palco inclusive da última etapa do Giro d’Italia 2019, onde Gladiadores lutavam até a morte e enfrentavam leões famintos.

Paris-Roubaix, Liége-Bastogne-Liége, Milan-Sanremo não foram corridas criadas pra ver quem era o mais bonito, mas sim pra ver quem era o mais corajoso, forte e por que não, maluco.

As e-bikes já são mais que uma realidade. Estão aí pra valer e vão conquistar cada vez mais ciclistas e também competições. Porque apesar de elétricas, elas não andam sozinhas e vão sempre precisar da força do Homem para seguir em frente. E sempre vai ter quem queira competir. Por isso, força na e-bota e vida longa as competições de e-bikes. Como disse outro twitteiro: ‘o futuro é das e-bikes gravel com freio a disco!’ Só vai sobrar o Emico fora dessa!

Um evento exclusivo para e-bikes

De 9 a 11 de abril de 2021 acontece o DEW21 E-BIKE, o maior festival europeu de e-bikes em Dortmund, na Alemanha. O tema não poderia ser mais apropriado: “Descubra a mobilidade eletrônica’.

Foto de capa: Junimba Simões do modelo Bianchi Impulso e-Road na Eurobike 2019.

 

Instagram