No último dia 8 de novembro de 2020, o histórico aeroporto da capital alemã, Tegel (TXL) fechou suas portas definitivamente para pousos e decolagens. No seu lugar, um aeroporto completamente novo, o Berlin Brandenburg (BER), construído ao sul da cidade, que após inaugurações canceladas e adiadas, enfim foi inaugurado com bilhões acima do orçamento previsto e 9 anos de atraso.
A cidade conta agora com dois aeroportos fechados: Tempelhof, que funciona como um parque desde 2010 e agora Tegel (TXL). E possuí ainda outro em operação, o Aeroporto de Schönefeld (SXF) que deve permanecer ainda em funcionamento até o novo aeroporto absorver todo o trabalho.
Como tudo começou: Berliner Luftbrücke (1948-1949), a ponte aérea que salvou Berlim Ocidental
Quando os Soviéticos tentaram matar de fome os habitantes dos setores ocidentais da cidade, interrompendo o acesso ferroviário, rodoviário e hidroviário à cidade de Berlim Ocidental, seu objetivo era forçar as potências ocidentais a sair, dando assim o controle Soviético sobre toda a cidade. Tornando-se uma das maiores crises da Guerra Fria. Mas em resposta, os Aliados organizaram uma ponte aérea para transportar suprimentos para as pessoas e assim, mais de 200.000 voos em um ano foram realizados e até 4.700 toneladas diárias de suprimentos, como combustível e comida para os berlinenses foi feito pela força aérea americana e inglesa.
O Aeroporto de Tegel tem estado perto do coração dos berlinenses desde o início. Pouco depois do bloqueio soviético de Berlim Ocidental em 1948, as tropas de ocupação francesas construíram um campo de aviação na parte noroeste da cidade para apoiar os Aliados na ponte aérea de Berlim, executada inicialmente através do Aeroporto de Tempelhof. A solução temporária permaneceu, fornecendo um centro importante para que os berlinenses ocidentais deixassem a cidade. Isso se tornou ainda mais necessário quando o Muro de Berlim foi erguido em 1961.
Tegel: um projeto inovador
Com o crescente número de passageiros e voos a partir dos anos 60, Tegel foi ampliado em 1974 e o conceito de sucesso de um aeroporto sem uma zona de trânsito central, permitida por seu conceito e desenho arquitetônico inovador, criava distâncias curtas, ao invés de um grande shopping center sem fim, cheio de controles de segurança como ocorre hoje nos grandes aeroportos do mundo. O seu prédio de forma hexagonal foi e ainda é revolucionário. E com certeza deixará saudade em muitos viajantes acostumados a chegar rapidamente ao carrossel de bagagens ou seguir direto para a aeronave logo após despachar as malas, pois o portão de embarque ficava literalmente atrás do balcão.
Mas após 46 anos de serviço prestados a cidade, ele enfim encerra sua operação. Mas o que irá se fazer com um aeroporto abandonado e toda esta área livre? São 495 hectares (ha), equivalentes a quase 1000 campos de futebol. Mas lembre-se, estamos na Alemanha e nada aqui se faz de orelhada, achismos ou sem planejamento de longo prazo. O que vem a seguir?
Berlin TXL – The Urban Tech Republic
Esta questão é discutida publicamente desde 2008. E desde o início tratou-se de desenvolver conceitos em um amplo debate. Os berlinenses interessados não só puderam obter insights sobre o processo de brainstorming, mas também se envolver de forma construtiva.
Em um processo de workshop discursivo de várias etapas, seis equipes internacionais de arquitetos, planejadores urbanos e paisagistas trabalharam em ideias que foram desenvolvidas em seis conferências locais com especialistas adicionais e o público interessado em Berlim. Em 2011, o estado de Berlim manifestou os resultados do processo de planejamento com o estabelecimento de um plano de uso do solo correspondente.
Em um novo processo de workshop com as equipes de planejamento, o plano diretor foi desenvolvido em 2012 e tornado obrigatório pelo Estado de Berlim em 2013. Ao mesmo tempo, foram iniciados os procedimentos do plano de desenvolvimento para que quando o terreno do aeroporto fosse devolvido aos dois proprietários – o Governo Federal e o Estado – houvesse um direito de planejamento vinculativo para usos futuros.
E assim foi criada a Berlin TXL – The Urban Tech Republic, a empresa pública responsável por esta transformação. Seis tópicos principais de tecnologias urbanas foram definidos para o novo bairro no local:
• Sistemas de energia neutros para o clima e o uso eficiente de energia
• mobilidade amiga do ambiente
• água limpa
• reciclando
• o uso de novos materiais para aplicações como construção sustentável
• o controle em rede de sistemas
Nas imediações da Urban Tech Republic, uma área residencial inteligente será construída com mais de 5.000 apartamentos para mais de 10.000 pessoas e se tornará a maior cidade de madeira do mundo. Isso mesmo madeira! E se chamará Schumacher Quartier. E mais 4.000 apartamentos estão planejados para serem contruídos nos bairros vizinhos de Cité Pasteur e TXL Nord. No total, toda a área de Berlin TXL (incluindo áreas residenciais e parque paisagístico) cobre uma área de 5 km² – isso corresponde a cerca de 5% da área urbana de Paris.
O novo bairro que promete representar um novo conceito de mobilidade urbana. Investindo na ciência e tecnologia, reunirá mais de 1000 companhias dentre start-ups, institutos de ensino e pesquisa, abrigando 5000 estudantes e gerando 17.500 empregos na região.
O bairro residencial Schumacher Quartier será em grande parte sem carros. Todas as áreas de tráfego serão planejados como espaços verdes com tráfego reduzido. E não haverá lugares de estacionamento nas ruas. Estações de carregamento para veículos elétricos domésticos e oficinas de conserto de bicicletas estão previstas e serviços de entrega poderão entregar suas mercadorias com bicicletas de carga na área residencial com rotas abertas usando de tecnologia para o tráfego.
No parque de inovação da Urban Tech, pesquisadores e empresas já desenvolvem e testam novos conceitos de mobilidade, de serviços de compartilhamento, passageiros multimodais e tráfego de entrega autônoma. A infraestrutura para bicicletas oferecerá um alto padrão de segurança com pontos de transferência mais importantes entre os vários meios de transporte, chamados de ‘hubs de mobilidade’, combinando sistemas autônomos, carros, bicicletas e e-mobilidade e funcionando como conexões com o transporte público.
Linha do tempo do projeto:
• Meados de 2021: Tegel Projekt GmbH assume o local
• A partir do outono de 2021: estabelecimento de logística de construção, construção de estradas, remoção de locais contaminados
• A partir de 2022: início das obras de engenharia civil; Aluguéis para uso temporário nos edifícios existentes paralelamente à renovação e conversão; Alocação de terreno
• A partir de 2027: conclusão da maioria das medidas de renovação; Inclusão da operação da Beuth University no Terminal A, start-up e centro de tecnologia no Terminal B e a Brigada de Incêndio de Berlim e Academia de Serviços de Resgate nos hangares.
• Desenvolvimento do projeto geral em quatro fases de construção até aproximadamente 2040.
Sim, existe um plano até 2040. Aqui nada se faz do dia pra noite. Tudo é muito bem planejado e visa o equilíbrio e bem estar social da cidade e seus cidadãos. É 7×1 todo dia. 🙂
Quer saber mais baixe a brochura do projeto aqui.
