Anna Kiesenhofer (30) ganhou a segunda medalha de ouro olímpica para a Áustria no ciclismo, depois de 125 anos e realizou um feito daqueles para entrar para história das Olimpíadas. Ela mal podia acreditar em seu triunfo logo após cruzar solo, com 1’15 de vantagem, a linha de chegada em Tóquio.

E a história por si só é marcante. Anna Kiesenhofer é uma ciclista amadora com pós-doc em matemática. Concluiu seu mestrado em Cambridge e trabalha em tempo integral no Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne, na Suíça. Fluente em cinco idiomas, seu último contrato em uma equipe profissional foi em 2017, na Lotto Soudal Ladies. Ela é a atual Campeã Nacional de Crono (2019, 2020, 2021), mas ela não participará da prova em Tóquio, preferindo correr na estrada e olha só que desfecho.

Mas apesar destes títulos, nada se compara ao que ela conquistou hoje. Fazendo a corrida da sua vida e como uma forasteira, enfrentou os maiores nomes do esporte feminino, incluindo a forte e favorita Seleção Holandesa formada por nada menos que Annemiek van Vleuten (Prata), a Campeã do Mundo Anne van der Breggen, a multi-campeã, Marianne Vos, além de Demi Vollerini. Com um ataque no quilômetro zero e como se diz na F1, venceu de ponta-a-ponta! Um fato também raro.

Ela compôs a fuga com Omer Shapira (Israel) e Anna Plichta (Polônia) e juntas chegaram a abrir 10 minutos do pelotão! Acostumadas a correr com o apoio da equipe pelos rádios, nos Jogos Olímpicos eles não são permitidos e o pelotão se mostrou um tanto quanto desordenado e confuso para buscar à frente da prova. Sem olhar para trás, a Austríaca fez o ataque decisivo faltando 45 km pro final e cruzou sozinha a meta no Circuito Fuji para ganhar a medalha de ouro de maneira inacreditável.

Afirmando em coletiva ser seu único patrão quando se trata da preparação, disse que precisa ter a sua liberdade para controlar e escolher as corridas sozinha. Perguntada se o fato de ser matemática ajudou na vitória, ela respondeu:

A grande incógnita é a velocidade dos outros atrás. Posso calcular o quão rápido posso ser, mas nunca sei o quão rápido os outros são. Fiz simulações com performance de quanto tempo levaria para alocar as alimentação, mas você nunca sabe de antemão.

Antes da corrida, ela usou seus estudos para se preparar para os Jogos. No início deste mês, ela tweetou um gráfico que demonstrou seu meticuloso processo de aclimatação ao calor, em preparação para as temperaturas em Tóquio.

A parte curiosa da corrida se deu ainda com Annemiek van Vleuten que vibrou muito ao cruzar a meta, sem saber na realidade que havia terminado em segundo lugar. O bronze ficou com a italiana Elisa Longo Borghini.

A discussão acabou tomando conta das redes sociais. Com críticas sobre a estratégia (ou falta dela), recaindo principalmente sobre a equipe Holandesa, que não controlou a prova, provocando as mais diversas teorias para tentar explicar o feito da Austríaca. O certo é que nunca vimos se discutir tanto a categoria feminina como hoje. E isso é bom.

Parabéns a PHD em matemática. Foi a mais forte e mais inteligente hoje e provavelmente, amanhã também. 🙂

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