A segunda maior prova de ciclismo da Península Ibérica terminou domingo passado em Santiago de Compostela. Aqui ficam aqueles que para mim foram os destaques:
Tri-Roglic
Primoz Roglic (Jumbo-Visma) é um ciclista que gosta de dar emoção a qualquer prova que está presente. Esta Vuelta fez de tudo, esmagou os adversários nos contrarrelógios, beijou o chão como já é tradição e acompanhou Bernal (Ineos Grenadiers) num dos ataques do ano na etapa dos Lagos de Covadonga.
Não demonstrou qualquer momento de fraqueza. A superioridade foi tão evidente, que ganhou com a maior vantagem sobre o segundo colocado deste século e adicionou mais quatro etapas para o seu currículo. Junta-se a Tony Rominger e a Roberto Heras como os ciclistas que conseguiram três Vueltas consecutivas. No final em Santiago de Compostela, decidiu antecipar o carnaval e vestiu-se como um peregrino.
Pódio e Top 10
Superma…
Esta seção é sobre a Movistar e não apenas sobre Enric Mas (Movistar), será dividida entre o positivo e o negativo.
Comecemos pelo negativo: A Movistar estava a fazer uma Vuelta bastante digna. Algo surpreendente. Até que no penúltimo dia, Miguel Ángel López (Movistar) depois de um erro tático, viu o seu pódio se esfumaçar. A reação do Colombiano foi a de uma criança de 10 anos e 30 de QI. Decidiu arrumar a bicicleta e abandonar.
O que se leu e ouviu depois foi um autêntico show de horrores, onde a mulher e o sogro do ciclista foram os principais atores. Inclui respostas da esposa de Superman López no Instagram, onde acusa Enric Mas de ser o culpado do marido ter perdido o pódio. Já o pai dela, decidiu contar uma versão e mais tarde outra. Quanto a López, acabou o dia a pedir desculpas.
Se de um lado temos uma equipe que é uma confusão danada, do outro temos um ciclista que o talento que tem é proporcional à falta de cérebro. Resumindo: a contratação de López pela Movistar foi como ver uma pessoa com problemas gástricos a ingerir soda cáustica.
Pelo lado positivo, temos Enric Mas. O ciclista Espanhol foi o único que ainda deu alguma luta, se é que assim podemos chamar, a Primoz Roglic. Não é um ciclista muito ofensivo e um abacate é capaz de ter mais carisma do que ele, mas é fiável em três semanas. Das quatro grandes voltas que fez em dois anos na Movistar, ficou sempre nos dez primeiros, o sexto lugar no Tour deste ano foi o seu pior resultado.
Canguru
Jack Haig (Bahrain-Victorious) conseguiu o seu primeiro pódio. Lembrando que no Tour tinha acabado numa cama do hospital. Depois de um mau começo de prova, conseguiu através de uma fuga, recolocar-se na luta pela Geral.
No entanto, tal como Enric Mas, não é um ciclista entusiasmante. O carisma também não abunda e é um digno sucessor de Richie Porte (Ineos) na sua atração pelo chão. Felizmente nesta Vuelta não caiu e a sua equipe na montanha esteve bem oleada, principalmente o reboque Suiço.
O irmão de Simão
No dicionário ciclístico, Yates significa ‘bipolaridade’. Os manos são capazes de descarregar quase todo o pelotão e no dia seguinte, serem descarregados como sacos de batatas a 50 Km da meta pelo Yukiya Arashiro (Bahrain-Victorious).
Adam Yates (Ineos Grenadiers) chegou à Vuelta para ganhar e acaba com um quarto lugar. Não é mau, até porque desta vez, se aguentou no top-5 e não desapareceu na terceira semana. Mas…mais uma vez nesta Vuelta, mostrou a irregularidade que o caracteriza: num dia era o melhor Ineos e na etapa seguinte chegava com o Kruijswijk (Jumbo-Visma).
Reboque do canguru
Gino Mäder (Bahrain-Victorious) foi oficialmente o reboque de Jack Haig na última semana, tanto no Alto del Gamoniteiru, como na etapa galega, o Suíço parecia um pai a levar o filho à escola.
Foi uma excelente Vuelta de Mäder, que acabou como melhor jovem, batendo Egan Bernal e dividiu o pódio em Santiago com o seu amigo do peito, Primoz Roglic.
Contador colombiano
Egan Bernal (Ineos Grenadiers) chegou à Vuelta como uma incógnita. A Covid e a Eslovenite deixavam muitas dúvidas sobre a sua condição. Depois de duas semanas a tentar sobreviver, o Colombiano não quis deixar a Vuelta sem a sua marca e não defraudou. O ataque a 60 Km da meta na etapa dos Lagos de Covadonga fez lembrar aqueles raids do tudo ou nada de Contador, que acabaram muitas vezes com a quebra física drástica do Espanhol. Foi exatamente o que aconteceu a Bernal. E tal como o Pistoleiro, se não ganha, fica fora do pódio.
Zakarin espanhol
David de la Cruz (UAE) conseguiu um brilhante sétimo lugar! Quem olhar para a Classificação fica a pensar que a Vuelta deste ano não teve descidas no percurso.
Brilhou no Gamoniteiru, foi o melhor momento dele na prova.
Sete cus
Finalmente o melhor gregário de montanha do mundo conseguiu acabar uma grande volta no top-10. Falo de Sepp Kuss (Jumbo-Visma). Uma prova que começou mal para o Americano e foi melhorando. Na montanha esteve quase sempre perto dos melhores no apoio a Roglic. Em Santiago fez questão de lembrar a razão porque nunca será candidato a ganhar uma grande volta.
Filósofo
Guillaume Martin (Cofidis) é perito em copy-paste. Depois de conseguir acabar no top-10 no Tour à base de fugas, eis que aplica exatamente a mesma receita nesta Vuelta.
Ninja
Dizem que aquele Austríaco com nome de salsicha alemã, Felix Gros…, terminou no top-10. Não sei se acredito, sou como São Tomé, só acredito no que vejo.
Gregários
Bahrainismo
O Twitter Ciclismo durante esta Vuelta ficou completamente em êxtase com o trabalho de Arashiro e com razão. O Japonês é a prova viva que a Bahrain-Victorious neste momento está andar como nunca andou! Já imaginaram o Mikel Landa nesta equipe?! Ainda bem que o Mark Padun (Bahrain-Victorious) não esteve na Vuelta, que sorte teve o Roglic.
Damiano Caruso (Bahrain-Victorious) ganhou uma etapa e trabalhou bem no resto da prova para Haig. Wout Poels (Bahrain-Victorious) já não é mesmo dos tempos da Sky, mas foi útil em alguns dias e Jan Tratnik (Bahrain-Victorious) foi o Sérgio Paulinho desta equipe, muito trabalho invisível.
Krispis
Desde o pódio no Tour que o nível de Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma) baixou drasticamente. No entanto nesta Vuelta, o Holandês foi importante em diversos momentos na montanha e com Kuss fez um duo de apoio a Roglic que deu mais segurança ao Esloveno.
Tudo pelo Fabio
A matilha esteve unida, menos no dia que Florian Senechal (DQT) esqueceu-se de olhar para trás para ver se as pernas do Fabio Jakobsen (DQT) estavam boas, curiosamente as do Francês estavam ótimas e ele ganhou a etapa. No final o Chefe Fabio foi meter ordem no menino, porque deu tudo errado…para ele.
Fora isso, a equipe mostrou nos dias de montanha uma união que já tradição na equipe. O Holandês vestindo a Camisa Verde e sempre escoltado pelos colegas, como uma verdadeira matilha.
Volata
Do inferno ao céu
Não vou contar a história de Fabio Jakobsen (DQT) aqui. Toda a gente conhece e sabe o que ele passou.
Um ano depois, vence três etapas e a Classificação por Pontos da Vuelta. Parece impossível mas não é. Não perdeu potência e o possível medo que possa ter dos sprints não o atormenta. Já é um dos melhores do mundo, está na equipe certa e tem a mentalidade de um tirano.
Canivetes suíços
Magnus
Magnus Cort Nielsen (EF-Nippon) o Wout van Aert (Jumbo-Visma) dos pobres. Três vitórias de etapas, em terrenos diferentes a provar a versatilidade e no contrarrelógio final, foi o único que ficou perto de Roglic.
Ganhou o prémio de combatividade desta edição.
Canguru 2.0
Michael Storer (DSM) antes de ir para a Groupama-FDJ aproveitou para ganhar alguma coisa. Foram duas etapas ganhas, onde deixou gente como Pavel Sivakov (Ineos) para trás. Uma das grandes revelações desta Vuelta.
Fuga bidone
Rein Taaramae (Intermarché-Wanty), Magnus Cort (x2)(EF-Nippo) Michael Storer (x2) e Romain Bardet(DSM), Damiano Caruso (Bahrain-Victorious) e Rafal Majka (UAE). Não considero a vitória de Clement Champoussin (AG2R Citroen), porque ele foi apanhado pelo grupo principal.
Ou seja, em 19 etapas (2 cronos não contam), 8 delas foram ganhas pela fuga. Isso dá uma taxa de sucesso de 42%!
No Giro foram 10 de 19 e no Tour 9 em 19, ou seja foram 27 etapas ganhas pela fuga em 57 na soma das três grandes voltas, 47% de sucesso.
E pronto foi isto!
¡hasta la vista!
Etapa Rainha é Bruno Dias, português de perto do Porto, onde equipe se escreve equipa e blefe é bluff. 🙂
Obrigado a todo mundo que acompanhou o ReviraVuelta
Queria deixar o MUITO OBRIGADO a todo mundo que ouviu, participou e se divertiu com a gente nestes 21 dias no #ReviraVuelta. Em especial aos meus companheiros nessa jornada. Sem vcs, nada disso seria possível! @AllanAlmeiida, @DavideGomes17, @Rallo_Makuin, @dricanogueira e @bismarkazevedo.
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