“Vais acreditar que um homem pode voar” esse era o slogan publicitário do filme Superman de 1978. Talvez esta seja uma bela frase de efeito para descrever quando arranca Miguel Ángel López (Movistar) nas duras rampas do Alto de Gamoniteiru. O ciclista, cujo apelido é Superman, remonta ao episódio onde, durante um treino, resistiu a uma tentativa de assalto e levou uma facada nas pernas, porém não perdeu a bicicleta, ele foi o único capaz de largar Primoz Roglič (Jumbo-Visma) e os rivais diretos na Classificação Geral.

Também foi ele que, como um super-herói, resgatou o orgulho da Movistar no último dia de alta montanha na Vuelta 2021. A equipe espanhola não havia vencido nenhuma etapa em grandes voltas nesta temporada e apesar de ter boas chances de pódio com Enric Mas e López, certamente sai aliviada com a vitória na primeira escalada a uma montanha fenomenal, que tem tudo para tornar-se destino constante nas próximas edições.

Um dia duro na terceira semana de uma corrida infernal

23 mil metros. Esse é o valor total de ascensão dos últimos 7 dias na Espanha. Cerca de 9 mil nos últimos dois dias. Fora o calor e o ritmo, a etapa de ontem, apesar do acúmulo de montanhas e um ataque de mais de 60 kms, foi vencida com uma velocidade média de 40,5 km/h e o terreno tem sido um tormento para os atletas. Não à toa, abandonos se acumulam como o de Mikel Landa (Bahrain-Victorious), que nem começou a escalada a Lagos de Covadonga e até mesmo ciclistas brincando com a situação. Ángel Madrazo (Burgos-BH) postou o perfil da etapa e perguntou “Esta é a etapa rainha?”, no que Damiano Caruso (Bahrain-Victorious) respondeu: “Angel, me parece que todas as etapas desta corrida são rainhas”

Angel , me pare e que esta vuelta tiene 21 etapas reinas

— Damiano Caruso (@CarusoDamiano) September 2, 2021

Por isso, quando a etapa começou e uma fuga gigante se formou, não houve nem briga. 30 ciclistas escaparam e entre eles, alguns vencedores de etapa como Michael Storer (DSM), Rein Taaramäe (Intermarché) e Rafal Majka (UAE). Quase todas as equipes colocaram ciclistas na fuga, exceto a Bahrain-Victorious. A eles, portanto, coube a responsabilidade de carregar o pelotão.

Na fuga, as escaladas faziam vítimas e quebravam os grupos. Como Romain Bardet (DSM), líder da Camisa de Montanha, não conseguiu entrar na fuga. Seu companheiro de equipe, Storer passou em primeiro nas montanhas para somar o número máximo de pontos disponíveis. A 68 Km do fim, a vantagem da fuga começava a cair e ele disparou sozinho, para passar primeiro em Segá del Cordál que era a penúltima escalada do dia e logo após, tentar vencer a etapa no Alto d’El Gamoniteiru.

Storer passou em primeiro em todas as montanhas até Gamoniteiru e começou o colosso final na liderança virtual da camisa de bolinhas e com cerca de 1’40” de vantagem para o pelotão. Bardet atacou do grupo principal tentando juntar-se ao colega de equipe mas não foi capaz.

A fuga já havia sido quase toda capturada e só restava o Australiano à frente. David De La Cruz (UAE) foi o primeiro a atacar do pelotão enquanto que a Bahrain continuava rebocando o grupo para limitar as perdas de Jack Haig, 4° lugar geral. Depois de 50 quilômetros sozinho, o ciclista da DSM começou a cansar e De La Cruz o alcançou.

A Intermarché começou a acelerar para defender os interesses de Louis Meintjes no Top 10 da Vuelta e a distância dos líderes começou a cair. De La Cruz foi embora sozinho e Storer foi alcançado pelo pelotão. Aí, os ataques começaram entre os favoritos.

Egan Bernal (Ineos-Grenadiers) atacou e Roglič pulou atrás. Os dois foram alcançados e Sepp Kuss (Jumbo-Visma) começou a trabalhar para Primoz Roglič. Foi então que Miguel Ángel López (Movistar) ligou o modo Superman e arrancou voando. Ninguém pôde responder e Lopez alcançou De La Cruz, atacando-o logo em seguida. Roglič e Bernal trocaram ataques e contra-ataques mas viram-se isolados com Enric Mas (Movistar) e nenhum dos três podia largar o outro, muito menos alcançar o Colombiano da Movistar que disparava para o topo.

Em meio a névoa, Ángel López surgiu na linha de chegada para ser o primeiro a vencer no topo do Gamoniteiru. Roglič cruzou pouco tempo depois, acelerando no fim e largando os outros dois. Jack Haig chegou cerca de 1 minuto após López, perdendo um tempo importante para as pretensões de chegar no pódio.

A Movistar sai com um saldo positivo carregando uma vitória de etapa e dois ciclistas no Top 3. Primoz Roglič tem a terceira vitória consecutiva praticamente assegurada e pode respirar aliviado. Mas não muito! Ainda temos 3 dias até Santiago e a Vuelta guarda algumas armadilhas. Falta pouco, mas fiquem ligados, não tem moleza em grandes voltas.

Próxima Etapa 19

Tapia > Monforte de Lemos
191,2 km – Média montanha (3513 m)

Etapa de meia montanha que atravessa a zona da Fonsagrada, com constantes subidas e descidas, unindo a Galícia e o Principado das Astúrias. Esta pode ser uma das oportunidades mais claras da edição para uma ruptura. O pelotão ficará exausto depois de uma das etapas de montanha mais difíceis e os dois dias seguintes não facilitarão as coisas para eles.

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Você pode ouvir e seguir a corrida com a gente via Twitter Spaces no nosso #REVIRAVUELTA. Diariamente, a partir das 12:15h (Brasília), 16:15h (Lisboa) ou 17:15h (CET), você acompanha os quilômetros finais do dia com um breve bate-papo pós-etapa, trazendo o melhor do que rolou. O programa que é como uma sala de áudio onde todo mundo pode entrar e ouvir a conversa, conta com a moderação do Junimba Simões e as análises do Allan Almeida pelo BikeBlz e do Davide Gomes e Tiago Ferreira do Portuguese Cycling Magazine, sempre em bom e claro português do mundo. Confira!

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