Quão raro precisa ser um ciclista para que ele seja considerado lendário? Quanto é necessário para definir que este não é um acaso, mas uma regra? Será que aos 22 anos, ser bicampeão do Tour de France, 3° lugar na Vuelta, com 9 vitórias de etapas em 3 grandes voltas, campeão de 6 Camisas do Tour (2 amarelas, 2 brancas e 2 de montanha), 1 monumento (Liege-Bastogne-Liege) e 28 vitórias profissionais (em apenas 3 anos) podem ser o suficiente?

Não há ninguém que possa ser comparado ao líder e provável Campeão do Tour 2021. Ao menos na mesma faixa de idade. E hoje, novamente, Tadej Pogačar (UAE) demonstrou isto. Com uma força soberana e uma ajudinha da equipe, manteve-se na frente da prova, aguardou a hora certa para partir solo e desmontou os planos dos rivais para levar a etapa. O jovem patrón Esloveno não precisava ganhar, mas também não tem motivos para presentear os rivais com a vitória em Luz Ardiden.

Pior para Wout Poels (Bahrain Victorious) que perdeu a liderança na Camisa de Bolinhas para o ‘Canibal da Eslovênia’, que tem tudo para repetir o feito do ano anterior e levar para casa as três camisas: a Amarela de campeão, a Branca, de Melhor Jovem e a de Bolinhas, de Rei da Montanha. Cavendish (Deceuninck-Quickstep) que trate de ganhar os sprints para garantir a Camisa Verde.

A batalha final nas altas montanhas e a última chance antes do contrarrelógio

A etapa 18 no cardápio do Tour era anunciado com antecedência como um dia curto e explosivo, com o combo de Tourmalet e Luz Ardiden para encerrar. A primeira parte da prova foi liderada por um grupo de cinco ciclistas: Julian Alaphilippe (Deceuninck-Quickstep), Matej Mohorič (Bahrain Victorious), Sean Bennett (Qhubeka-Assos), Pierre-Luc Perichón (Cofidis) e Juul-Jensen (Bike Exchange). Um grupo forte, porém sem muita liberdade, pois o pelotão manteve a vantagem da fuga menor que dois minutos. O sprint intermediário estava pouco antes do início do Tourmalet e as equipes na disputa, ainda queriam somar pontos. Com o terreno majoritariamente plano, também não havia muita chance da fuga inicial abrir uma grande vantagem antes do gigante Tourmalet.

A Quickstep trabalhou com Morkov e Cavendish e o Camisa Verde passou em primeiro no sprint intermediário. Pontuação máxima garantida e camisa também. Só precisava chegar no tempo de corte hoje e depois ir até Paris.

A escalada ao Tourmalet começou e outros atletas tentaram sair na fuga, mas a vantagem sempre foi controlada pela UAE. Durante os 17 km de subida, o grupo principal foi reduzindo enquanto que a fuga se despedaçava. Rigoberto Uran (EF Education-Nippo), que sofreu ontem no Col de Portet e caiu do 2° para o 4° lugar na Classificação Geral, teve dificuldades e ficou para trás. A Ineos-Grenadiers, time de Carapaz, ao perceber este fato, tomou a ponta e começou a acelerar, de maneira a aumentar a vantagem de Richard Carapaz sobre Uran para garantir o lugar no pódio.

Passado o topo do Tourmalet, restava a descida e a ascensão final em Luz Ardiden. David Gaudu (Groupama-FDJ) começou na frente. Mas o grupo dos favoritos era liderado pela Ineos e subia como um rolo compressor pelos 13 Km de montanha. A 10 km do fim, Gaudu foi capturado e o sonho da FDJ de repetir a vitória no dia do Tourmalet, como em 2019 com Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) foi frustrado.

O ritmo acelerado na dura montanha fazia vítimas e o grupo, cada vez menor, seguia em frente. Wout Poels e Enric Mas (Movistar) perderam contato em determinado momento, mas conseguiram voltar. Poels, líder de montanha, queria defender a camisa e Enric Mas buscava uma vitória para si e a equipe.

Na parte final, Poels não aguentou mais o ritmo e ficou para trás. Já nos 5 Km finais, o Camisa Amarela Tadej Pogačar lançou uma aceleração e selecionou o grupo. Novamente os três líderes da Geral e hoje com a companhia de Enric Mas. Quando o líder novamente acelerou, somente Carapaz e Vingegaard (Jumbo-Visma) acompanharam. O Esloveno ainda lançou um ataque final e rodou solo pra cruzar o topo de Luz Ardiden e conquistando a terceira vitória em etapa e ainda tomando a Camisa de Bolinhas de Poels. Carapaz e Vingegaard ainda batalharam até a linha mas passaram a meta nas mesmas posições que ocupam na GC, com o Dinamarquês em segundo e o Equatoriano em terceiro.

Pogačar imbatível novamente deu um show e se torna um dos poucos, senão o único, ciclista a vencer duas etapas de montanha seguidas vestindo a Camisa Amarela. Mais um feito histórico desse jovem canibal. Os fãs vão à loucura. Os haters, já criticam a falta de piedade com os rivais e criam teorias da conspiração para justificar a superioridade de Tadej.

Certo é que goste ou não, este nome veio pra ficar. E sempre no mais alto lugar do pódio.

(Fotos: A.S.O)

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