O ciclismo moderno não existiria sem gregários. Os líderes tocam a música, mas os gregários se encarregam de transportar, organizar e afinar os instrumentos. Às vezes o fazem montanha acima, às vezes a 50-60 km/h.

Em um dia como hoje, os ciclistas auxiliares são fundamentais. Foram 203 km, a mais longa etapa de toda Vuelta. E em terreno majoritariamente plano. Etapa de transição e com final para um sprint. A primeira parte do dia consiste na largada e formação da fuga. E não são os líderes que vão impedir que rivais entrem na fuga. Nem mesmo nas equipes convidadas serão os líderes a se arriscar nas “fugas de TV”. Cabe aos operários do pelotão controlar o ritmo e quem terá liberdade. Não só isso, também é imprescindível ir e voltar ao carro do time para pegar suprimentos e instruções. Um esforço a mais, claro.

Lindas paisagens na etapa 13 da La Vuelta (Luis Angel Gomez / PhotoGomezSport)

Formada a fuga e passados mais de 140 quilômetros, se um vento entra cruzado e alguém tenta quebrar o pelotão, como quando a Movistar acelerou, junto da Intermarché, aí o trabalho é, desesperadamente, tentar reconectar e evitar que um bloco de adversários escapem. À toda velocidade e contra o vento.

“Mas hoje não era um dia calmo? Ainda faltam 60 quilômetros para o fim!”. Pela televisão pode não parecer, mas para quem está na estrada, poucos dias são verdadeiramente tranquilos. Há sempre o stress de uma possível queda, o calor, a ameaça de quebras nos grupos. Andar no pelotão e mantê-lo unido é uma tarefa árdua. Garantir que seu líder não vá ficar para trás ou caído no asfalto todo ralado é uma responsabilidade que está sempre nos ombros da maior parte do pelotão. Por isso, quando, finalmente, o grupo se reconecta, é um alívio.

Ao menos, até próximo do fim. Principalmente em etapas de sprint. São nestes últimos quilômetros onde tudo converge para o caos em alta velocidade. Pelotão reagrupado é uma imagem comum no final destes dias. Hoje foram 20 kms antes da chegada. Após o abandono de Jasper Philipsen (Alpecin-Fenix), mais equipes viram a oportunidade de vencer, além da Deceuninck-Quickstep e a Alpecin-Fenix. Ou seja, mais briga entre gregários na frente do pelotão.

“FIQUE NA FRENTE! FIQUE NA FRENTE! CUIDADO COM AS CURVAS! ACELERA, ACELERA, NÃO DEIXEM NINGUÉM ULTRAPASSAR VOCÊS” – assim gritam os diretores de equipe através do rádio. A Deceuninck-Quickstep é historicamente uma das melhores em trens de embalada. Tão boa e tão forte que conseguiu quebrar o pelotão em meio a rotatórias. Apenas alguns poucos rivais de outras equipes conseguiam acompanhá-los na reta final.  

O trabalho ingrato do gregário. Meter a cara no vento e muito mais (Luis Angel Gomez / PhotoGomezSport)

“Perfeito! É nossa, só levar Jakobsen (Deceuninck-Quickstep) para a chegada!”–Certamente foi o que pensou Florian Sénéchal quando se deu conta que eles estavam nessa posição. Até que o sprinter Holandês avisa no rádio “Não consegui acompanhar! Perdi a roda! Arranca, Florian!”

O ciclismo de estrada é um esporte ingrato. Cerca de 200 ciclistas largam nas provas mas a maioria não tem a mínima chance de vencer. Não significa que sejam atletas fracos, pelo contrário. Há que ser muito forte para dar apoio a um líder e carregá-lo para a chegada. Mas é um trabalho árduo e com poucas recompensas. Mas elas chegam, às vezes.

Florian Sénéchal (Deceuninck-Quickstep) bateu Matteo Trentin (UAE) e Alberto Dainese (DSM) no sprint (Luis Angel Gomez / PhotoGomezSport)

Quando a chance apareceu, não houve dúvidas, Sénéchal disparou para a linha de chegada e bateu Matteo Trentin (UAE) e Alberto Dainese (DSM) líderes de outras equipes. Mas hoje não era deles. Hoje era o dia do gregário.

Uma breve anedota sobre o francês de 28 anos da Quickstep. No ano passado, ao saber que um colega ciclista estava sem contrato para a temporada, ele pediu à equipe que o contratasse. Se ofereceu até para pagar metade do salário do colega. A Quickstep acabou contratando Sam Benett e o amigo de Sénéchal se aposentou. O acordo não aconteceu, mas fica o registro do espírito de companheiro e de Gregário deste grande ciclista. A vitória de hoje, certamente, ficou em boas mãos.


Próxima Etapa 14

Don Benito > Pico Villuercas
165,7 km – Alta montanha (3448 m)

A primeira metade da etapa será plana, mas a segunda será muito dura, com duas subidas do Pico Villuercas. O primeiro acontecerá ao longo de três quilômetros de concreto com inclinação de 15%. A segunda, de Guadalupe até a linha de chegada, é mais longa. Uma etapa para marcar diferença na Classificação Geral.

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Você pode ouvir e seguir a corrida com a gente via Twitter Spaces no nosso #REVIRAVUELTA. Diariamente, a partir das 12:15h (Brasília), 16:15h (Lisboa) ou 17:15h (CET), você acompanha os quilômetros finais do dia com um breve bate-papo pós-etapa, trazendo o melhor do que rolou. O programa que é como uma sala de áudio onde todo mundo pode entrar para ouvir e conta com a narração e moderação do Junimba Simões e as análises do Allan Almeida pelo BikeBlz e ainda do Davide Gomes e do Tiago Ferreira do Portuguese Cycling Magazine, sempre em bom e claro português do mundo. Confira!

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