Depois de uma edição sui generis no outono em 2020 devido à pandemia, a RCS decidiu alongar o primeiro bloco de etapas para dez dias ao invés dos habituais nove, colocando o dia de descanso em uma terça-feira. Fora isso, poucas novidades foram introduzidas na edição deste ano.
Dez dias onde o percurso foi muito variado, desde o terreno mais simpático do Vale do Pó até às belas montanhas mais punitivas dos Apeninos, dando-nos belas imagens de ciclismo e não só. Vamos então aos nomes e fatos que mais me chamaram a atenção até o momento:
Pippo Ganna
Não foi propriamente surpreendente ver Filippo Ganna (Ineos Grenadiers) de rosa no primeiro dia, já que a 1ª etapa era um contrarrelógio curto, perfeito para ele. Também não é uma surpresa vê-lo a trabalhar na frente do pelotão durante horas seguidas e foi isso que ele fez durante estes 10 dias, protegendo Bernal (Ineos Grenadiers) como um pai protege a sua amada cria.
Velocistas
Uma das ‘raças’ mais particulares do ciclismo são os sprinters, além de serem muito carismáticos também são os maiores malucos que se encontram no pelotão, excluindo os Riccardos Riccòs, porque esses estão num nível próprio de loucura.
O primeiro a molhar o bico nesta edição foi o ‘amigo belga’ de Mathieu Van der Poel, Tim Merlier (Alpecin-Fenix), um ciclista que há dois anos tinha pouco futuro na modalidade e agora anda a ganhar sprints no WT.
Mas o sprinter estrela da semana foi o ‘canhão australiano’, Caleb Ewan (Lotto Soudal) que ganhou 2 etapas, mas nem tudo foram boas notícias, o azar chegou durante a conferência de imprensa do final da 8ª etapa. Começou-lhe a doer o joelho. O resiliente australiano ainda tentou seguir na prova, mas com pouco mais de 30 Km da 9ª etapa e em pleno túnel, decidiu abandonar quando envergava a Ciclamino. Que duro é o ciclismo.
Peter Sagan e suas coincidências
Na 10ª etapa foi a vez de Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) sacar uma vitória. Eu não sou de acreditar em determinadas coisas, mas em 2020 Sagan também ganhou a 10ª etapa do Giro.
I fuggitivi
Tem sido uma edição com uma boa relação de sucesso das fugas, 4 em 10 etapas. Taco van der Hoorn (Intermarché-Wanty) surpreendeu logo na 3ª etapa, ganhando a luta épica com o pelotão conseguindo chegar com poucos segundos de vantagem, dando a primeira vitória do ano à Intermarché-Wanty e um novo nickname: Taco Tuesday.
No dia seguinte, Joe Dombrowski (UEA) que já é um dos clássicos das fugas no Giro, ganhou uma etapa dura em que o clima não ajudou. O americano foi mais forte do que Alessandro De Marchi (Israel Start-Up Nation). Este último cumpriu um sonho de pequeno, vestiu a Maglia Rosa.
Dois dias depois era a vez de Gino Mader (Bahrain Victorious) ganhar no topo de San Giacomo. O Suíço aproveitou a ausência de Primoz Roglic (Jumbo Visma) e o grande trabalho do seu colega Matej Mohoric (Bahrain Victorious).
Victor Lafay (Cofidis) foi o último vencedor proveniente de uma fuga. Ele que já tinha andado bem em Valência, curiosamente Nélson Oliveira (Movistar) também esteve forte nessa prova e foi colega de fuga do francês neste dia, terminando em quarto.
Landismo
O basco chegava ao Giro com legitimas ambições e na 4ª etapa mostrou isso mesmo, mas 24 horas depois tudo caiu por terra numa daquelas etapas inofensivas ao sprint. Nos últimos quilómetros Dombrowski não reparou num guarda que sinalizava uma ilha de trânsito e Mikel Landa (Bahrain Victorious) acabou no hospital. Não se sabe se a temporada acabou para Landa, mas uma coisa é certa, o Landismo nunca morrerá.
Plano B da Ineos
Pavel Sivakov (Ineos Grenadiers) foi outro que abandonou devido a uma queda na 5ª etapa, a sua ‘563ª’ desde a Dauphinè do ano passado. O russo ainda terminou a etapa, mas no fim do dia a equipe confirmaria o seu abandono devido a uma clavícula partida. É uma perda importante já que a Ineos ficou sem um plano B.
O voo de Mohoric
Matej Mohoric (Bahrain Victorious) é um dos melhores do pelotão a descer, mas isso não o faz imune a quedas. Decorria a 9ª etapa e a Bahrain-Victorious decidiu mexer na corrida, lançaram Mohoric, Mader e Caruso para a fuga. Parecia uma situação perfeita para os interesses da equipa árabe. Até que durante a descida numa das curvas, Mohoric sai literalmente voando de pernas para o ar, pareceu um número de ginástica que correu mal, uma das quedas mais aparatosas que me lembro de ver. Desde o sábado passado que Mohoric, aqui por casa, é conhecido por a “Nadia Comaneci do ciclismo”.
Simon Philip Yates
Não sou de intrigas, mas apesar de aparecer na lista de participação, suspeito que se tenha perdido pelo caminho ou o Matt White esqueceu-se de enviar um email para ele aparecer no país da bota. Talvez na segunda ou terceira semana apareça na Itália, resta saber se será ele ou o irmão Adam.
Por falar em Matt White, a sua equipe quase passou ao largo nestes dez dias, digo quase porque durante a 6ª etapa executaram um golpe de marketing genial. Na subida final decidiram atropelar Pieter Serry (Deceuninck–Quick-Step), um acontecimento que permitiu que o nome da BikeExchange corresse o mundo. Estes australianos não brincam em serviço.
Bernal vs Evenepoel
Duelo entre dois mega-talentos, que além de pedalarem muito, têm dotes inatos para o bluff, ora vejamos:
Antes do Giro, um disse que ia trabalhar para o colega e o outro disse que as costas continuavam a ser um problema. Nem o Evenepoel (Deceuninck–Quick-Step) trabalhou para o Almeida (Deceuninck–Quick-Step), nem o Bernal (Ineos Grenadiers) teve qualquer ‘eslovenite’ até agora.
Bernal está mais forte até ao momento, mas em dez dias, só conseguiu abrir 15 segundos. É verdade que a alta-montanha só aparecerá nas últimas duas semanas e será aí que terá obrigatoriamente de ganhar tempo. Enquanto isso, Evenepoel tem-se defendido como pode em chegadas demasiado explosivas para ele. Claro que no final, terá o contrarrelógio para meter tempo nos rivais, mas na 10ª etapa já ficou espelhada a sua ambição no sprint intermédio. A batalha tem tudo para ser incrível, Bernal tem de evitar movimentos bruscos com as costas e Evenepoel tem de ter mais cuidado nos túneis.
Gregário Almeida
A suposta liderança na equipe durou um dia e depois na 4ª etapa teve uma quebra que o colocou definitivamente como gregário de luxo de Evenepoel. A partir daí tem estado muito bem, sempre ao lado do seu líder e com Masnada desaparecido será muito importante.
Claro que caso Evenepoel ganhe o Giro, alguns portugueses irão dizer que o Almeida rebocou o Evenepoel até à vitória. 🙂
Os outros
Vlasov (Astana), Dan Martin (Israel Start-Up Nation), Ciccone (Trek-Segafredo), Carthy (EF Nippo), Bardet (DSM), Soler (Movistar), Buchmann (Bora-Hansgrohe) estão ofuscados pelos dois príncipes. São a plebe! Que para ganhar terão de organizar uma rebelião contra a monarquia vigente para tomar o poder. Destes, destaque para Giulio Ciccone, que está a realizar um enorme Giro e tem o antigo monarca do ciclismo italiano a trabalhar para ele.
Penso que foi isto. Volto dia 25 com o 2º Rest Day.
Ciao.
Etapa Rainha é Bruno Dias, português de perto do Porto, onde equipe se escreve equipa e blefe é bluff. 🙂
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