Um dia para recordar. Esta sem dúvida, vai ser uma daquelas etapas gravadas a sangue, suor e terra nas memórias de atletas, diretores e espectadores. No duríssimo percurso pelas estradas de terra branca, o drama, a ação e o tormento prometidos foram entregues no Giro d’Italia.
Bernal (Ineos) aumentou a vantagem sobre os rivais diretos. Buchmann (Bora) ressurge silenciosamente na disputa pela camisa rosa, Vlasov (Astana), Caruso (Bahrain), Carthy (EF) e Yates (Bike Exchange) se seguraram, enquanto que Ciccone (Trek), Soler (Movistar) e Remco Evenepoel (Quickstep) viram os rivais abrirem distância e caíram posições na Classificação Geral.
Ineos entrega trabalho primoroso e atormenta os rivais
A equipe do colombiano Egan Bernal, líder da geral, controlou as ações no começo da etapa e praticamente bloqueou a estrada, deixando formar uma fuga apenas com atletas que não ameaçassem a liderança da prova. Assim, cerca de 11 atletas formaram a fuga e seguiram em alta velocidade, enquanto o pelotão controlava o ritmo. A vantagem da fuga chegou a ser de 14 minutos próximo ao primeiro trecho de terra batida.
Enquanto a fuga entrava no primeiro trecho de terra, o pelotão começava a acelerar liderado pela Ineos. Filippo Ganna botou um ritmo forte e o pelotão entrou acelerando no primeiro trecho de terra, de 9,1 Km a cerca de 69 Km do fim.
A Trek botou Nibali à frente para ajudar Giulio Ciccone, enquanto que a Quickstep lançou João Almeida, mas logo após a mudança de terreno, já não se via Remco Evenepoel na frente do grupo, enquanto que Bernal, Ciccone, Vlasov e outros apareciam sempre bem posicionados. A dificuldade do terreno logo começou a fazer suas vítimas: dois ciclistas da Cofidis colidiram na descida e Nizzolo e Bevin (ISN) furaram pneus. O grupo seguia esticado liderado pelo campeão mundial de Contrarrelógio Filippo Ganna. Jonathan Caicedo (EF) caiu também e logo abandonou. Bernal seguia de perto seu gregário enquanto que os rivais precisavam perseguir e fechar os gaps que surgiam. A velocidade era tão alta, que em pouco mais de 5 kms, a diferença do pelotão para a fuga caiu 3 minutos.
Peter Sagan acelerou e atacou há 54 kms do fim, causando mais quebras no pelotão. Remco Evenepoel sobrou e ficou num quarto grupo. Iljo Keisse e João Almeida estavam junto com o belga para reconectar ao grupo da frente e outros favoritos como Simon Yates. Astana e EF ficaram no grupo junto com Remco, que perseguiram por alguns quilômetros e alcançaram o grupo da frente somente no asfalto.
Ao entrar no segundo trecho de terra, novamente o belga da Quickstep apareceu mal posicionado. Ineos e Trek, percebendo a dificuldade do rival, aceleravam revezando na frente. Peter Sagan depois de acelerar, sentiu o cansaço e a dificuldade das subidas na terra e sobrou do pelotão principal. Ganna também sentiu o esforço e sobrou, mas Bernal e Ineos ainda contavam com Gianni Moscon, Jonathan Narváez e Dani Martínez.
Na fuga, os ataques e acelerações se alternavam enquanto ciclistas sobravam e reconectavam à frente de prova. A cerca de 40 Km da meta, a Jumbo-Visma tentou atacar com George Bennett e Tobias Foss. Foss estava a 2’23” de Bernal na Classificação Geral e ambos conseguiram abrir 1 minuto do pelotão, em que Trek e Astana revezavam na frente, com Brambilla e Luiz Leon Sanchez. Remco e Yates seguiam, sempre na parte de trás do grupo, acompanhando com certa dificuldade.
Depois de quase dez quilômetros, Foss e Bennett foram capturados pelo pelotão, enquanto Moscon trabalhava para Bernal. Remco sofria para acompanhar o ritmo já há quase 20 quilômetros e finalmente sobrou, quando Moscon saiu da frente e Bernal atacou. O belga ficou para trás e os outros seguiram o líder da Ineos, Nelson Oliveira da Movistar tomou a ponta para acelerar e Marc Soler atacou em seguida, logo após foi a vez de Vlasov. Soler quebrou e ficou para trás, enquanto que o russo continuou sendo seguido por Bernal e os outros favoritos.
A partir daí, seguiram-se diversos ataques, o mais efetivo foi de Emanuel Buchmann (Bora) que teve liberdade de ir solo, por não representar uma ameaça direta na GC, pois já acumula certo atraso. Quando a maioria dos líderes ficaram isolados, a EF ainda tinha dois gregários para trabalhar para Carthy e lideraram o grupo até os ataques de Vlasov, Foss e finalmente, Hugh Carthy. Bernal marcou todos e contra-atacou, seguindo solo e demonstrando ser o mais forte e alcançando Buchmann.
Na frente, Mauro Schmidt (Qhubeka) e Alessandro Covi (UAE) chegavam juntos e disputaram a vitória num sprint. O Suíço da Qhubeka levou a melhor e conquistou a primeira vitória profissional, com Covi chegando logo após e Vanhoucke da Lotto Soudal fechando o pódio.
Atrás, Buchmann e Bernal seguiam trabalhando e cruzaram a meta juntos para abrirem tempo dos que vinham atrás. Remco seguia 2 minutos atrás, recebendo a ajuda de João Almeida e minimizando os prejuízos. Vlasov, Caruso, Yates e Foss conseguiram administrar as forças e fecharam a etapa cerca de 20 segundos após o Maglia Rosa. Carthy perdeu 30 segundos para o líder, Ciccone perdeu quase 2 minutos e Remco perdeu 2 minutos e oito segundos.
Como fica a briga pela Classificação Geral
Depois de um dia dramático, Bernal segue mais líder do que nunca, com mais de um minuto de vantagem para todos os rivais, exceto Vlasov. O colombiano se torna o principal favorito para vencer o Giro, com a equipe mais forte e mostrando ser o melhor escalador até agora. Porém ainda há muito Giro pela frente e as etapas mais duras estão por vir. O problema com as costas segue sendo uma incógnita. Foi durante a segunda semana que as dores o tiraram do Tour 2020. Será que ela aparecerá novamente e frustrará os planos da Ineos?
Vlasov também se mostra um contender com potencial para brigar e segue próximo de Bernal. Foi melhor que o rival no contrarrelógio de abertura e pode ganhar tempo sobre ele na última etapa em Milão, o que deixa a disputa em aberto.
Carthy também mostra ter uma boa equipe e segue próximo da liderança.
Simon Yates tem feito um Giro silencioso até aqui. O britânico que liderou e ganhou três etapas em 2018 parece estar seguindo uma abordagem diferente daquela que o fez quebrar e perder a Maglia Rosa na terceira semana daquele ano.
Evenepoel, apesar de ser o principal prejudicado na etapa de hoje, ainda segue a 2’23” da liderança e não podemos excluir suas chances. Se este foi apenas um dia ruim, pode ser que tenha capacidade de reverter o atraso na Geral com etapas de alta montanha e o contrarrelógio final em Milão.
Certo é que, apesar de Bernal estar na pole position para vencer, ainda terá muito Giro para se disputar e só acaba ao cruzarem a linha em Milão. Até lá, há muita batalha espalhada nas 10 etapas que restam.
PRÓXIMA ETAPA
Siena > Bagno di Romagna
212 Km / MÉDIA MONTANHA (4435 m)
A etapa 12 começa em Siena e as montanhas voltam. Mais de 4.000 metros a serem escalados e a dificuldade aumenta na segunda metade da corrida. O Passo della Consuma (15,1km a 6,1%) e o Passo della Calla (16,1km a 5,3%) são esforços longos e extenuantes que também apresentam subidas mais íngremes. Novamente, a etapa seguinte pode permitir mais ataques e explodir a Geral.
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