Estamos prestes a dizer adeus a 2020 e para a despedida nada melhor do que recordar o ano do ciclismo e com muitos momentos que ficaram na nossa memória. Aqui fica um humilde resumo da temporada 2021 com uns rankings engraçados, mas sem qualquer credibilidade.

Os ‘patrões’

1. Tadej Pogacar
Pogacar venceu quase tudo

Ganhou o Tour e dois Monumentos (Liège-Bastogne-Liège e Lombardia), não esquecendo o Tirreno-Adriático. Uma das melhores temporadas de um ciclista que me lembro.
Sem Roglic (Jumbo-Visma) passeou no Tour, fez o que quis com a oposição e com um controlo canibalesco. É claramente o melhor ciclista de 2021, esteve num mundo diferente dos outros.

2. Annemiek Van Vleuten

A verdadeira patroa do Ciclismo Feminino, uma máquina que até consegue ganhar na Movistar. Foram muitas as vitórias, a que mais se destaca é a prova Olímpica do Contrarrelógio, onde a Holandesa deu um chocolate na concorrência.

Annemiek conquista a medalha de ouro no ITT em Tóquio
3. Primoz Roglic

Um ciclista com uma mentalidade especial, cada vez que cai, reergue-se mais forte. Preparou o Tour ao milímetro, diminuiu a carga competitiva concentrando a temporada na prova francesa e tudo foi por água abaixo nos primeiros dias, com diversas quedas que o obrigaram a abandonar.

Regressou nos Jogos Olímpicos, onde protagonizou uma das exibições do ano no contrarrelógio, especialistas como Dennis (Ineos-Grenadiers), Ganna (Ineos-Grenadiers), Dumoulin (Jumbo-Visma), Küng (Groupama-FDJ) e Van Aert (Jumbo-Visma) foram banalizados pelo Esloveno.

Roglic vence a Vuelta Espana 2021 ©PhotoGomezSport2021

Na Vuelta voltou a fazer o que quis, a terceira para o currículo.
Um ciclista de culto.

4. Anna van der Breggen

Começou o seu último ano como profissional a voar, dominou a concorrência como quis, culminou esse período com mais um Giro no currículo. Desde aí passou a concentrar-se no pós-profissional e os resultados decaíram naturalmente.

É uma das melhores ciclistas de sempre.

5. Egan Bernal / Richard Carapaz

A dupla colombiana-equatoriana da Ineos Grenadiers estão em 5º porque um ganhou o Giro e o outro foi 3º no Tour e ganhou o ouro olímpico na prova de fundo.

Egan Bernal venceu o Giro 2021
6. Wout Van Aert / Mathieu van der Poel

Os ciclistas mais populares da atualidade, um deles é capaz de ganhar no sprint, no Ventoux e no contrarrelógio, enquanto o outro é capaz de ataques nucleares que fazem parecer o Alaphilippe (Deceuninck-Quick Step) um ciclista banal.

Apesar da rivalidade intensa entre eles, confesso-me fã dos dois, afinal de contas quem seria Wout sem Mathieu e vice-versa?

Mais uma batalha entre WVA x MVDP
7. Kasper Asgreen / Julian Alaphilippe

Kasper Asgreen (Deceuninck-Quick Step) foi o melhor classicômano do ano, ganhou a Flandres e a E3, um ciclista extraordinário que faz parecer fácil andar no pavê. Alaphilippe (Deceuninck-Quick Step) do seu lado, acabou o ano a renovar o título mundial e por essa razão merece estar a par de Asgreen.

Alaphilippe mantém a camisa arco-íris por mais um ano
8. Mark Cavendish / Fabio Jakobsen

A Deceuninck-Quick Step é capaz de operar milagres. A ressurreição de Cavendish (Deceuninck-Quick Step) e Jakobsen (Deceuninck-Quick Step) é mais um para a longa lista.

Cav igualou o recorde de vitórias no TDF de Eddie Merckx

O britânico parecia acabado para o ciclismo. A equipa Belga foi buscá-lo e o recorde de etapas de Merckx no Tour foi igualado. Em relação a Jakobsen, depois da terrível queda na Volta da Polônia em 2020, o Holandês precisou apenas de 1 ano para voltar a dominar os sprints.

9. Tim Merlier / Jasper philipsen

Na primeira metade da temporada, Tim Merlier (Alpecin-Fenix) foi um dos melhores sprinters, na segunda metade foi a vez de Jasper Philipsen (Alpecin-Fenix) justificar o investimento.

10. Jasper Stuyven

Se a temporada tivesse terminado a 20 de março para Jasper Stuyven (Trek-Segafredo), já seria um sucesso.

Jasper Stuyven venceu a Milan-Sanremo 2021

Os melhores gregários

1. Michael Morkov

Colocas Morkov (Deceuninck-Quick Step) a lançar uma tartaruga ou Mikel Landa (Bahrain-Victorious) nos sprints e eles ganharão uns quantos. Melhor lançador do mundo atualmente e um dos melhores que vi.

A quantidade de vitórias que ‘ofereceu’ à Deceuninck-Quick Step torna-o indiscutivelmente no melhor gregário de 2021 e na minha opinião está no top-5 de ciclistas do ano.

2. Daniel Martinez Poveda / Pippo Ganna

Foram fundamentais na vitória de Egan Bernal (Ineos Grenadiers) no Giro, Daniel Martinez (Ineos Grenadiers) protagonizou uma das imagens do ano quando Bernal quebrou em Sega di Ala.

Pippo Ganna (Ineos Grenadiers) foi um dos arquitetos da etapa de Montalcino, um dia que lançou Bernal para a vitória na Geral.

A imagem do Giro 2021
3. Davide Formolo / Rafal Majka

Quando Pogacar (UAE-Emirates) precisou de endurecer a corrida no Tour, um destes dois fazia isso de forma perfeita e por isso merecem uma menção.

As desilusões

1. Arnaud Démare

Especialista em bater nos sprinters da 2ª divisão e ser sovado pelos da 1ª divisão. O ano de 2020 foi uma exceção, em 2021 as expectativas eram elevadas mas o monsieur Arnaud voltou à normalidade.

2. Geraint Thomas

Fez alguns resultados interessantes na preparação do Tour, incluindo a vitória na Romandia. Mas no Tour mostrou que a idade não perdoa, além de continuar a ter problemas para se manter em cima da bicicleta.
Carapaz e Bernal (Ineos-Grenadiers) estão acima na hierarquia interna e a tendência é que trabalhe para eles.

Geraint Thomas sente a idade
3. Tao Geoghegan Hart / Jai Hindley

Onde estão os super escaladores do Giro 2020? Quem souber deles que diga algo.

4. Marc Hirschi

O Suíço mostrou-se um pouco mais do que as lendas do Giro 2020, mas depois de um ano sensacional não conseguiu manter o nível e a mudança de equipe parece que lhe fez mal.

5. Peter Sagan

Ofuscado pelos dois fenômenos do Cyclocross, o Eslovaco é uma sombra do que já foi, tanto na estrada como fora dela. Perdeu o posto de #1 de menino bonito do ciclismo.

As surpresas

1. Anna Kiesenhofer

Beneficiou-se de mais uma aula magna tática das Holandesas (este ano foram umas quantas), mas há muito mérito no que a austríaca fez na prova de fundo dos jogos olímpicos, uma cavalgada que entra diretamente para o baú ‘lendário’.

Anna Kiesenhofer conquistou a medalha de ouro em Tóquio
2. Damiano Caruso

Caruso (Bahrain-Victorious) eterno gregário que em 2020 teve a recompensa no Giro e não a desperdiçou. Não fosse um Bernal (Ineos Grenadiers) muito forte na segunda semana e estaríamos a falar do vencedor do Giro.

3. Jonas Vingegaard

Vingegaard (Jumbo-Visma) já tinha dado sinais promissores na Vuelta 2020 e confirmou em 2021. Foi fulcral na vitória de Roglic (Jumbo-Visma) na Itzulia e com o abandono do Esloveno no Tour, ficou livre para fazer a sua corrida e foi o único que conseguiu descarregar Pogacar (UAE-Emirates).

Jonas Vingegaard pôde fazer sua corrida no Tour com o abandono de Roglic
4. Michael Storer

Uma das poucas coisas boas em 2021 da DSM e como já é tradição, sai da equipa. Realizou uma Vuelta descomunal, com duas vitórias de etapas brilhantes e mais umas quantas tentativas que deram vida à prova.

Michael Storer vence a Etapa 7 (PhotoGomezSport)
5. Sonny Colbrelli

A temporada de Colbrelli (Bahrain-Victorious)  foi surrealista, de sprinter a escalador e acabou a ganhar a Paris-Roubaix. Uma das transformações mais bestiais do ano, digna dos anos 90.

Colbrelli vence a Paris-Roubaix 2021
6. Maurício Moreira

Raúl Alárcon 2.0 com a técnica do czar Zakarin.

As melhores equipas

1. Deceuninck-Quick Step

A equipe mais vitoriosa do World Tour, os números são indiscutíveis.

2. Jumbo-Visma

Venceram a Vuelta, fizeram 2º no Tour com diversas vitórias de etapa mesmo com muitos abandonos e são das equipes mais vitoriosas do ano.

3. UAE-Team Emirates

Tem Pogacar (UAE-Emirates) e isso garante-lhes muitas vitórias. Sem Pogacar não estavam aqui.

4. Alpecin-Fenix

De longe a melhor Pro-Team do mundo, melhor que a maioria das equipes World Tour. São muito mais do que Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix).

5. Bahrain-Victorious

Antes do Giro não passavam de uma equipe mediana, após o Giro passaram a ser das melhores equipes do mundo, com vitórias em qualquer terreno.

6. Ineos-Grenadiers

Sem Pogacar (UAE-Emirates) e Roglic (Jumbo-Visma) em prova dominam, quando estes estão presentes são incapazes de lhes fazer frente. São a equipe com maior orçamento, espera-se um pouco mais.

7. SD Worx

A melhor equipe feminina, mas que começa a ver o seu domínio ameaçado por equipes como a Movistar ou Trek-Segafredo. Veremos como superam a perda de Anna van der Breggen.

As melhores provas por etapas

1. Tirreno-Adriático

Teve de tudo, desde a luta entre van der Poel (Alpecin-Fenix), Van Aert (Jumbo-Visma) e Alaphilippe (Deceuninck-Quick Step) até ao show particular de Pogacar (UAE-Emirates).

A etapa de Castelfidardo é antológica, ciclismo ofensivo no expoente máximo, um dia para nunca mais esquecer. De qualquer forma o Tirreno-Adriático estaria sempre neste top, só porque tem o troféu mais bonito de todo o desporto mundial.

Pagacar e o troféu mais bonito do desporto mundial
2. Itzulia

Luta titânica entre Roglic (Jumbo-Visma) e Pogacar (UAE-Emirates), onde o Esloveno mais velho levou a melhor. A última etapa onde a Jumbo-Visma e Roglic deram a volta no texto e foi uma das melhores etapas do ano. A luta entre os dois melhores ciclistas, mais a componente tática desse dia, foi do melhor que se viu este ano.

3. Volta a Portugal

A maior e melhor prova da península Ibérica mais uma vez não defraudou. A guerra W52-FC Porto x Efapel atingiu o pináculo este ano, com uma batalha tática intensa e muito ortodoxa, como já nos habituaram as equipes portuguesas. Tudo indicava que a hegemonia dos azuis e brancos seria quebrada, os amarelos ganharam diversas etapas e Maurício Moreira no crono final caminhava para a vitória, mas as deficiências técnicas do Uruguaio deitaram tudo a perder. Amaro Antunes (W52-FC Porto) agradeceu e arrecadou mais uma Volta a Portugal.

Amaro Antunes vence a Volta a Portugal

A grande volta perfeita

É a combinação da primeira semana do Tour com a segunda do Giro e para finalizar a terceira semana da Vuelta.

As melhores etapas do ano

1. ETAPA 5 – TIRRENO-ADRIÁTICO

Etapa completamente louca sob chuva intensa e frio. Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix) bem cedo mostrou que queria ganhar a etapa, depois de diversas mexidas a 50 Km atacou enquanto segurava com a boca uma barra de cereais.

Pogacar (UAE-Emirates) e Wout Van Aert (Jumbo-Visma) jogavam a Geral, o Esloveno conseguiu despachar toda a concorrência com a facilidade, o Belga acabaria por também realizar uma etapa antológica apesar de batido pelo Esloveno. Van der Poel chegou à meta completamente vazio, os últimos 10 Km foram penosos para o Holandês que venceu a etapa com apenas 10 segundos sobre Pogacar.

2. ETAPA 7 – TOUR DE FRANCE

Etapa longa mais terreno ondulado, quem diria esta combinação dava numa das melhores etapas dos últimos anos! Dia complicado para os defensores das etapas para juniores.

Desde o Km 0 na rotação máxima, diversos grupos espalhados pela estrada, corrida em constante mutação e sem descanso. No final ganhou um esloveno, Matej Mohoric (Bahrain-Victorious).

3. ETAPA 11 – GIRO D’ITÁLIA

Etapa descomunal de sterrato, onde a Ineos-Grenadiers aplicaram o martelo nos adversários, a principal vitima foi Remco Evenepoel (Deceuninck-Quick Step) que perdeu tempo importante e começou aqui o seu calvário na prova italiana.

Egan Bernal deu um passo importante para a vitória no Giro, a etapa foi para um desconhecido Suíço, Mauro Scmid (Qhubeka-NextHash).

4. ETAPA 20 – VUELTA DE ESPAÑA

Mais uma etapa em terreno ondulado a dar espetáculo, desta vez na Galiza. Foi o dia em que Clement Champoussin (Ag2r-Citroen) aparecer do nada e ganhar a etapa, mas também foi o dia em que Superman Lopez (Movistar) que decidiu abandonar porque em vez de fazer 3º, ía fazer 5º ou 6º na Geral.

5. ETAPA 6 – ITZULIA (ÚLTIMA)

Uma etapa que valeu sobretudo pelo o jogo tático entre a Jumbo-Visma e a UAE-Emirates. Roglic versus Pogacar, com Vingegaard e McNulty como convidados especiais e foi o Americano que acabou por fraquejar, abrindo o caminho da vitória para Roglic.

As melhores provas de um dia

1. Paris-Roubaix

Há muito tempo que se esperava por uma Paris-Roubaix molhada e este ano o desejo foi cumprido. Foi uma corrida anárquica, com muito drama principalmente para Gianni Moscon (Ineos-Grenadiers) e um final impróprio para cardíacos.

De qualquer forma, quer seja molhada ou seca, Paris-Roubaix é e será sempre a rainha das clássicas.

2. Strade Bianche

Uma das provas mais belas do calendário que este ano teve a honra de testemunhar os dois ataques mais violentos do ano e provavelmente da última década. O primeiro em La Tolfe, em pleno setor de sterrato e o segundo na Via Santa Caterina em Siena, este último fez parecer Julian Alaphilippe (Deceuninck-Quick Step) um autêntico amador.

3. De Ronde Van Vlaanderen

Uma masterclass de Kasper Asgreen (Deceuninck-Quick Step) que num dos duelos do ano, bateu Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix). Foi um dia marcado pelos violentos ataques do foguete Holandês que foi eliminando um a um até sobrar o torpedo Dinamarquês. O sprint final fica para história.

4. Tóquio 2020 – Prova de Estrada Feminina

Uma cavalgada de 130 Km para a medalha de ouro tem de estar neste ranking.

5. Mundial de Flanders – Masculino

Prova marcada pelo desastre tático da Bélgica, com Evenepoel (Deceuninck-Quick Step) a gastar os cartuchos bem cedo e Van Aert (Jumbo-Visma) a ficar vazio no final.

Alaphilippe (Deceuninck-Quick Step) pouco preocupado com isso, fez o terceiro ataque mais violento do ano para despachar os rivais e tornar-se bicampeão mundial.

O prémio Netflix

1. SUPERMAN LÓPEZ

Dias antes da Vuelta, renovou todo contente com a Movistar. Tudo parecia correr bem até que na penúltima etapa da Vuelta não reage a tempo ao ataque da Bahrain e fica para trás. Quando viu que o pódio tinha escapado, decide então abandonar a prova, culpando a equipe. Como é óbvio, o resultado foi a separação definitiva.

Em 2022 volta para a Astana, onde poderá continuar a espalhar magia nas estradas e fora delas. A Movistar perdeu uma personagem importante para o seu documentário.

2. OPI-OMI

Esta senhora conseguiu a proeza de pôr todo o mundo a falar do Tour, mesmo aqueles que não sabem o que é uma prova de ciclismo falaram disto. Só por isso merecia mais respeito por parte dos hooligans do ciclismo.

Ainda bem que ela fugiu rapidamente do local, recordar que o Superman López (Movistar) estava em prova.

3. PATRICK LEFEVERE

BAM! Foi um ano cheio para o patrão da Deceuninck-Quick Step:

  • Criou uma novela com um enredo brilhante no Giro;
  • Passou meio ano a insultar Sam Bennett;
  • Desdenhou do Ciclismo Feminino e acabou o ano a investir numa equipe de…Ciclismo Feminino;
  • Em cada 10 programas de TV que participou, apareceu bêbedo em 9.

E foi isto, bom ano 2022 para todos vocês.


Etapa Rainha é Bruno Dias, português de perto do Porto, onde equipe se escreve equipa e blefe é bluff. 🙂

Instagram