“This is history! Right here, right now, This is History!” (“Isso é história, aqui e agora! Isto é HISTÓRIA”). Com essas palavras, Noel Gallagher abriu os lendários shows de Knebworth. Naquelas duas noites, em 1996, foi o que os britânicos do Oasis fizeram em frente a cerca de 250 mil pessoas, no que ficou conhecido como auge máximo do movimento chamado BRITPOP. Em 2021, outra britânica também fez história nas estradas e no Velódromo de Roubaix: Lizzie Deignan (Trek Segafredo).
Tudo remetia a um evento histórico. A Paris-Roubaix, chamada de Rainha das Clássicas, não era realizada desde 2019, devido à pandemia de Covid-19. Uma interrupção que só aconteceu durante a 2ª guerra mundial e desde então, nunca mais. A primeira edição feminina da Paris-Roubaix já seria hist´órica sem essa pausa, mas cresceu em tamanho e expectativa com a ausência no calendário das Clássicas de Primavera em dois anos seguidos. Sim, por que devido à uma nova onda de Covid no início de 2021, a corrida teve que ser adiada para Outubro. E isso causou todo um temor de outro cancelamento, o que também aumentou a ansiedade para a edição.
Como se já não bastassem as expectativas criadas, outro fator ainda mais determinante alterou os rumos do evento: o clima. Por ser uma corrida em um terreno difícil, com trechos duros de paralelepípedos, a chuva torna tudo muito pior. E a última edição do Inferno do Norte (outro subtítulo da corrida) sob chuva, foi a lendária edição de 2002. Seguiam-se 19 anos sem chover durante a corrida e a previsão do tempo apontava chuvas torrenciais precedendo e durante as corridas. Mais tempero em uma mistura já explosiva.
Como um presente para os sádicos fãs de Ciclismo, a chuva castigou a região de Roubaix e seus trechos de paralelos. A carnificina estava anunciada. Um pelotão estreante em uma das corridas mais duras do mundo na pior condição possível: não havia a menor chance disso ser irrelevante. Era uma jornada ao desconhecido para fãs, jornalistas, atletas e equipes. Todos tensos, curiosos, ansiosos.
A corrida começa. Os 30 quilômetros iniciais são de asfalto. Um aquecimento, a calmaria antes da tempestade, mesmo que a tempestade já caísse desde antes da prova. Mesmo quem nunca correu a Paris-Roubaix, sabe: nesta corrida, posicionamento é ESSENCIAL e pode fazer toda a diferença.
Ao primeiro sinal de paralelos, a Trek-Segafredo posicionou o time à frente. A Trek tinha uma equipe com algumas favoritas. Pela posição no calendário, a prova foi disputada logo após o Campeonato Europeu e o Mundial. E a recém coroada Campeã Européia de estrada e Mundial de crono Ellen Van Dijk liderava o time, junto à também fortíssima Elisa Longo Borghini, Campeã Italiana. Mas quem entrava à frente para liderar o caminho era Lizzie Deignan, outro nome de peso, Campeã Mundial de 2015 e da Liege-Bastogne-Liege 2020, entre outros títulos, mas que não tinha tantas vitórias no ano de 2021.
Já no primeiro trecho de paralelos, Deignan abriu uma vantagem do pelotão. Não era planejado. Quando ela olhou pra trás, viu que estava sozinha. O rádio gritou: “Acelera, Lizzie!” e ela estava à própria sorte, com 80 quilômetros e todos os trechos de paralelepípedos pela frente. Era uma tarefa monumental que se apresentava: um tombo ou problema mecânico poderia por tudo à perder. Novamente, os astros se alinhavam para a História ser feita.
Vinte quilômetros mais tarde e ainda restando sessenta por rodar, a vantagem da Britânica era de mais ou menos 1 minuto e 50 segundos. Pode parecer muito, mas um pelotão vinha atrás furioso, buscando a frente de prova e ela precisava segurar a vantagem sozinha, sem ninguém para revezar. Também precisava ter uma pilotagem atenciosa, pois a chuva transformou as pedras pontiagudas dos trechos de pavé (paralelepípedos em francês) em superfícies tão escorregadias quanto perigosas. A líder da Movistar, Annemiek Van Vleuten sofreu um tombo em um desses trechos e fraturou a bacia. Além de não terminar a corrida, precisou passar por cirurgias e levou um bom tempo até voltar a pedalar.
O perigo era real e as quedas, inúmeras. Van Dijk também foi vítima de uma delas, mas sem grandes consequências. A nova campeã do mundo Elisa Balsamo (na época, na Valcar), também foi mais uma a ir ao chão, estreando camisa e bikes arco-íris no teste de fogo do Inferno do Norte.
Os 50 quilômetros finais foram eletrizantes, Deignan precisava segurar a ponta enquanto o pelotão se quebrava em grupos cada vez mais selecionados. Os temidos setores de Mons-en-Pevele e Carrefour de l’arbre se aproximavam. A vantagem chegou a 2 minutos para o pelotão, mas começou a cair vertiginosamente. Marianne Vos (Jumbo-Visma) que tinha sido prata no Mundial, dias antes, perseguia loucamente a frente da prova e o título da primeira Paris-Roubaix feminina. A outra líder da Trek, Longo Borghini cumpria um papel tático de ficar na roda da Holandesa e desmotivar a caça.
Nos últimos 15 quilômetros, a diferença de tempo entre os grupos caiu para 1 minuto e Vos, como um trator, atacava os setores de pavé com maestria e voava sobre as pedras. Lizzie, no entanto, sabia da responsabilidade que tinha em mãos e como boa contrarrelogista, manteve uma passada constante até chegar no Velódromo de Roubaix. Um vento a favor ajudou nos quilômetros finais, como se até a natureza torcesse pelo desfecho feliz. Na última volta, a Britânica irrompeu em lágrimas e os fãs, junto. Ao passar na linha de chegada, fez um símbolo com as mãos para exaltar o nome da equipe, estampado na camisa, mas o que roubou a cena foi a imagem dos dedos ensanguentados, feridos pela trepidação das pedras e a firmeza de quem segurou o guidão com toda a determinação que tinha. A Holandesa da Jumbo chegou em segundo e Longo Borghini em terceiro.
Estava escrito, não era para ser de mais ninguém. A ciclista que pausou a carreira para realizar o sonho de ser mãe e, contra todos os prognósticos, voltou a correr e também tornou-se Campeã Mundial, tinha que ser a primeira vencedora da m´ítica Paris-Roubaix. Assim como os Oasis e o Britpop eram um símbolo da popularização do Reino Unido e a Cool Britania pelo mundo no anos 90, Deignan e a Paris-Roubaix Femmes fundiram-se em um símbolo de que o Ciclismo Feminino é um espetáculo e um movimento que vieram pra ficar. Daqui para a eternidade.
Onde assistir a Paris-Roubaix?
ESPN/Star+
ESPN/Star+ é a transmissora oficial da prova para o Brasil com excelentes narrações do garoto de ouro da casa, Renan do Couto e comentários do já folclórico Celso Anderson. Requer pacote de assinatura de TV a cabo e/ou serviço.
GCN+/Eurosport
GCN+ é um pacote de assinatura exclusivo de ciclismo, com transmissão do canal Eurosport (disponível apenas em inglês, francês, alemão e italiano). Corridas ao vivo ou por demanda de todas as provas do calendário. Tanto as provas masculinas, quanto as femininas, incluindo a temporada de Cyclocross. As provas têm transmissão geralmente de dois ex-ciclista profissionais: o excelente Sean Kelly (9X campeão de Clássicas Monumento, vencedor da Vuelta a España de 1988 e várias vitórias no Giro di Lombardia, Milan-San Remo, Paris-Roubaix e Liège-Bastogne- Liège) e Brian Smith. Algumas provas recebem também a excelente comentarista holandesa, José Been. Para ver algumas provas no Brasil é necessário instalar um VPN no navegador/browser, para simular um IP, destravando assim o bloqueio de geolocalização. Em muitos casos, não é necessário fazer a assinatura do VPN. A sua versão gratuita atende bem.
Tiz-Cycling
Tiz-Cycling é um site que transmite todas as provas de ciclismo do mundo. As Grandes Voltas (GTs), os campeonatos nacionais, as Clássicas Belgas, Paris-Roubaix, ciclismo feminino, cyclocross. Tudo! Veja a nossa ENTREVISTA EXCLUSIVA com 10 perguntas para o canal Tiz Cycling. Descobrimos que, além de norte-coreano, apenas 3 pessoas são responsáveis pelo site. Todos malucos por ciclismo. Só pode.
TacoPapo BikeBlz
Você pode conferir todo domingo às 18h (BRA)/21h (POR), o nosso programa semanal com Junimba, Allan Almeida, Adriana Nogueira e Davide Gomes trazendo o melhor da corrida, destaques e comentários de tudo que rolou na prova. Especialmente em duas edições este final de semana, no sábado e domingo após as provas Femininas e Masculinas da PARIS-ROUBAIX.
Start list Paris-Roubaix 2022
Confira os ciclistas confirmados na prova.
Lista dos ciclistas na corrida FEMININA →
Lista dos ciclistas na corrida MASCULINA →
Velogames
A Paris-Roubaix tem Velogames e faz parte da Fantasy Spring Classics. Monte seu time e participe da nossa Liga BikeBlz. Venha se divertir com a gente! O código da Liga BikeBlz é #13044627. Não perca.
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Fotos: A.S.O. Fabien_Boukla
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