Lá de trás, ouvi: — Quando chegar nessa árvore, você desce duas marchas. Aí vai recuperando a cadência. Isso, gira, vai!
Que árvore é essa? Eu já subi a Estrada Dona Castorina mil vezes e nunca vi. Quem olha árvore? Eu estava assistindo a esta aula do Felipe lá do fundo, como sempre. De fato, é logo depois da Bica, quando dá uma boa aliviada. Olhei pra minha marcha levinha e só pensei que devo ter faltado a esta aula.
Essa árvore é uma copaíba ou uma paineira? É o jequitibá ou só uma das jaqueiras? Como assim “nessa árvore”? Como vou me lembrar desta árvore no meio de tantas outras? Nessa floresta toda, o que esta tem de especial? Só porque nasceu ali, logo depois da Bica, ou porque é uma juçara. Porque nasceu não foi, que ali foram plantadas.
Quando mudei para o Rio fui trabalhar no Jardim Botânico. Almoçava sanduíche no orquidário, vendo o esplendor discreto das orquídeas, e o resto do dia no computador dentro do Instituto, vendo a frieza presunçosa das fotos de plantas secas. As excicatas são como as provas matemáticas: sistemáticas, racionais, lógicas e humanas. A foto de um objeto, material ou puramente intelectual, que tem a pretensão de guardar para sempre, para todos, o que só nós vimos. Uma folha seca.
Aquela árvore está ali, onde é para a marcha pesar. Mas é o que está no herbário, a folha seca com uma etiqueta de mais uma fabacea: Copaíba, Copaifera langsdorffii Desf., de Desfontaines, nome francês de mais uma subida. Pesa a marcha e ataca no Col de Desfontaines!
A ciclista iniciante atacou! Desceu a marcha bem no rumo da árvore e acelerou, ou tentou. Desajeitada, levantou e sem balançar, pedalou só as pernas. A árvore lá atrás se balançava nas folhas, chacoalhando faceira.
Foto capa: Junior Simões
Kleto Zan é engenheiro de software, ciclista e detesta fotografia, mas escreve como ninguém.