Etapa plana é dia tranquilo com emoção apenas nos 500m finais, certo? Hoje, não.

Na terceira jornada do Tour 2021, a transmissão começou já com replays de tombos, o líder da Ineos-Grenadiers e campeão do Tour 2018, Geraint Thomas tocou rodas e foi ao chão levando outros atletas, entre eles Robert Gesink (Jumbo-Visma) que teve fraturas e abandonou a corrida. Thomas teve um deslocamento de ombro, mas o médico da prova recolocou-o no lugar com ele ainda no chão e ele conseguiu terminar a etapa.

Já o resto do pelotão, nos 10 quilômetros finais, deparou-se com dezenas de quedas, inclusive de outros favoritos à Camisa Amarela, como Primoz Roglic (Jumbo-Visma) e de sprinters que queriam vencer a etapa, como Caleb Ewan (Lotto-Soudal), Arnaud Demàre (Groupama-FDJ) e Peter Sagan (Bora-hansgrohe).

O líder, Mathieu Van der Poel (Alpecin-Fenix), manteve a Camisa Amarela e ainda trabalhou nos quilômetros finais para a vitória do companheiro Tim Merlier, sprinter Belga que conquistou também uma vitória no Giro deste ano e nas clássicas Le Samyn e Bredene Koksijde, ambas na Bélgica. Merlier, que está no melhor ano da carreira, disse que esta vitória é um sonho e se alguém o dissesse no começo do ano que “ele iria ganhar etapas no Giro e no Tour”, responderia rindo: “Isso é impossível!”.

Contrariando a lógica, Mathieu Van der Poel e a Alpecin-Fenix estão aqui para provar que o impossível é apenas uma questão de tempo.

Como foi o terceiro dia na Bretagna

A etapa começou e já no primeiro quilômetro, Ide Schelling (Bora-hansgrohe) que vestia a Camisa de Bolinhas atacou. Logo uma fuga com ele, Cyril Barthe e Maxime Chevalier (B&B Hoteles), Michael Schar (AG2R) e Jelle Wallays (Cofidis) se formou. O pelotão manteve um ritmo controlado e a fuga pôde ir. Cerca de 30 quilômetros após, começou a chover na região e a 142 quilômetros do fim, Geraint Thomas (Ineos Grenadiers) perdeu o controle da bicicleta ao passar em uma lombada e caiu, derrubando o companheiro Luke Rowe além de Robert Gesink e Tony Martin (Jumbo-Visma). Gesink sofreu uma lesão e abandonou a corrida imediatamente. Thomas teve o ombro deslocado e após o médico recolocá-lo no lugar, voltou para corrida enquanto que Castroviejo e Dylan van Baarle o esperavam para levá-lo de volta ao pelotão.

Depois de 20 quilômetros de perseguição, os quatro ciclistas da Ineos voltaram ao grupo. A fuga manteve-se à frente com 5 atletas até Ide Schelling passar na montanha de categoria 3 e garantir a pontuação para ser definitivamente o líder da Camisa de Montanha. Os quatro atletas seguintes permaneceram juntos até os quilômetros finais.

O pelotão controlava principalmente com a Lotto Soudal, Alpecin-Fenix e FDJ, que defendiam os interesses de Caleb Ewan, Merlier e Arnaud Demàre, respectivamente. Tudo seguia o script para um sprint massivo até os 10 quilômetros finais. Aí uma sucessão de quedas tomou conta nas estradas estreitas e sinuosas que levavam à chegada.

Valentin Madouas (FDJ) caiu e logo após foi a vez do líder da Jumbo e favorito, Primoz Roglic também cair ao envolver-se em um enrosco com Sonny Colbrelli (Bahrain). Faltando 5 quilômetros, foi a vez do outro Esloveno, dessa vez o da UAE, Tadej Pogačar também sofrer um tombo. Arnaud Demàre foi outra vítima em uma das curvas finais. O pelotão se quebrou todo e alguns ficaram presos atrás como Mark Cavendish (Deceuninck-Quickstep).

A DSM trabalhava à frente para Cees Bol junto com a Alpecin-Fenix, que colocou o Camisa Amarela Mathieu Van der Poel para embalar Tim Merlier. Já no quilômetro final, a chegada ficava após uma curva para a direita. Após Van der Poel sair, outro sprinter belga da Alpecin-Fenix, Jasper Philipsen embalou perfeitamente Merlier. Caleb Ewan que vinha atrás, tocou na roda traseira de Merlier e caiu, derrubando também Peter Sagan. O australiano fraturou a clavícula e teve que abandonar, enquanto que o Eslovaco conseguiu levantar e terminar a etapa. Merlier, que não teve culpa nenhuma, cruzou a meta em primeiro, seguido por seu embalador e coroando o trabalho perfeito da equipe que venceu pelo segundo dia seguido.

Uma bela vitória que foi ofuscada pelo triste acúmulo de incidentes devido à falta de precaução da organização. Tim Declerq (Deceuninck-Quickstep) ainda declarou pós-etapa que os ciclistas pediram à ASO, organizadora do Tour, um adiantamento da zona neutralizada para 8 quilômetros da meta, mas não tiveram resposta. O resultado da negligência foram diversos atletas machucados e muito prejuízo para os que lutam pela Classificação Geral. Roglic perdeu cerca de 1 minuto em relação a Pogačar e este, perdeu 30 segundos em relação a Carapaz (Ineos Grenadiers).

Quedas são parte do esporte e ficar em cima da bike é necessário no ciclismo, mas reduzir os riscos para os atletas e escolher locais seguros para o final de etapas também compete aos organizadores e à UCI. Agora, nos resta torcer para que estes eventos não prejudiquem a disputa da Classificação Geral e que os artistas do espetáculo possam dar o melhor show em cima de suas bikes.

O Tour é uma batalha de sobrevivência sim, mas em relação a capacidade física, não como jogos vorazes, onde vence o último com vida. Amanhã, outra etapa de sprint. A torcida é para que finalmente, seja um dia tranquilo.

(Foto: A.S.O.)


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