Como prometido estou de regresso, desta vez com uma pequena e humilde análise à primeira semana da maior prova de ciclismo do universo…menos Itália!

Devo confessar que foi uma dos melhores primeiras semanas que me lembro do Tour, mas que deixa entender que as restantes duas semanas vão ser enfadonhas. Vamos então aos nomes e fatos que mais me chamaram a atenção até o momento:

Opi-Omi

A prova começou com drama, a cerca de 50 quilômetros da meta o pelotão percorria tranquilamente o percurso e do nada o caos instalou-se. A causa rapidamente foi descoberta através das repetições, uma mulher com um cartaz enorme que ocupou uma parte da estrada com a frase “Allez Opi-Omi” derrubou Tony Martin (Jumbo-Visma) e depois deu-se o efeito dominó com metade do pelotão no chão. Sendo objetivo e pragmático, o objetivo foi alcançado, queria aparecer na televisão e conseguiu, pelas piores razões, claro. A organização emitiu um comunicado a pedir para encontrarem a senhora, ao fim de alguns dias ela apareceu de livre vontade com medo e arrependida.

A ASO decidiu não abrir qualquer processo judicial contra ela.

Loulou

Chegou ao Tour com um claro objetivo, ganhar etapas e vestir a Camisa Amarela. Logo no primeiro dia conseguiu as duas coisas, com um ataque demolidor na subida final e dedicou a vitória ao filho que nasceu à poucos dias.

A Amarela durou um dia em seu poder porque um Alien apareceu e roubou-lhe o protagonismo.

Alien

The Greatest Show on Earth é assim que se devia chamar Mathieu Van der Poel (Alpecin-Fenix). Depois da desilusão de não conseguir ganhar a etapa e a Amarela no primeiro dia para homenagear o seu avô, o lendário Raymond Poulidor, o Alien deu uma autêntica aula de ciclismo ofensivo.

Atacou no meio da primeira passagem pelo Mûr de Bretagne para ir buscar a bonificação, com a Amarela já em mente, objetivo alcançado. Na chegada, o homem dos Países Baixos decidiu controlar a corrida em plena subida, respondeu a Nairo Quintana (Arkea-Samsic) e Sonny Colbrelli (Bahrain Victorious) e depois lançou a bomba atómica, deixando toda gente pregada ao asfalto. Etapa, Amarela e uma conferência de imprensa emocional com dedicatória especial para Poupou.

Mathieu van der Poel venceu a Etapa 2 e dedicou ao avô Poupou

Para mal dos seus haters realizou um contrarrelógio extraordinário, nada mal para quem não treina a especialidade, segurou a Amarela! Mas não satisfeito decidiu espezinhar aqueles que duvidam dele, na 7ª etapa montou um bonito cenário com o seu eterno rival e amigo, Wout van Aert (Jumbo Visma) numa etapa lendária.

Infelizmente já não está em prova, irá concentrar-se na prova olímpica de MTB. O Tour vai sentir a sua falta.

Torpedo da Flandres

Depois de molhar o bico no Giro, o ‘melhor amigo belga de Van der Poel’ chegou ao Tour da mesma forma, a ver e a vencer. Beneficiou de um grande trabalho do amigo dos Países Baixos e de Jasper Philipsen (Alpecin-Fenix), numa etapa caótica que eliminou o maior adversário, Caleb Ewan (Lotto Soudal).

Curiosamente nas duas chegadas ao sprint seguintes, a equipe decidiu apostar no sprinter mais lento e não nele. Alguém que avise os diretores da equipe Belga, que aquele frasquinho azul que diz “Alpecin” é para lavar a cabeça e não para beber.

Tim Merlier (Alpecin-Fenix), um ciclista que há dois anos tinha pouco futuro na modalidade e agora anda a ganhar sprints no WT.

Míssil da ilha de Man

Quem adivinharia que Mark Cavendish (Deceuninck-QuickStep) ao final da primeira semana teria duas vitórias de etapa? Faltam duas para igualar as 34 vitórias do Cannibal, Eddy Merckx. Na Bélgica, surgiram notícias que Merckx estava a pensar em regressar à competição, até esteve reunido com Lefevere numa jantarada onde o Tio Pat zerou o estoque de vinho e passou mais de 2 horas a falar de Sam Bennett.

Com a eliminação de uma parte dos sprinters (Ewan, Demare e Merlier), esse sonho está prestes a ser concretizado. Na segunda semana há várias hipóteses e a equipe Belga deve controlar a corrida nesses dias.

Os reis das quedas

A Jumbo-Visma ganha este prêmio de goleada.

A queda da 1ª etapa com Tony Martin (Jumbo-Visma) envolveu praticamente toda a equipe. Felizmente ninguém abandonou e ficou seriamente ferido. Mas o pior aconteceu na 3ª etapa, o líder Primoz Roglic (Jumbo-Visma) a menos de 15 Km da meta caiu depois de Sonny Colbrelli (Bahrain Victorious) o tocar, o Esloveno ficou muito machucado e antes da 9ª etapa abandonaria devido às lesões da queda. Um autêntico desastre já que o ciclista tinha feito uma preparação de vários meses para este Tour. Nessa mesma 3ª etapa, Geraint Thomas (Ineos Grenadiers) caiu no inicio da etapa e levou ao chão Tony Martin e Robert Gesink (Jumbo-Visma) este último teve de abandonar imediatamente.

Mas as quedas continuaram ao longo dos dias. Perdi a conta do número de vezes que Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) esteve no chão. Felizmente sem consequências graves que lhe permite estar na luta pelo pódio por enquanto.

DesIneos

Muitos apelidaram a equipe britânica para este Tour como a melhor de sempre. Tinham o 3º classificado da edição 2020, o vencedor do Giro 2020, o vencedor do Tour 2018 + 2º classificado do Tour 2019 e o vencedor do Giro 2019 + 2º classificado da Vuelta 2020. Como gregários tinham Castroviejo, Rowe, Van Baarle e Kwiatkowski (Ineos Grenadiers).

Mas ao fim de dois dias só restavam dois líderes bem colocados, Richie Porte e Tao Hart (Ineos Grenadiers) já tinham sido descarregados nas curtas rampas da Bretanha. Para piorar, na 3ª etapa Geraint Thomas beijou o asfalto, deslocou o ombro e ficou praticamente eliminado da luta pela Geral. Restava Richard Carapaz (Ineos Grenadiers) que no contrarrelógio defendeu-se como pôde, mas um raio de luz apareceu na 7ª etapa, o Equatoriano atacou e apesar de não ter ganho tempo deu sinais de esperança.

O pior aconteceu na 8ª etapa, a Ineos não conseguiu contrariar a UAE e Carapaz também não teve capacidade para seguir Tadej Pogacar (UAE). Na 9ª etapa a Ineos regressou à estratégia do trem, mas voltou a não dar resultado, nem sequer conseguiram descarregar Rigoberto Uran (EF), Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) e Enric Mas (Movistar). Neste momento realisticamente a equipe que tem 50 milhões de orçamento só pode ambicionar ao 2º lugar da Geral e mesmo isso não está fácil.

Fugas

Depois do momento assustador que Matej Mohoric (Bahrain Victorious) nos proporcionou no Giro, que lhe valeu o título de “Nadia Comaneci do ciclismo” aqui em casa, o Esloveno chegou ao Tour em boa forma e ambicioso. Ao sétimo dia de prova, numas das etapas mais loucas do ano, meteu-se na fuga, depois na ‘fuga de la fuga’ e conseguiu a proeza de estar na “fuga de la fuga de la fuga” chegando isolado a Le Creusot, foi a primeira vitória de uma fuga nesta edição.

As fugas vingaram no Tour de France

Na etapa seguinte (8ª) foi a vez do seu colega de equipe, Dylan Teuns (Bahrain Victorious) ganhar a etapa com final em Grand Bornand. Mais uma vez Chente Garcia Acosta tinha razão, o importante numa fuga é a “fuga de la fuga” e foi isso que o Belga executou na perfeição. Quem propôs o nome “Victorious” é um visionário.

E para fechar a semana, pelo terceiro dia a fuga teve sucesso, desta vez não foi um membro da Bahrain Victorious, mas sim Ben O’Connor (AG2R Citroën). O Australiano mais Francês da história da humanidade foi o mais forte na subida para Tignes e deixou os mini-colegas de fuga Nairo Quintana (Arkea-Samsic) e Sergio Higuita (EF) pregados na estrada. Além da vitória, subiu para o 2º lugar da Geral com uma boa vantagem sobre os rivais mais próximos.

Alien2

Tadej Pogacar (UAE) iniciou este Tour como o principal favorito e ao terceiro dia esse estatuto reforçou-se ainda mais com a queda grave daquele que poderia fazer-lhe frente, Primoz Roglic (Jumbo-Visma).

Na 5ª etapa no contrarrelógio voltou a espantar o mundo com uma exibição fabulosa no esforço individual de 27 Km, onde bateu por 19 segundos um especialista como Stefan Kung. Na 7ª etapa ele e a equipe estiveram sob forte pressão, dúvidas começaram a surgir. Mas duraram menos de 24 horas, no dia seguinte a UAE decidiu controlar as coisas, destaque para Rui Costa, Brandon McNulty e Davide Formolo (UAE) que estiveram perto da perfeição. Pogacar não falhou e a 30 Km da meta lançou dois ataques demolidores, que fez parecer um dos melhores trepadores do mundo, Richard Carapaz (Ineos), um ciclista completamente banal.

Tadej Pogacar espantou o mundo com suas performances

A exibição foi monumental, o Esloveno deu mais de 3 minutos ao grupo principal onde estavam Carapaz (Ineos), Kelderman (Bora-Hansgrohe), Mas (Movistar), Uran (EF), Vingegaard (Jumbo-Visma), Lutsenko (Astana), David Gaudu (Groupama-FDJ) e o seu colega Formolo. Para fechar a semana, Pogacar foi menos cruel com os adversários, atacou a 3-4 Km da meta e apenas ganhou-lhes 2 dezenas de segundos.

Os outros

Lutar pelo pódio é o que resta a Richard Carapaz (Ineos), Wilco Kelderman (Bora-Hansgrohe), Enric Mas (Movistar), Rigoberto Uran (EF), Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) e Alexey Lutsenko (Astana). O ciclismo ofensivo até chora.

Penso que foi isto. Volto dia 12 com o 2º Rest Day.
Au revoir.

(Fotos: A.S.O.)


Etapa Rainha é Bruno Dias, português de perto do Porto, onde equipe se escreve equipa e blefe é bluff. 🙂

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