Um amigo vizinho pegou uma enxada e fez uma pistinha numa data vazia perto de casa, lá no interior do Paraná. Aí um dia choveu. Foi assim que o ciclocross foi inventado, para desespero das mães.

A pistinha era divertida com paredões nas curvas, ondinhas e costelas. Mas as corridinhas que fizemos sem a chuva parecem pra mim, agora, uma das etapas de 4 horas de transição do Tour. Burocrática e chata. Era a gente brincando porque era isso que se fazia quando era criança, uma obrigação. Mas na chuva… não! Na lama era brincadeira de verdade.

Nunca tinha assistido às corridas de ciclocross até nunca ter vivido uma pandemia. Mas essa temporada liguei o YouTube da UCI para ver se tinha graça. E me arrependo, porque não consigo mais me imaginar vendo outra corrida.

Ciclocross é a única corrida de bicicleta que vale a pena ser vista.

E, claro que estou dizendo com isso que Paris-Roubaix é ciclocross.

Lama, escada, grama, barreirinhas, areia, rampa, tudo numa pistinha marcada. Sprint na largada, mão nas barreiras das curvas pra não cair, pé atolado, roda travada na areia, tombo e cara enlameada.

No mundial do domingo Mathieu van der Poel e Wout van Aert disputaram a camisa arco-íris. O holandês se deu bem, como na maioria das vezes, e ganhou. Os holandeses, a propósito, são bons de lama. Ganharam em todas as 4 categorias.

Os dois disputam essas provas de pistinha desde criança. Ontem, quando o pneu da frente de van Aert furou, van der Poel podia ter só parado, sentado e rido até sua mãe chamar pra tomar banho.


Kleto Zan é engenheiro de software, ciclista e detesta fotografia, mas escreve como ninguém.

Capa por Nick Bolton on Unsplash

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