Estudo revela que o transporte no Rio é distante, caro, inseguro e desigual.

O retrato do transporte público na cidade do Rio de Janeiro é distante das pessoas, caro, inseguro e desigual, afirma o Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento (ITDP). De acordo com a pesquisa realizada pelo instituto e divulgada em outubro de 2020, retrata uma analise do transporte a partir da crise climática, sanitária, politica e econômica pela qual estamos vivendo. É nesse momento em que há mais exigências de respostas em termos de acessibilidade e inclusão à cidade.

O carioca, com frequência muitas vezes diária, desloca-se entre um município e outro do Grande Rio, seja para ir e voltar do trabalho, seja para acessar algum tipo de serviço não disponível na localidade em que mora. Este deslocamento custa caro não apenas em termos monetários, mas também em termos de tempo perdido e/ou oportunidades perdidas.

De acordo com o estudo, 49% dos deslocamentos são realizados por transporte público e em média os cariocas gastam 67 minutos no transporte todos os dias. Diante disso, o tempo médio de deslocamento que aqueles que habitam na Região Metropolitana do Rio, de um em cada quatro pessoas demoram mais de uma hora para se deslocar de casa para o trabalho, isso demonstra o pior resultado entre as 10 regiões analisadas.

Em suma, o cidadão fluminense não somente perde mais horas no transporte como também gasta parcela maior do orçamento familiar com ele. São tempo e dinheiro que poderiam estar sendo gastos de outra maneira que não no trânsito.

Ainda sobre a pesquisa, a cobertura da infraestrutura de transportes na Região Metropolitana, 81% da população esta distante do transporte em média e alta capacidade (trem, metro, BRT, VLT e barcas). Dessa forma, contribui para que a distância aumente à dificuldade no acesso a cidade, a qualidade de vida e expõe as pessoas – principalmente aquelas em grupo de maior vulnerabilidade de gênero, raça e renda – situação de risco.

O percentual de pessoas distantes do transporte em media e alta capacidade, por gênero raça e renda, demonstram que mulheres negras e mulheres responsáveis por domicílios com renda até dois salários mínimos vivem ainda mais longe do que a media da população presentando 83%, frente a 81% da população total, afirma o estudo. Além desses fatores, andar de transporte público no Rio de Janeiro requer 19% do salario mínimo quando há a necessidade de se locomover com duas viagens de ônibus, partindo da realidade que hoje a passagem que custa R$4,05, uma pessoa que recebe R$1045 desembolsa R$202,50 só com transporte.

E se pensarmos nas características da família, o coeficiente da razão de dependência é negativo, isto é, quanto maior o número de crianças e idosos por adulto na família, menor o percentual do gasto com transporte urbano no orçamento das famílias. Isso, por um lado, reflete o acesso gratuito de crianças de colo, estudantes e idosos nos transportes públicos. Por outro lado pode indicar principalmente para os idosos, maior dificuldade de locomoção, com menor utilização de transporte urbano seja por conta da qualidade dos equipamentos do transporte quanto das condições de acessibilidade física.

Diante do problema, uma série de políticas públicas para o desenvolvimento urbano foram implementadas e estão no caminho certo para diminuir o peso dos gastos com transporte público, como o Bilhete Único, e para facilitar a circulação e diminuir o tempo de locomoção, como BRS e BRT. Entretanto, essas políticas e ações estão concentradas na capital do Rio, enquanto o problema da mobilidade urbana é metropolitano. Para enfrentar o problema, então, a política de mobilidade urbana deveria contemplar cobertura maior e de qualidade também para a periferia da região metropolitana. Caso contrário, o custo com transporte e o tempo de deslocamento de casa ao trabalho podem diminuir, mas relativamente pouco para os mais pobres da região metropolitana do Rio de Janeiro.


Adriano Mendes é cria da Maré, Gestor Público e Mestrando em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ. É Educador Popular e Pesquisador de Cidades Inteligentes.

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