A frase do título não é minha. É de um TED Talk da americana Mara Abbott, que se aposentou após os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.

Nesses dias olímpicos, a decepção Holandesa na prova de estrada feminina e a frustração do abandono de Mathieu van der Poel (HOL) no prova de XCO do Mountain Bike fizeram eu me lembrar de Mara e do TED Talk, bem como o belíssimo artigo que ela escreveu para o Wall Street Journal.

Nas Olimpíadas do Rio em 2016, ela liderava a prova de ciclismo de estrada após a queda de Annemiek van Vleuten (HOL), mas foi alcançada há poucos metros da chegada por Anna van der Breggen (HOL), Emma Johansson (SWE) e Elisa Longo-Borghini (ITA), perdendo a chance da medalha olímpica.

Mara fala com uma honestidade tocante sobre a coragem de encarar que, mesmo fazendo o melhor, mesmo com toda preparação, mesmo com anos de aprendizado, mesmo com acertos táticos, tudo isso não foi o suficiente para atingir seu objetivo: uma medalha olímpica.

A régua pela qual se mede sucesso ou fracasso é individual. Cabe a cada um dizer o quanto é o bastante. O ouro, o pódio, um top 10, completar a prova…

Para a Seleção Feminina da Holanda, só o ouro importava. Para Elisa Longo-Borghini, o bronze teve sabor de vitória. Para Anna Kiesenhofer (AUT), a fantástica Austríaca que ganhou o ouro, um Top 25 estaria de bom tamanho, como ela mesma disse após a prova.

Seja qual for a métrica pela qual atletas escolhem para medir sucesso ou fracasso, eu acho incrível que estes indivíduos encarem o risco de falhar espetacularmente após estabelecer uma barra tão alta para si mesmo.

Acho ainda, mais admirável que mesmo depois de um fracasso, a maioria opte novamente por encarar as mesmas dificuldades, privações e desafios em um novo ciclo olímpico. Por que passar por tudo de novo e ainda correr o risco de falhar? É da natureza humana fugir de situações que nos façam enfrentar o medo de fracassar.

Aceitar uma promoção, fazer uma declaração de amor, inscrever-se numa competição, aceitar o convite para aquela ciclo viagem dos sonhos. Todas essas são situações que nos levam a uma pergunta: o que é melhor? Ter uma desculpa na manga e pensar “eu poderia, mas…” ou descobrir que mesmo tendo feito tudo, o seu melhor não foi o bastante.

Não é uma resposta fácil, diz Abbott. Por um lado, podemos até ter forças para encarar aquilo que não podemos ser. Porém, jamais seremos capazes de alcançar aquilo que podemos ser, especialmente se não nos damos a oportunidade de nos testar e descobrir.

No final das contas, talvez não seja aptidão física, disciplina ou foco que diferenciem um atleta olímpico de nós, meros mortais. Talvez a diferença esteja na capacidade de ousar perguntar qual é o meu limite. Até onde eu consigo chegar, sabendo que inevitavelmente, vai encontrar a resposta. Inexoravelmente, as asas de Ícaro vão arder em chamas na sua busca por alcançar o Sol.

Talvez a diferença entre um atleta olímpico e nós, esteja na capacidade de enxergar que ter o coração partido é sim, um privilégio.


Adriana Nogueira é médica infectologista, apaixonada por ciclismo e dizia que só conseguia escrever em threads do Twitter.

Foto: Munbaik Cycling Clothing on Unsplash 

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