O pesadelo acabou. Pelo menos é o que parece para a Jumbo-Visma. Entre Belle Filles 2020 e Rocamadour 2022, a equipe Holandesa enfrentou um duro período. Ver a glória tão de perto e depois ser arrancada por um rival aparentemente imbatível é algo para quebrar a determinação de muitos.

Escrevi, anos atrás, em um 2020 já distante, que a Jumbo e a Ineos batalhariam pela dominância no pelotão. A equipe Britânica vinha de uma sequência de títulos no Tour de France e tinha, até então, o melhor escalador do mundo, Egan Bernal. O time Holandês, por sua vez, mostrava-se extremamente forte com dois líderes campeões de grandes voltas (Dumoulin e Roglic) e tinham recém vencido uma Vuelta pela primeira vez. Porém, enquanto as duas potências se enfrentavam, um meteórico Tadej Pogacar (UAE) conseguiu correr sob o radar para surpreender na crono final e tomar a Camisa Amarela de Primoz Roglic, frente a incrédulos Dumoulin, Van Aert e todo o mundo do Ciclismo.

Em 2021, um novo revés: o tombo na etapa inicial levou boa parte do time ao chão, incluindo a Jumbo e seguindo novo tombo etapas depois, Roglic abandonou enquanto Pogacar tornava-se o bicampeão mais jovem da História do Tour de France. Apesar disso, Jonas Vingegaard surpreendeu (também) ao terminar em segundo na Classificação Geral e bater Richard Carapaz (Ineos Grenadiers) com direito a ter deixado Pogacar para trás na escalada ao Mont Ventoux. O primeiro sinal de que a vida de Tadej seria mais complicada do que o imaginado.

O Tour 2022 começou intenso. Crono curta na Dinamarca e Tadej Pogačar foi o melhor dos favoritos. Wout Van Aert finalmente venceu o grande rival Filippo Ganna (Ineos Grenadiers) mas acabou tendo azar e sendo superado pelo inesperado Lampaert (Quickstep) que se valeu de condições de pista seca. Wout foi três vezes segundo lugar, mas conseguiu vestir a Amarela e melhor: vencer com a Camisa de Líder. Parecia que a sorte iria mudar.

Mas poucas etapas depois, em Arenberg, tudo esteve prestes a desmoronar. Primoz Roglič sofreu um tombo, Vingegaard teve um problema mecânico e Pogačar atacou, tudo esteve a ponto de ir pelos ares, mas Van Aert resgatou Jonas e boa parte dos rivais pela Classificação Geral, ao reduzir a vantagem do Esloveno da UAE a apenas 13 segundos. O que poderia ser um desastre, virou um problema menor. Roglič perdeu 2 minutos, mas nada que desse como encerrado a ameaça para Pogi.

Nos dias seguintes, a Jumbo pressionou o Esloveno e sua equipe. Em Longwy, o líder Wout foi à fuga e esteve quase o dia inteiro escapado, forçando uma dura busca pelo pelotão e, na chegada, Roglič atacou, forçando uma resposta de Pogačar, que acabou vencendo e tornando-se o novo líder.

Nos dias seguintes, novamente pressão em Pogi. Jonas atacou forte em Belle Filles e o rival teve que ir além do limite para vencer. No dia após, Van Aert lhe bateu ao sprint. Poucos dias depois, o momento de virada.

Na etapa 12, com chegada ao Col du Granon, a Jumbo criou uma obra-prima. Isolaram Tadej e começaram a revezar inúmeros ataques com Roglič e Jonas. A equipe se juntou e continuaram a dificultar para ele, até que no Col du Granon, finalmente a corda arrebentou. Pogačar quebrou e Vingegaard venceu, colocando mais de 2’20” ao rival. Foi a primeira vez que o bicampeão do Tour teve uma crise tão grande e o manto da invencibilidade foi retirado. Sabíamos, por fim: Pogačar é humano e, sendo assim, é possível vencer.

Pelas etapas seguintes, mais golpes na confiança do Esloveno. Apesar de inúmeras tentativas e ataques, Tadej não conseguia largar Jonas. Até que, em Hautacam, mais uma demonstração de força: Van Aert, que estava na fuga, rebocou Jonas e Tadej montanha acima, largando o campeão dos últimos anos para trás. Sozinho, então, Jonas Vingegaard venceu no topo do Hautacam. Na etapa seguinte, outra vitória da equipe, agora com Christophe Laporte. A Jumbo vencia a 5ª etapa e com um Gregário. Os donos da corrida.

O que, finalmente nos traz a hoje. A última etapa onde diferenças de tempo poderiam ser feitas e onde tanto Tadej quanto Jonas queriam dar um “Coup de Morale”. Um golpe moral. Uma última chance de vencer o rival da maneira que fosse. Pogi queria sair por cima com a vitória de etapa ou terminar melhor que o Camisa Amarela. Jonas queria dizer “eu sou o campeão de direito e você não vai me vencer com facilidade”.

Sem grandes surpresas, o bicampeão mundial Filippo Ganna estabeleceu o melhor tempo com cerca de 48m41s. E após as largadas de alguns rivais,o único a bater o tempo do Italiano, pela segunda vez neste Tour, foi Van Aert. Com 47m59s, o único a fazer abaixo de 48 minutos. O Belga estava na luta pela terceira vitória de etapa, após 7 pódios nesta edição.

A batalha pela etapa só voltou a esquentar quando largaram os dois últimos. Pogačar e Jonas bateram o tempo de Van Aert no primeiro ponto de marcação. Mas Vingegaard ia muito mais rápido. Pogačar começou a perder terreno enquanto que o Dinamarquês seguia fazendo os melhores tempos. Estava claro: Pogačar não descontaria tempo do rival que estava na briga para a vitória com o colega de equipe.

No último trecho, técnico, Jonas errou algumas curvas e quase foi ao chão, o que poderia jogar tudo fora, mas manteve-se na bike para terminar em segundo, atrás de Van Aert mas à frente ao grande rival. Nada de perder na crono como em 2020. Nada de sequer perder um segundo. Ao contrário, mais rápido. Não bastava à Jumbo vencer, eles precisavam vingar-se. E hoje deram o golpe final à Pogačar. A mensagem foi clara: somos os melhores e não temos medo de você. O pesadelo e o sono perturbado agora passam para o outro lado. À Jumbo, toda a glória e com requintes de crueldade. 6 vitórias de etapa, 3 camisas e o título maior. As abelhas são donas de tudo no Tour. E não vão querer entregar nem tão cedo. Entretanto, Pogačar também não se dará por vencido. Quanto falta para o Tour 2023?

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Fotos: ASO/Pauline Ballet, Charly Lopez, Aurélian Viallate


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Domingo, 24.07.2022

ETAPA 21

PARIS LA DÉFENSE ARENA>PARIS CHAMPS-ÉLYSÉES
115,6 km / Plano

A Champs-Élysées, o tradicional ponto de chegada da etapa final do Tour de France desde 1975, será o cenário para uma dupla inédita, sediando não apenas a prestigiosa final da corrida masculina, mas também o início de um evento histórico feminino. Antes da grande final de corrida do Tour, a primeira etapa da primeira edição do Women’s Tour de France com Zwift será realizada no circuito final, no coração de Paris.

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