A 108ª edição da maior prova de ciclismo do mundo (os italianos discordam) terminou domingo passado, nos Campos Elíseos. Aqui ficam aqueles que para mim foram os destaques.

O Patrão

Ao quinto dia de prova assustou e na primeira batalha na alta-montanha sentenciou. Venceu três etapas, teve uma equipa competente a rodeá-lo e no pelotão, aos 22 anos, é o patrão.

Também é verdade que beneficiou das quedas dos adversários, principalmente daquele que era a única ameaça real, Primoz Roglic (Jumbo-Visma). Mas todos os campeões são bafejados pela famosa sorte de campeão. Não houve concorrência, os adversários pareciam juniores ao lado dele.

Em três grandes voltas disputadas na sua carreira tem este medíocre histórico: 3º na Vuelta 2019, 1º no Tour 2020 e 2021. Merckx já veio dizer que ele é o novo Canibal, num raro momento de humildade do tirano Belga.

Pódio e Top 10

VINGEGOD

Por falar em juniores, ora cá está o ciclista com a cara de um moleque de 13 anos e ainda ficamos a saber em Paris que já é pai!

Começou o Tour como gregário de Roglic e terminou como o vencedor da corrida entre os humanos. Aguentou na montanha, esteve forte na última semana e foi o único capaz de descarregar Pogacar num breve momento de fraqueza do Esloveno. Para completar é muito bom contrarrelogista, as Abelhas têm aqui um novo ciclista para as gerais das grandes voltas.

LOCOMOTORA EQUATORIANA

Chegou ao Tour como uma das esperanças para fazer comichão aos Eslovenos e sai dele a 7 minutos. É verdade que fez pódio, mas não deixa de ser pouco para o líder da Ineos.

Ainda por cima termina atrás de um ciclista que antes deste Tour era gregário na Jumbo-Visma. No entanto o pódio evita o desastre, a Locomotora não descarrilou mas terminou aos soluços.

AUSSIE

Ben O’Connor (AG2R-Citroen) só não é o digno sucessor de Richie Porte (Ineos Grenadiers) porque pelo menos consegue manter-se em cima da bicicleta. Não conseguiu o pódio, mas não teve longe e mostrou um bom nível na montanha.

A fuga que o colocou momentaneamente em segundo na Geral ajudou, mas também provou que gosta de arriscar e não se limita a ficar na roda como a maioria. Só por isso é mais do que merecido este quarto lugar.

NINJA 1.0

Wilco Kelderman (Bora-Hansgrohe) esteve em prova?

ENRIC MENOS

Entrou no Tour a dizer que queria o pódio e saiu dele em sexto, pior do que em 2020. O melhor momento de Enric Mas (Movistar) neste Tour foi quando questionado no segundo dia de descanso sobre o porquê de não atacar, ele respondeu isto: “quando ia atacar, o Vingegaard antecipou-se”.

NINJA 2.0

Alexey Lutsenko (Astana) esteve em prova?

FILÓSOFO

Aprendeu com Ben O’Connor (AG2R-Citroen), colocou-se numa fuga e graças a ela ficou momentaneamente no pódio. No dia seguinte foi descarregado numa descida e voltou para o mesmo lugar que estava anteriormente.

Guillaume Martin (Cofidis), autor do livro “Sócrates em bicicleta” deveria escrever um novo livro, a contar como é que ele conseguiu queimar um possível Top-5 devido a uma descida que nem sequer era complicada. O livro devia-se chamar “Nero em bicicleta”.

AMO-TE RODA

Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém
Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Neste raio de suruba
Já me passaram a mão na bunda
E ainda não comi ninguém!

Este verso dos Mamonas Assassinas é dedicado ao Tour de Rigoberto Uran (EF-Nippo).

Brincadeirinha, Top-10 é um resultado digno para o ‘mijitos’.

Domestiques

FORMOLO-MAJKA

Davide Formolo (UAE) nos Alpes e Rafal Majka (UAE) nos Pirenéus, foram os últimos gregários de Pogacar na montanha e desempenharam bem o seu trabalho. Endureceram a corrida nos momentos fulcrais e nenhuma outra equipa foi capaz de rivalizar com eles.

Rui Costa, Laengen, McNulty, Bjerg e Hirschi (UAE) fizerem um trabalho importante no plano e nas primeiras rampas das montanhas.

KWIATKOWSKI-CASTROVIEJO

Não foi por eles que a Ineos falhou, Kwiatkowski (Ineos-Grenadiers) esteve forte nos Alpes e Castroviejo (Ineos-Grenadiers) foi o melhor da Ineos nos Pirenéus.

O espanhol já tinha andado muito no Giro e voltou a ser um gregário de luxo no Tour.

DECLERCQ-MORKOV

Decidi destacar Tim Declercq (Deceuninck-QuickStep) porque já é tempo de merecer uma referência. É um ciclista que passa muitos quilômetros na frente do pelotão a controlar o ritmo e a rebocá-lo. Apesar de uma queda grave no meio da prova, resistiu estoicamente e terminou o Tour.

Michael Morkov (Deceuninck-QuickStep) é o melhor lançador do mundo e as quatro vitórias de Cavendish também são dele. Curiosamente nos Campos Elíseos, Cavendish fez uma de Viviani, perdeu a roda do Dinamarquês e não conseguiu vencer o sprint.

Volata

CAV34DISH

Esta é uma das principais histórias deste Tour.

Quatro vitórias de etapa e recorde de Eddy Merckx igualado. Quem dizia antes do Tour que isto era possível, era apelidado de maluco, mas a verdade é que aconteceu mesmo. No final do Tour, o lado ‘primadona’ de Mark Cavendish (Deceuninck-QuickStep) fez uma aparência e quem sofreu foi o seu mecânico.

CANHÃO MERLIER

Como no Giro, chegou, viu e venceu. O ‘melhor amigo belga de Mathieu‘ é uma máquina do sprint, tem um arranque capaz de arrancar alcatrão e por essa razão a equipe decidiu poupar as estradas francesas. Depois da vitória de etapa de Tim Merlier (Alpecin-Fenix) a aposta passou a recair em Jasper Philipsen (Alpecin-Fenix) e não voltaram a vencer.

Canivetes suíços

MISTER VERSÁTIL

Wout van Aert (Jumbo-Visma) venceu uma etapa de montanha (Ventoux), um contrarrelógio individual e um sprint puro (Paris). Este rapaz faz tudo, também é verdade que aproveitou bem a ausência do seu amigão Van der Poel e não falhou.

É o ciclista mais versátil do pelotão mundial.

ALIEN

Primeira semana de sonho para Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix), onde ganhou uma etapa, andou seis dias de amarelo, fez um contrarrelógio brutal e deu muito espetáculo. Como tinha avisado antes de começar o Tour, abandonou a prova no final da primeira semana para alivio de Wout van Aert.

MOHORISTRONG

Matej Mohoric (Bahrain-Victorious) deu continuidade ao grande momento da equipe, ao vencer duas etapas de forma brilhante. Mas isso não bastou para ele, o Esloveno decidiu ofuscar todo esse brilho com um festejo idiota, só porque a equipa tinha sido alvo de buscas uns dias antes. Colbrelli (Bahrain-Victorious) a seguir às buscas, lançou o primeiro ataque demolidor na concorrência, afirmou que as outras equipes ‘tinham ciúmes’, sim porque todos sabemos que o Sonny farta-se de ganhar, o Merckx e o Cavendish já temem pelo recorde.

E foi então que Mohoric ganha a 19ª etapa, e nada melhor do que festejar ‘à la Armstrong’. No final, estava orgulhoso e ainda disse que foi planeado, aqui em casa desde o Giro era a “Nadia Comaneci do ciclismo” depois disto passou a ser o “A versão rasca do Lance“.

Inspirado por Mohoric e Colbrelli, da próxima vez que for parado pela Polícia no trânsito, vou também protestar e dizer-lhes na cara que eles “estão com ciúmes”.

Fuga bidone

Matej Mohoric (x2) e Dylan Teuns (Bahrain-Victorious), Ben O’Connor (Bahrain-Victorious), Wout van Aert e Kuss (Jumbo-Visma), Nils Pollit e Patrick Konrad (Bora-Hansgrohe) e Bauke Mollema (Trek-Segafredo).

Ou seja, em 19 etapas (2 cronos não contam), 9 delas foram ganhas pela fuga. Isso dá uma taxa de sucesso de 47%! No Giro foram 10 de 19, isto faz com que em 2021 até o momento, das 38 etapas em linha nas grandes voltas, 19 foram vencidas pela Fuga, 50%.

Destaque também para o Rei das Fugas, Franck Bonnamour (B&B Hotels p/b KTM), que acabou por ser eleito o Super-Combativo desta edição.

Ranking das equipes

  1. UAE
    1º GC, 3 etapas, Bolinhas – Rei da Montanha, Melhor Jovem
  2. Jumbo-Visma
    2º GC, 4 etapas
  3. Deceuninck-Quickstep
    5 etapas, Camisa Verde de Pontos
  4. Bahrain-Victorious
    3 etapas, Melhor Equipe, 9º GC
  5. Alpecin-Fenix
    2 etapas, 6 dias de Amarelo
  6. Bora-hansgrohe
    2 etapas, 5 dias com a Montanha, 5º GC
  7. Ineos-Grenadiers
    3ºGC
  8. AG2R
    1 etapa, 3x Combatividade, 4ºGC 
  9. Trek Segafredo
    1 etapa, 3x combatividade, 2x 2º
  10. Astana
    1x combatividade, 1x 2º, 1x 4º, 7º GC
  11. Cofidis
    1x combatividade, 1x 2º, 2x 4º, 8º GC 
  12. B&B Hotels
    Super-Combatividade 
  13. Movistar
    2x 2º, 6º GC
  14. EF Education-Nippo
    2x 3º, 10º GC
  15. Arkéa-Samsic
    5 dias com a Camisa de Montanha 
  16. Groupama-FDJ
    1x combatividade, 1x 2º, 4x 4º
  17. Israel Startup-Nation
    1 dia com a Camisa de Montanha 
  18. Lotto-Soudal
    1x combatividade, 1x 3º
  19. BikeExchange
    1x 2º, 1x 3º
  20. DSM
    1x 3º
  21. Intermarché Wanty Gobert
    1x 5º
  22. TotalEnergies
    4x 9º
  23. Qhubeka NextHash
    3x 10º

E pronto foi isto! Se o Junimba deixar estarei de volta na Vuelta.
Au revoir.

(Fotos: A.S.O.)


Etapa Rainha é Bruno Dias, português de perto do Porto, onde equipe se escreve equipa e blefe é bluff. 🙂

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