Antes de começar esta inacreditável análise, preciso fazer uma pergunta: O que é que Fausto Coppi, Gino Bartali, Eddy Merckx, Bernard Hinault, Miguel Indurain, Marco Pantani e João Almeida têm em comum? Ok, era demasiado fácil, são lendas do Giro d’Italia.

Para quê perder tempo? Vamos logo ao que interessa.

Imperatore Primoz

Começou o Giro a dividir o favoritismo com Remco Evenepoel (Soudal–Quick-Step), o atual Campeão do Mundo e segundo os fãs, o ciclista mais inacreditável que alguma vez sentou a bunda numa bicicleta e que ao final da primeira semana já deveria ter 10 minutos de vantagem sobre os adversários. Não se pode dizer que tenha começado em grande forma, perdeu tempo no primeiro contrarrelógio, mas depois ainda durante a primeira semana foi o único da geral que fez um pequeno ataque. A segunda semana ficou marcada pela queda em que Geraint Thomas e Tao Hart (Ineos Grenadiers) também estiveram envolvidos que o deixou limitado, dizem as más línguas.

Na terceira semana começou a perder 25 segundos no Monte Bondone, São Kuss salvou-lhe a pele. As duas etapas de montanha nas Dolomitas correram-lhe melhor, distanciou-se de Almeida, mas Thomas aguentou as investidas do Esloveno. Tudo se decidiu no Monte Lussari, montanha a meia dúzia de quilômetros da Eslovénia apinhada de Eslovenos e com drama à mistura, mas no final Primoz finalmente fechou o ciclo que começou naquele contrarrelógio de agosto de 2020, na La Planche de Belles Filles.

Roglic rescreve sua história

Geraint Inoxidável

Partia para este Giro como um dos líderes da Ineos, supostamente dividia esse estatuto com Tao Geoghegaghonghan Hart, o vencedor do Giro 2020 que este ano regressou ao ciclismo depois de dois anos sabáticos. Relembrar que Thomas no Tour do ano passado foi o melhor dos terráqueos e neste Giro repetiu a façanha, só que desta vez ficou apenas a 14 segundos do alien. Com 37 anos, a ferrugem ainda não lhe pegou.

Geraint Thomas aos 37 e sem ferrugem

Almeidone

Primeiro pódio numa grande volta desde Joaquim Agostinho, juntando a isso ganhou uma etapa e venceu a Classificação da Juventude. A Jihad Tuga desta vez não tem motivos de queixa, a UAE ajudou e muito o ciclista de A-dos Francos. Esteve bem nos contrarrelógios, mas foi no Monte Bondone onde mais brilhou. Nesse dia destapou as misérias de um Roglic que recuperava da queda, parecia fadado a lutar com Thomas pela Maglia Rosa. Puro engano. Nas Dolomitas a hierarquia mudou, Roglic apareceu mais forte e Thomas defendeu-se como pôde, enquanto ioiô Almeida estava de regresso.

João Almeida terminou no pódio e de Camisa de Melhor Jovem

Ciclismo moderno

“Etapas demasiadas longas não ajudam o espetáculo. As etapas curtas são espetaculares, é full gas desde a partida.”
“A etapa foi encurtada, não havia necessidade de atacar.”
“O clima não ajuda, está sempre a chover.”
“Na segunda semana vai começar a aquecer.”
“Na terceira semana é que vai ser.”
“A culpa é da cronoescalada.”

A falta de espetáculo e os passeios pela Itália do pessoal da GC têm sempre desculpa. Foi este o resumo do ‘Giro das desculpas esfarrapadas’.

Os heróis

Mas nem tudo foi mau, temos de dar os parabéns aos heróis das fugas, que basicamente foi quem deu espetáculo durante estas três semanas.

Destacam-se três nome: Derek Gee (Israel Premier Tech), Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) e Ben Healy (EF Education-EasyPost). Derek Gee foi a grande sensação deste Giro, não venceu qualquer etapa, mas foi quatro vezes 2º classificado em etapas e foi 2º na Classificação de Pontos e de Montanha. Wout Van Aert tem aqui um duro concorrente. Thibaut Pinot também não venceu etapa, mas terminou no Top-5 da GC, venceu a Classificação de Montanha e o mais importante, humilhou Jonathan James Vaughters. Ben Healy já tinha mostrado o seu talento nas Ardenas e no Giro fez questão de confirmá-lo. Venceu uma etapa e esteve em trezentas fugas, um ciclista que sofre de hiperatividade.

Derek Gee, o mais combativo do Giro

Volata

Não houve um sprinter que tenha repetido vitória de etapa neste Giro. Sete sprinters molharam o bico, foram eles: Jonathan Milan (Bahrain Victorious), Mads Pedersen (Trek-Segafredo), Michael Matthews (Jayco–AlUla), Kaden Groves (Alpecin–Deceuninck), Pascal Ackermann (UAE), Alberto Dainese (Team DSM) e Mark Cavendish (Astana).

A Maglia Ciclamino ficou com o melhor de todos, Jonathan Milan que apesar de apenas ter ganho uma etapa, em quase todos os sprints que disputou tinha mais velocidade que os rivais, o problema era o péssimo posicionamento. A arte do posicionamento é tão importante quanto a potência e Milan nesse aspeto tem muito que aprender.

Jonathan Milan bom de velocidade, nem tanto no posicionamento

Da Eslovénia à Ilha de Man

Estávamos num dos 17 dias de descanso desta edição, a Astana e Cavendish tinham marcado uma conferência de imprensa, toda a gente sabia que era para anunciar a aposentadoria do velocista da Ilha de Man. A surpresa foi total, ele anunciou mesmo a aposentadoria. Entretanto o Giro caminhava para o seu fim e as oportunidades de Cavendish ganhar uma etapa escasseavam, acabou por sobrar para o último dia em frente ao Coliseu de Roma. Depois de uma etapa gloriosa perto da Eslovénia, onde Roglic espantou os seus demónios, nada melhor do que ver Cavendish a vencer pela última vez no Giro, a prova que o viu levantar pela primeira vez os braços numa grande volta.

Cavedish venceu a última etapa do Giro

The American Clown

O circo do Giro tinha de ter o palhaço de serviço e Jonathan James Vaughters assumiu (mais uma vez) o papel de forma brilhante. O chefe da EF que de aparência parece saído de Tiger King quis mostrar o seu lado de macho alfa, tentou defender o seu ciclista Jefferson Cepeda, que tinha sido criticado por Thibaut Pinot uns dias antes, atacou o ciclista Francês violentamente no Twitter. O sucesso foi retumbante, conseguiu a proeza de pôr Lance Armstrong a defender Franceses. Tenho de admitir, Vaughters é uma personagem com opiniões extremamente válidas e certeiras. Ou não fosse ele autor de uma das frases mais lendárias dos últimos anos: “Mark Padun é um dos maiores talentos do ciclismo moderno.”.

Fuga

Etapa 1: Crono
Etapa 2: Não
Etapa 3: Não
Etapa 4: Sim (Fuga Bidone)
Etapa 5: Não
Etapa 6: Não
Etapa 7: Sim
Etapa 8: Sim
Etapa 9: Crono
Etapa 10: Sim
Etapa 11: Não
Etapa 12: Sim
Etapa 13: Sim
Etapa 14: Sim
Etapa 15: Sim (Fuga Bidone)
Etapa 16: Não
Etapa 17: Não
Etapa 18: Sim
Etapa 19: Sim
Etapa 20: Crono
Etapa 21: Não

10 Fugas em 18 etapas (3 cronos não contam), 55,5 % de sucesso. Duas delas resultaram em fugas bidones, ou seja, um dos fugitivos vestiu a Maglia Rosa (Andreas Leknessund (Team DSM) e Bruno Armirail (Groupama-FDJ). O mais incrível é que apenas uma etapa em linha foi ganha pelos homens da Geral, João Almeida no Monte Bondone. A disputa pela Classificação Geral foi empolgante.

O milagre esloveno

O momento decisivo deste Giro teve uma personagem inesperado, o nome é: Mitja Mežnar. Quem é Mitja Mežnar? Ex-colega de seleção de saltos de esqui de Primoz Roglic. Foram Campeões do Mundo de Juniores por equipes em Tarvisio no ano de 2007, curiosamente a localidade de onde partia aquele contrarrelógio. O que fez Mitja Mežnar? Quando Roglic tem o problema mecânico no Monte Lussari, aquele homem de calções vermelhos que desceu a montanha e ajudou Roglic juntamente com o mecânico da Jumbo-Visma era Mitja Mežnar.

Como Mitja Mežnar estava ali? Ele e dois amigos decidiram ir ver a prova no Monte Lussari, Mitja Mežnar inclusive ligou para a mãe de Roglic a dizer que estava na subida. A mãe de Primoz pediu-lhe para ele não empurrar, para que o filho não fosse penalizado, conselho que ele acabou por não seguir já que para ajudar o amigo teve de o empurrar.

Mitja Mežnar ajuda Roglic

Avaliação final

Melhor etapa: 20
Melhor momento: Vitória de Cavendish
Revelação: Derek Gee
Melhor equipe: Ineos
Melhor gregário: São Kuss
Melhor sprinter: Jonathan Milan
Melhor lançador de sprint: Fernando Gavíria

Fiquem bem.
Ciao.

Fotos: LaPresse



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